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Ela me falou o que quer

Por Marianna Roman

Com o tempo, vocês vão perceber que a maioria das minhas histórias acontecem num bar, na varanda de casa ou na areia da praia. Às vezes, pode ser que seja também na cama ao lado de alguém que me faz questionar uma série de coisas na minha cabeça, que não consigo desligar.

Que atire a primeira pedra quem nunca conseguiu parar de pensar nos boletos, enquanto tentava curtir a hora “H”. Mas o fato curioso é que toda vez que eu falo o que eu quero, o que eu penso ou que gosto… pareço atingir um outro nível no planeta. Saio do status de ser humano e chego ao status de alien. É comum a sensação de estar presa e condicionada a uma realidade que todos vivem e onde todos parecem ter sido condicionados a ações e pensamentos que, no decorrer dos dias, nos levam pra longe daquilo que somos e acaba nos tornando brilho, resquícios do que gostaríamos de ser.

Essa busca pelo que se quer ser, pensar e a concretização de cada ação, passa por estágios que a maioria não vê.

“Que atire a primeira pedra quem nunca conseguiu parar de pensar nos boletos, enquanto tentava curtir a hora “H”.

Às vezes nem nós mesmos. E quem entende mais disso que nós, mulheres, as condicionadas a viver dentro do padrão do “aceitável”? É então que percebemos o quanto é difícil lidar com os demais a cada vez que contrariamos as “condições normais de pressão e temperatura” e nos colocamos como donas da nossa própria vontade, da nossa própria vida e ela não precisa estar ligada a nada nem a nenhuma coisa, só mesmo a nós e ao fato de que temos, como todo mundo, gostos, manias, nojinhos, pensamentos felizes, pensamentos tristes. Perceber que a sinceridade, a transparência, o que é, de fato, comum, se tornou assustador… me assusta muito mais.

Eu disse: “eu me masturbo pensando em você” e ele ficou em silêncio. E se eu bem o conheço já sabia que a resposta ia ser o silêncio mesmo. Então eu não me senti na obrigação de torna-lo um deus por isso – pudera, ele não era mesmo, nenhum homem é; mesmo que a maioria pense ser. Apenas tornei aquilo uma informação, um causo, algo que eu quis dividir porque o meu prazer passou pelo prazer da companhia dele e eu transformei isso num ato gostoso, onde eu posso ser e fazer o que quiser – afinal, o pensamento é meu.

Quando a resposta finalmente veio, ele primeiro ficou chocado porque jamais imaginou que fosse ser objeto desse tipo de coisa – o que me lembrou de como alguns homens na verdade, são frágeis e é uma pena que tenha quase sempre um grande medo de admitir isso e se tornem imbecis, abusivos, agressores, assassinos – depois percebi que, à medida que ele respondia , uma mulher se expressando acerca de suas vontades gera no homem uma coisa de querer tomar as rédeas da situação mesmo que inconscientemente.

Era como se, além de tudo, a sinceridade e o fato da mulher ser mesmo dona de si o assustasse tanto que não cabia dentro daquela situação. Afinal, o homem é o provedor, a segurança, o pilar. A mulher precisa ser salva e protegida.

“Uma mulher se expressando acerca de suas vontades gera no homem uma coisa de querer tomar as rédeas da situação mesmo que inconscientemente. “

Mas quase ninguém conta que a princesa, na verdade, sempre salva a si mesma e faz das tripas, coração para salvar também os outros. Mas, claro, precisa sempre ouvir como é frágil e como faz um esforço além do normal para viver. Simplesmente viver. Então precisa sempre viver às margens, à sombra de algo ou alguém. Quem se posiciona dificilmente agrada, dificilmente não vê o outro tentando tomar o protagonismo, não vê o outro tentando se colocar em cima de uma história que não é dele.

As mulheres estão sempre “precisando” dizer o óbvio para que saiam do status “alien” e finquem bandeira no status “humano” porque as vontades, os gostos, as manias… são comuns a todos e a divisão de gêneros é que, na verdade, ultrapassou as barreiras do aceitável. E não se calar diante do que ofusca – mesmo que canse – deve ser sempre o pilar, o tal do pilar que os outros tentam nos oferecer. Nós já o temos e nós já o somos.

Matéria de Marianna Roman para a coluna Empoderamento Feminino

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