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Mais que chuchu na cerca

Atualizado: 28 de out de 2022

Dia desses, enquanto eu fazia meu cabelo no salão, ouvi uma conversa entre minha cabelereira e sua amiga que estava por lá. Na conversa, elas falavam a respeito de uma amiga em comum que, de acordo com suas palavras: “estava dando mais que chuchu na cerca”, em tom desdenhoso, ofensivo.

Apenas continuei ouvindo e engolindo meus palpites.

Conversa vai e conversa vem, elas começaram a falar sobre mulheres famosas que também seguiam o mesmo estilo de vida, faziam sexo com diferentes homens a cada semana. No entanto, o timbre usado dessa vez, deixava a entender que essas famosas eram sortudas, mulheres empoderadas e livres. Foi quando me intrometi. Em um tom debochado perguntei se aquela amiga em comum também não era “sortuda”, já que ela só estava desfrutando da mesma liberdade que a famosa.

Meio sem jeito, uma delas respondeu que essa amiga estava ficando mal falada e mal vista pelo bairro. Eu juro que fiquei sem entender. O que separava a famosa da outra garota?

Por que a famosa era aplaudida e elogiada e a outra criticada e insultada? Infelizmente o fato de uma ter fama e status e a outra não, a tornava alguém de respeito pelos olhos da sociedade.

O grito de liberdade não tem preço, cara, cor e raça. As duas possuem o mesmo direito de se libertar sexualmente. Se quiserem transar mais que chuchu na cerca, podem.

Devemos mudar esse pensamento escroto de que a mulher é vagabunda por se relacionar com vários em uma noite. Ela é uma mulher de mente aberta, segura de si e da sua sexualidade. Ela quer experimentar tudo que tem direito.

Ainda no salão, a outra disse que “nenhum homem iria querer casar com uma mulher que já esteve em várias mãos”. Como se ter um estilo de vida livre, a inferiorizasse. Esse é só mais um pensamento machista que ultrapassa as paredes daquele salão. A questão é, por que um homem que esteve com várias mulheres, é digno de casar, mas a mulher que esteve com vários homens, não?

Aqui o preconceito vai além de dinheiro, ele vem de padrões antigos, onde homens são vistos como pegadores quando transam com várias em uma noite. E a mulher quando começou a se apropriar do direito de fazer o mesmo, foi vista como promíscua – à ofensas mais baixas. Como se o fato de ser bem resolvida, segura de si sexualmente, a incapacitasse de ter filhos ou de ser casada futuramente. Como se ela gozar todo dia, sem compromisso, fosse um problema.

Não é.

Impor limites a uma mulher de transar, é como se disséssemos que o homem tem o direito de tomar café da manhã todo dia, mas a mulher não. É restringir suas necessidades e encoleirar seus desejos.

Mulheres têm as mesmas necessidades sexuais que os homens. Se ela chegar do trabalho estressada e quiser aliviar o estresse, não pode? Tem que arrumar um marido para isso?

A verdade é que ainda vivemos em uma sociedade com pensamentos conservadores, onde carregamos o fardo de ter que ser a “Santa”, “pura” e “frágil” e tudo que foge disso, é reduzido à “puta”, “cachorra” e “vadia”.

Cara leitora, não transforme a fantasia da sociedade, na sua fantasia. Você é livre para dizer sim a quem quiser e quando quiser. Se a futura pessoa com quem você decidir se relacionar, se sentir ameaçada/intimidada pelo estilo de vida que teve antes dela, então o problema está nela. Não em você.

Ela é grande o suficiente para entender que, pasmem: você era solteira e que as aventuras sexuais que ela teve, você também pode ter colocado em prática.

Ou ela pensou que ter transado na rua, no carro, ter feito ménage, suruba, era uma ideia exclusiva dela?

Transe o quanto quiser.

Com quem quiser.

Do jeito que quiser.

Goze onde estiver.

Ninguém tem nada a ver com isso!

R_Christiny escreve para a coluna Papo de Bordel

Encontre-a no Instagram @r_christiny