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O corpo que habito

Atualizado: 5 de set de 2022

No mês de março, como todas sabemos, temos o Dia Internacional das Mulheres para relembrar a importância da luta pela equidade de oportunidades e direitos independente do gênero, raça, classe social ou deficiência. Sim, este ano também falamos sobre a vida de mulheres com deficiência e, para minha surpresa, o tema tem conseguido alguns espaços de fala bem interessantes.

Claro que mudanças levam tempo, mas nada impede que a gente comemore as pequenas vitórias no dia a dia. Ver companheiras sendo convidadas para lives, palestras e eventos de pauta feminista dá a esperança necessária para continuar enfrentando as dificuldades que teimam em surgir no caminho. Porque a sociedade ainda tem muito o que aprender.

Aliás, todos temos.

O capacitismo, preconceito contra pessoas com deficiência, é um tipo de opressão que está ancorada na ideia normativa de corpo saudável, hábil e capaz de fazer parte da sociedade de forma colaborativa. A deficiência, portanto, age desumanizando o indivíduo, fazendo com que permaneça isolado e ausente da participação social.

“À medida que fui entendendo o que é ser uma mulher com deficiência em nosso país, tive condições de auxiliar outras companheiras de luta”

São pensamentos que colocam em dúvida a capacidade de realizar qualquer atividade, sabe? É o que faz presumir que uma mulher surda não poderia ter filhos, pois não iria escutar o choro do bebê, ou questionar as competências de uma profissional com autismo, por exemplo.

Houve um tempo em que também desacreditei de mim. Ficava aquela voz na cabeça dizendo “você não vai conseguir fazer isso por causa da sua deficiência”. Um sussurro baixo, mas forte o suficiente para me paralisar. Não sei dizer com precisão quando as coisas começaram a mudar, até porque nem sempre conseguimos capturar o tempo exato em que a ficha caiu.

Mas, aos poucos pude confrontar essa voz e, em alguns casos, compartilhar com outras mulheres que também se viam nessa situação. Meu corpo foi deixando de ser uma prisão, para se tornar meu lar. É impressionante como nos sentimos mais fortes, quando somos acolhidas, não é mesmo?

Parece difícil falar assim, porém nem todo processo de amadurecimento é fácil. O meu não poderia ser diferente. À medida que fui entendendo o que é ser uma mulher com deficiência em nosso país, tive condições de auxiliar outras companheiras de luta, de trazer mais aliadas sem deficiência para nossa causa e fazer uma pesquisa sobre o tema.

Como disse, nem sempre veremos as mudanças estruturais que gostaríamos, contudo podemos ganhar fôlego enquanto nos empenhamos em realizá-las. É nos pequenos encontros, em conversas despretensiosas, trocas de conhecimento que podemos tecer novas formas de habitar nossos corpos e encontrar conforto em nossa pele.

Acredito que ser mulher é ser ponte, uma amparando a outra para que todas realizem suas jornadas. Por isso, feliz nova era das mulheres!

Fatine Oliveira para a coluna Corpos sem filtro

Encontre-a no Instagram @fatine.oliveira