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A demonização da emoção e do feminino

Atualizado: 5 de set de 2022

Da famosa GG até a aclamada Lady Whistledown, o que essas duas tem em comum? Exploram os mais profundo das emoções, fazendo-nos refletir acerca de acontecimentos e questões da sociedade enraizadas dentro de nós mesmos, que a maioria usa como desculpa para estipular um padrão comportamental ilusório. Mas por que começar algo assim, comparando duas pessoas de épocas tão diferentes? Porque pouco me parece que os valores mudaram, principalmente quando se trata de emoções – que constantemente são atreladas ao feminino (a velha e boa “coisa de mulherzinha).

A bem da verdade é que o termo “emocionada”/”emocionade” ganhou força total nos últimos dois anos. Com a pandemia, ouviu-se diversas vezes o discurso de como as emoções ficaram à flor da pele e o tempo que passamos longe uns dos outros pareceu mexer constantemente com partes de nós que, até então, “estavam de boa”. Quando foi que estivemos “de boa”? Nunca. Porque é humanamente normal confundir emoções com sentimentos e não curarmos nós mesmos daquilo que esperamos dos outros, sendo que vem do nosso mais profundo desejo de receber coisas que, na maioria dos casos, só mesmo nós podemos nos dar; a começar pelo velho e bom amor.

“Seguimos nós, mulheres, tentando nos libertar dos padrões, das velhas amarras e da sentença, há muito decretada.”

E por que esse termo “emocionada” veio diretamente para o mundo feminino? Porque, claro, ainda temos uma sociedade voltada para o lado emocional como algo meramente feminino. As emoções são constantemente rebaixadas e as mulheres, o tal dos sexo frágil e emocionado, colocado como um ser a parte, que sempre deve viver à margem de satisfazer o padrão e as velhas regras.

São os diamantes da temporada, aquelas que conseguem sobreviver dentro dos limites impostos. Sorriem para dentro, quase não mostram os dentes… Rebolar a bunda? Nem pensar! Ser mulher de negócios? Menos ainda. Papel de destaque e rebolar a bunda? Quando que essas duas atrocidades poderiam se misturar, se apenas uma já é capaz de mudar a ordem mundial de tão absurda?

Dentro ou fora do Upper East Side (salve, Gossip Girl!), sob o olhar de aprovação ou reprovação de Vossa Majestade, a Rainha… temos as redes sociais que, com ou sem pandemia, trouxe à tona os verdadeiros emocionados.

A verdadeira “emoção” está em controlar o tempo inteiro a vida alheia como um Big Brother, que nunca flopa (ao contrário da última edição do reality). Gera um burburinho enorme e quase sempre tem consequências graves físicas ou psicológicas, porque os emocionados adoram usar o discurso de: “atura ou surta”, “postou, agora aguenta”… como se fosse regra básica de um manual de sobrevivência bizarro numa selva tecnológica engolir, de uma vez por todas, os boçais.

Então voltamos os nossos olhos novamente aos relacionamentos que “flopraram” porque “fulane (em geral, vem acompanhado de pronome ou nome feminino) era “muito emocionade(a)”. E se “Orange is the new black”, “Fulane(a) é emodionade(a)” é o novo “não tenho responsabilidade emocional alguma e odeio me comprometer com aquilo que eu mesmo crio, então é mais fácil culpar o comportamento do outro porque eu mesmo não sei me comportar ou me tratar”.

O ser humano tem uma tendência ilógica de culpar o outro por aquilo que ele não resolve em si, então desconta e resolve no outro. E no que diz respeito à sociedade, com o comportamento masculino tendo 10 advogados para defender, enquanto 20 juízes condenam as ações femininas, ser “emocionade(a)” é mais um pecado capital, é ilegal, é imoral ou engorda (já dizia Roberto Carlos).

Enquanto isso, seguimos nós, mulheres, tentando nos libertar dos padrões, das velhas amarras e da sentença, há muito decretada, de ser aquela velha opinião formada sobre tudo.

Eu queria encerrar dizendo alguma coisa boa sobre emoções e sentimentos, mas, mediante aos acontecimentos cansativos que com os quais somos bombardeadas, só o que eu consigo pensar em dizer agora é: um salve a todas as emocionadas cujos sentimentos e emoções se afloraram, se afloram e vão se aflorar… afinal, ser humano implica um pouco ou muito de cada coisa e nada implica engolir padrões para viver como manda o figurino. O look do momento é ser aquilo que se é e ponto.

Que assim seja.
 

Matéria de Marianna Roman para a coluna Empoderamento Feminino

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