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Mulher não tem um dia de paz

Atualizado: 15 de jan de 2023

Amigas, nos meus últimos artigos aqui em nosso espaço, tenho debatido coisas impossíveis de ignorar e que, mesmo atrapalhando a minha vontade de falar sobre as loucuras ao lado de crianças, sou obrigada a tratar porque não é sobre uma, duas ou algumas mulheres, mas sobre todas nós.

Vamos falar outra vez sobre violência obstétrica – ou abuso de vulneráveis, como escolherem tratar –, mas o fato é que, outra vez, e ainda não sabemos quantas vezes, alguém roubou de uma mãe o prazer do nascimento do seu filho. Alguém, certamente senhor de todo o poder, achou que emporcalhar esse momento sublime era algo justo, digno e, acima de tudo, justificável.

Não, eu não trarei aqui a complexidade da mente humana, nem direi nada a respeito do abusador – isso não faz parte da nossa coluna. Só pedirei licença para dizer a vocês o que eu penso: não tratem como doença. Abusar de uma mulher não é doença, na maioria dos casos. É, sim, o que falei diversas vezes: a necessidade de se sentir superior, de subjugar alguém e de abusar do poder que colocam em suas mãos. Por isso, na maioria das vezes o abusador é homem, fruto de uma sociedade machista, e já contei sobre a nossa importância nesse papel no artigo anterior.

Mas vamos lá. Todos que já me acompanham por aqui leram meus artigos sobre a violência obstétrica, de quando começa e do quanto precisamos pará-la.

Então hoje eu quero falar sobre o seu direito, para que você saiba como se defender e fazer com que os ladrões desse seu momento, que deveria ser sensacional, paguem por isso.

Em primeiro lugar, é lei no Brasil que uma parturiente tenha uma acompanhante. Eu tive nos meus dois partos. Não abri mão. Então saiba: não é uma decisão do médico, da enfermeira, muito menos do anestesista. É o seu direito, exija – e se lhe negarem, preste queixa imediatamente. Seu acompanhante é quem garantirá que tudo possível será feito por você e pelo seu bebê, pois você estará em uma posição vulnerável e incapaz de se defender.

Vou te contar uma coisa bastante pessoal. No meu último parto, após o nascimento do meu filho, minha irmã continuou no centro cirúrgico comigo. Ela não acompanhou meu filho porque me deixaram nua, sem os movimentos das pernas, sobre uma mesa gelada e sem qualquer tipo de cobertor ou algo que me desse uma posição mais digna. Em determinado momento, um médico entrou no centro cirúrgico. Por qual motivo? Não sei dizer. Mas ele entrou. Repito, eu estava nua na mesa. Você pode dizer que é normal, que médicos já estão acostumados… Sinceramente? Dane-se. Eu não estou acostumada a ficar exposta em uma mesa de ferro, nua, pronta para quem quiser me conferir. Para mim, foi terrível, humilhante e constrangedor. E, lógico, não estou acusando o médico de nada. Ele entrou, olhou para mim, depois para minha irmã, foi até um armário, retirou algo de lá e partiu. Mas e se minha irmã não estivesse lá?

Por isso, exija o seu direito a uma acompanhante. Outro detalhe: existe um espaço destinado para cada profissional, isso é explicado antes da cirurgia. Desta forma, o acompanhante sabe por onde pode se locomover sem atrapalhar a equipe. E o local onde o anestesista fica é permitido. Minha irmã esteve comigo muito tempo nesse local, até que a médica disse que estavam retirando o bebê.

Outra coisa que digo a vocês é que, neste século em que vivemos, contamos com todas as armas possíveis para nos livrarmos desses abusos. A primeira e mais importantes delas é o celular.

Amigas, o celular é um computador potente em suas mãos. Sem precisar de muito conhecimento, você ativa o gravador de voz, a câmera, faz chamadas ao vivo e pede socorro à polícia; ou seja, você tem tudo para inibir quem deseja despedaçar o seu momento sublime, que é o nascimento do seu filho. E não foi assim que as enfermeiras – viva essas mulheres incríveis! – conseguiram pegar o tal agressor?

Peça a seu acompanhante para filmar, gravar a voz ou qualquer coisa do tipo. Garanta o seu direito. Não permita que pessoas com problema de superioridade estraguem o seu momento desta forma, que por si só já é terrível, ou de qualquer outra, como quando dizem “na hora de fazer não chorou”. Tudo isso é prova para que esses “profissionais” paguem pelos seus erros.

O parto é sublime, não importa o tipo de parto. Ele é aquele momento único em que você é apresentada a seu filho, confere o seu rostinho, pode contar os dedos – sim, fazemos isso. Em que conferimos as semelhanças. É nosso, é único e ninguém pode tirar isso de nós.

Bom, acho que desabafei, mas a ideia é essa, não é?

Tatiana Amaral para a coluna Maternidade