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Lições (básicas) de liderança

Atualizado: 29 de dez de 2022

Eu era uma jovem administradora querendo mostrar trabalho e recebi a missão de atender ao pedido da alta liderança, acima do chefe do meu chefe, de fazer um jornalzinho de notícias para promover o endomarketing da nossa área, que tinha unidades espalhadas em todo o Brasil.

Hoje em dia, não faltam recursos, como mídias sociais e ambientes colaborativos, para promover integração e trocas, mas, naquela época, a forma mais moderna de compartilhar informações e boas práticas entre os diferentes departamentos da empresa era através de revistas e jornais internos.

Como toda grande empresa, havia uma área especializada em Comunicação Institucional e Interna, que, pela própria natureza e abrangência de sua atuação, não conseguia trazer a proximidade que a nossa liderança desejava, que ansiava por um canal voltado exclusivamente para a nossa unidade de negócio.

O meu trabalho então era contatar todas as unidades, estabelecer uma sistemática para recebimento de informações e estruturar num jornalzinho de 4 páginas para circulação mensal, com seções com eventos nas unidades, lançamentos, entrevista curta com líderes da área, etc. Tudo produzido com um fiel estagiário muito habilidoso no coreldraw.

“Um líder não se esconde atrás da equipe. Um líder assume seus erros, afinal, errar não é vergonha, não é demérito, é fonte de aprendizado.”

Aprovamos o layout com a liderança, depois o mockup da primeira versão e o orçamento para produção em gráfica. Em poucos dias, já tínhamos nas mãos a primeira edição do nosso jornal.

Não faltaram elogios para o trabalho final. A “coroação” foi recebermos a orientação da nossa liderança de distribuir o jornalzinho aos departamentos além da nossa unidade de negócio. Assim, no dia seguinte, o jornalzinho estava nas mesas dos líderes de todas as áreas da empresa, inclusive, do executivo de Comunicação Institucional e Interna.

Os elogios não paravam de entrar na minha caixa de mensagens e do estagiário e resolvemos imprimir e arquivar na pasta do “projeto”. A empresa usava impressora matricial, de uso coletivo, e todos do setor enviavam para o mesmo terminal as suas impressões. O estagiário ficou de plantão no terminal para retirar as nossas.

Estava catalogando as mensagens quando me deparei com uma que ainda não tinha lido. Era do chefe do meu chefe. Ele respondia a uma mensagem de insatisfação do executivo de comunicação por ter criado um jornal interno, com circulação para todas as áreas, sem prévio alinhamento com a área dele. Nosso líder-mor justificava que era para ser apenas um material interno e que “ocorreu um erro por empolgação da equipe que desenvolveu o material”.

Fiquei chocada ao ler essa mensagem, até tremia, pois eu mesma havia questionado a ele se não seria o caso de submeter o material à área de Comunicação, antes da publicação, recebendo a resposta de que não era necessário. Além disso, tinha sido dele a orientação para distribuir às outras áreas. Mas, naquele momento, ele simplesmente preferiu se esconder atrás da “empolgação” da equipe.

Senti vontade de ir até a sala dele com aquele papel na mão, mas, como a mensagem não era minha – e eu tinha lido por um equívoco -, devolvi à impressora e nunca comentei sobre isso. Assim como nunca mais confiei naquele líder.

O fato é que dias depois ele mandou descontinuar o jornalzinho e me indicou para um projeto mais relevante.

Você pode estar se perguntando por que eu estou compartilhando essa longa história e eu vou dizer que ela traz muitas lições.

Primeiro, que um erro não justifica o outro. Não era porque aquele líder havia errado comigo que eu tinha o direito de usar sua mensagem não dirigida a mim para confrontá-lo, mesmo que houvesse justificativas plausíveis para eu ter lido achando que era nossa.

Segundo, que temos que focar em quem é o cliente. Ele, atendendo ao chefe dele, tinha pedido o jornal. Ele tinha gostado do resultado e o chefe dele também. Cliente atendido.

Terceiro, que tudo é dinâmico e que fatores externos podem mudar o rumo das decisões, como aquela mensagem mudou a decisão do nosso líder. Simples assim.

E por fim, a mais importante para mim: um líder não se esconde atrás da equipe. Um líder assume seus erros, afinal, errar não é vergonha, não é demérito, é fonte de aprendizado.

Um líder não sabe tudo, não acerta em tudo, mas precisa, acima de tudo, zelar pelo seu time. Fazer o time de escudo não é a postura adequada, e se o time percebe isso, começa a se proteger, não assumindo riscos, não expondo ideias, não sinalizando dificuldades. Isso vai minando o potencial aos poucos.

A confiança é fundamental para o sucesso de uma equipe, e ela emana dessa relação entre líder e liderados. Quando a equipe percebe que o líder se coloca como parte e assume erros e acertos como impulsionadores da melhoria da performance, se sente segura para dar o seu melhor.

Como diz Simon Sinek, autor do livro “Comece pelo porquê”, “líderes não cuidam de resultados. Líderes cuidam de pessoas. E pessoas geram resultados.”

Eu assino embaixo mil vezes.

Érica Saião para a coluna carreira

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