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O sexo após o parto

Atualizado: 15 de jan de 2023

Tenho certeza de que esse assunto te pegou daquele jeito. Como mãe de três sei que sexo depois de um parto é algo sobre o qual precisamos conversar.

Independente do tipo de parto escolhido, a insegurança surge no momento em que nos olhamos no espelho e percebemos que nada é como antes. Os seios estão imensos, a barriga demora a desaparecer, se desaparecer, você tem leite que jorra e te deixa com um cheiro duvidoso no meio da noite. Você sangra bastante nos primeiros dias, uma menstruação que parece nunca acabar, e para tudo isso o médico te pede quarenta e cinco dias para que seu corpo esteja pronto para o sexo.

Para as mulheres, no geral, vem a cobrança. Tanto do lado de fora, as famosas palpiteiras, quanto dentro, afinal de contas, você quer transar também. Já conversamos sobre o seu corpo pós-parto, mas aqui vai além disso. Você quer se sentir bonita, desejada, quer ter a certeza de que nada ficou fora do lugar, que o sexo ainda funciona entre vocês. E como saber se funciona se desta vez você tem leite nos seios e estes estão mais sensíveis do que em qualquer outro momento? Sem contar que, se for sua opção, essa situação pode durar até dois anos. Você vai dividir a fonte de alimento do seu filho com uma pessoa que antes enxergava como a fonte dos desejos dela?

“A verdade é que cada corpo, cada mente, entende o seu momento. Uns duram mais, outros duram menos os cuidados e a certeza de que sim, chegou a hora de recomeçar.”

E como saber se será legal se desta vez você tem um útero sensível, uma vagina costurada, em caso de partos vaginais, ou uma cicatriz que você pode encarar com orgulho ou pavor, bem na região onde você quer maior atenção?

Além disso, existe o cansaço normal de um dia inteiro dedicado a uma criança que não tem horário para comer, fazer suas necessidades, dormir e tudo aquilo que provavelmente você já sabe. O fato é: você estará cansada, ainda que disposta. E com a certeza de que comprometerá ainda mais o seu sono pois acordará no meio da noite, algumas vezes, para atender as necessidades do seu filho.

É difícil, não é mesmo? Quarenta e cinco dias depois, tudo aconteceu na sua casa e ainda assim você tem medo do sexo, do seu corpo, de como se sentirá e de como o outro lado tratará disso. Você não quer se sentir rejeitada e isso confunde todos os nossos sentidos. Então vamos lá. Vou desromantizar o sexo pós-parto.

As mulheres por serem ensinadas a serem competitivas, costumam fazer disso uma disputa, e se você está naqueles fóruns para mamães, com certeza vai se sentir péssima após alguém relatar que não conseguiu cumprir os quarenta e cinco dias. Minha mãe já dizia: cada doido com sua doideira.

Primeiro de tudo, pense muito em você. Sexo não é uma obrigação, muito menos uma disputa de egos. Sexo é íntimo, é conforto, é querer, é química e respeito. Se você e seu parceiro se sentiram confortáveis para transar antes do tempo estipulado, de verdade, existem o risco, seu corpo está frágil, sensível e aberto para infecções e complicações, vale a pena pular as etapas?

A verdade é que cada corpo, cada mente, entende o seu momento. Uns duram mais, outros duram menos os cuidados e a certeza de que sim, chegou a hora de recomeçar.

E só você saberá a resposta.

Esses dias eu aprendi uma coisa que amei tanto que carreguei para a vida: Deus é tão educado que fala com a gente quando nós calamos. Não é perfeito? A máxima vale para você mesma. Sua mente seguirá a mesma orientação, uma vez que Deus habita em você. Quando em silêncio buscamos as respostas do nosso corpo, ouvimos nossa alma.

É assim que aprendemos a entender o que de fato é nosso, a nossa vontade e necessidade, e o que é dos outros, as quais não precisamos acatar, ou passar por cima de nós mesmas para atender a vontade de quem sequer faz parte da relação. Então sexo pós-parto exige tempo e espaço como tudo o que vem na bagagem de um filho.

E agora eu vou te contar a minha experiência, porque se escrevo esta coluna, é porque sei o que vivemos e estamos aqui, nessa conversa tão real, juntas. No meu primeiro filho eu fiquei mega insegura. Já contei que tenho três filhos e em algum momento das nossas conversas revelei que meu primeiro filho já chegou pronto, ou seja, ele veio no pacote chamado “casamento com um homem que tem um filho”, mas essa é outra história que com certeza conversaremos aqui.

Então o primeiro filho que gerei e pari foi o meu segundo filho na contagem das crianças pelas quais assumi essa loucura que é ser mãe. Junto com esse filho veio toda a insegurança de não ser para o meu marido o que um dia ele viveu com outra pessoa. E vou ser sincera, não foram legais comigo. Todas as pessoas que conviveram com o antigo casal, em especial as mulheres – não sejam essas pessoas – fizeram questão de me contar que “eles”, o antigo casal, não respeitaram o resguardo e eu sei, você está pensando o mesmo que eu: que droga, hein? Pois é.

“Sexo não é uma obrigação, muito menos uma disputa de egos. Sexo é íntimo, é conforto, é querer, é química e respeito."

Não vou dizer que eu era nova, mas eu era infantil ao ponto de me cobrar isso. Eu queria estar pronta para qualquer momento, estava disposta a violar meu corpo, não por necessidade e sim por acreditar que precisa atender esta necessidade do meu marido. E aqui eu digo: cara, eu casei com um homem incrível! Foi meu marido quem me fez enxergar que nada disso era real, que não funcionava assim e que ele queria respeitar meu corpo, meu limite, minha saúde.

Eu estou dizendo que quem não cumpre o resguardo está errado? Não. Ainda estamos naquela de “seu corpo, suas regras”, morrerei dizendo isso. Mas eu estou querendo te fazer enxergar que você não precisa pular etapas. Você não precisa estar magra em quarenta e cinco dias, com a vagina perfeita, nem com a libido no ponto exato dos livros eróticos – os quais eu escrevo com muito orgulho. Leiam. – O que você precisa é se ouvir, se conhecer, conversar muito com seu companheiro ou companheira e fazer disso uma coisa muito legal.

E para desromantizar de vez o sexo pós-parto: para muitas mulheres exige paciência, porque dói, pode ser desconfortável, pode não ser gostoso e no final das contas como você se sentirá, uma pessoa realizada ou uma pessoa que realizou algo para alguém?

Mas vou fechar com uma dica para as mamães que precisam se redescobrir após o parto: sexo não é o ato em si. Durante a espera dá para fazer muita coisa legal se você estiver de fato com disposição. Vá no seu tempo. Vocês agora são mais do que dois e precisam compreender, aceitar e curtir cada momento.

Tatiana Amaral escreve para a coluna Maternidade