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Desromantize o Dia das mães nas escolas.

Atualizado: 15 de jan de 2023

Opa! Cheguei para gerar aquela polêmica necessária. Mas antes farei um pedido, abra seu coração e entenda os meus argumentos.

Fui criada por pedagogos. Meus pais sonhavam com a escola ideal, perfeita para pais e filhos. Tinham uma visão educacional diferenciada para a época, escandalizaram muita gente, mas eu acho que Deus nunca foi tão bom com seus filhos quanto foi comigo e com meus irmãos, porque esse olhar diferente me fez enxergar o que muita gente ainda não conseguiu tantos anos depois.

Vou defender todos os lados aqui, então não se sinta oprimida. Não é esse o momento, mas chegará. Vamos falar sobre o Dia das Mães nas escolas, mas inclua aqui o Dia dos Pais também, afinal de contas, é a mesma base.

Quando olho para a direção da criança, e eu já estive neste papel, acreditem, qualquer dia de apresentação na escola é constrangedor. Eu penso que algumas crenças limitantes e sentimentos ruins nascem daí. Começa pela escolha das crianças que vão apresentar, ou quem ficará na frente, ou qualquer outro modo utilizado para fazer com que alguém naquela turma se sinta inferior. Os adultos com certeza esquecem de como foi esta época para eles, ou, se formos pensar de uma forma mais cruel, se aliviam em passar o sofrimento para o próximo.

Eu achava horrível. Nunca fui a aluna mais bonita, nem a mais inteligente, nem a mais sociável, esta é a verdade. Eu nunca era escolhida para ser a principal e odiava quando meus pais precisavam dedicar uma manhã do seu dia para me assistirem ser uma coadjuvante. Isso quando meus pais podiam comparecer. A maioria não consegue. Vai uma tia, a irmã, uma amiga, a babá. É devastador.

Voltarei a criança, mas antes preciso falar da mãe.

Lembra que no artigo anterior eu disse que conversaríamos sobre esse dia em dois artigos? Pois é. Esse é o segundo. No primeiro eu fiz questão de mostrar que ser mãe é lindo, porque é e eu, vou repetir um milhão de vezes, aguente, amo. Mas neste aqui eu vou te dizer porque você não deveria concordar com o Dia das Mães nas escolas, coisa que as escolas de ensino tradicional ainda sustenta, mas, na verdade, é tão ultrapassado!

Vamos lá. Eu sei, eu sei, você ficaria emocionada em assistir seu pequeno pedaço de gente em uma apresentação criada, pensada e ensaiada exclusivamente para que ele possa dizer o quanto te ama. Você quer esse momento, quer as fotos, quer filmar e mostrar para todo mundo. Ainda lembro do meu primeiro Dia das Mães como mãe em um escola do meu filho. Eu chorei e só porque era o meu primeiro Dia das Mães, não houve nada além do que já sabemos que acontecerá.

No ano seguinte recebemos um bilhete da escola perguntando as mães se elas não se importariam se não comemorássemos o Dia das Mães na escola naquele ano. O motivo? A mãe de um dos coleguinhas do meu filho havia falecido pouco antes. Eles não queriam que a criança sentisse aquela tristeza. E eu entendi que aquele tipo de comemoração era desnecessário. Foi o meu bater de martelo.

Mas no ano seguinte, graças ao universo, coloquei meus meninos em uma escola construtivista e nesta não existia Dia das Mães, nem dos pais, nem da avó nem nada disso. Em conversa com a coordenação da escola ouvi todas as justificativas, apesar de não ter questionado, mas sou grata por tê-las recebido, por terem abolido essas comemorações. Algumas crianças não possuem mães, morrem, sumiram no mundo, não querem ser mãe, não importa, o que importa naquele momento é que ela ou será excluída do festejo, ou terá que encarar algo cruel para uma criança.

Algumas família são constituídas por dois pais, duas mães, por avós, só pelo pai ou só pela mãe, e como mães, em nome daquele amor que juramos sustentar de forma incondicional, precisamos normalizar isso. Uma criança não precisa de festa na escola para dizer que ama a mãe, e nem precisa encarar uma plateia só para saber que não tem uma mãe para amar. Além disso, algumas mães sequer conseguem autorização da empresa para estar presente neste dia, já pensou como é para aquele filho?

Quando eu entendi isso foi como se tirassem um peso das minhas costas. Eu pensei: E se fosse o meu filho? E se eu, por algum motivo, não conseguisse estar presente. E se eu nunca mais pudesse estar presente? Como seriam estar na escola na semana de preparação para o Dia das Mães? Eu sinto vontade de chorar só de pensar nesta possibilidade.

Então eu digo: desromantizem o Dia das Mães nas escolas. Festeje em casa, com a família pois é o seu direito. Eu faço isso, quero tudo o que mereço neste dia, mas com os meus, em nosso mundo, dentro do que podemos fazer. Eu não preciso criar uma dor em ninguém para ter o meu dia. Até porque, me disseram que isso é ser mãe. É acolher, amar e libertar.

Pensem nisso.

Tatiana Amaral escreve para a coluna Maternidade