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Solte a corda

Atualizado: 22 de ago de 2022

Falar sobre relações tóxicas não é difícil hoje em dia. Pelo menos não na internet. Se fala tanto, que “tóxico” já se tornou uma palavra quase sem sentido. Banal.

O ponto em que quero chegar é que, é fácil compartilhar uma publicação nos stories do Instagram sobre toxicidade e abusos de diferentes tipos e sobre o quanto isso pode prejudicar alguém e blá blá blá.

Mas sair de um relacionamento tóxico, na prática, não é fácil. Ainda mais porque ele pode não ser tão escancarado assim.

Vamos falar sobre homens pacífico-manipuladores. Nunca ouviu esse termo? Então, acho que acabei de inventá-lo.

O pacífico-manipulador é aquele cara que te elogia, te dá chocolate, rosas, te leva pra jantar, frequenta a casa dos seus pais, fala em ter três filhos e um cachorro com você e… te trai. E pior: te faz acreditar que a traição não é nada perto do quão carinhoso ele é. Mas a verdade é que o que você deveria enxergar é o oposto disso: o carinho de torna algo insignificante quando ele não vem acompanhado de respeito.

Isso fez algum sentido pra você? É claro que fez. Eu sei do que estou falando. Já topei com gente assim.

“Sair de um relacionamento tóxico, na prática, não é fácil. Ainda mais porque ele pode não ser tão escancarado assim.”

É aquele que diz “eu te amo” a cada minuto, te liga todos os dias, te abraça tão forte como se você fosse o diamante mais raro do universo e… te deixa sozinha pra sair com os amigos mesmo depois de muitos dias sem te ver.

É aquele que chega em um ponto tão crítico que quer terminar, mas se não der certo na farra, te quer de volta.

É aquele que te faz ir dormir chorando todas as noites, mas que você não larga por medo de ficar sozinha. Por medo do que os outros vão dizer ou pensar. Por medo de nunca encontrar alguém tão bonito quanto ele. É aquele que te traz paz só quando convém a ele e que inferniza a sua vida devagar, aos poucos e lentamente. Uma outra verdade, que escutamos muito por aí, mas na prática quase não vemos, é que a beleza é o de menos em um relacionamento. A beleza se torna um grão de areia perto das lágrimas que rolam pelo seu rosto.

É aquele que fala em outras mulheres pra te provocar, que fica agressivo quando você chega perto do celular dele e que mesmo assim segue dizendo que te ama. Você tem acesso ao corpo dele, à cama dele, ao mesmo espaço que ele… mas não tem acesso ao celular, nem pra ligar pra sua mãe em uma emergência. Isso não é intimidade. Não quando ele tem acesso a tudo que é seu, mas você não tem acesso a tudo que é dele.

No fundo você sabe que tem algo errado, que merece mais do que isso, mas fica. Não consegue se reconhecer como uma mulher foda, porque é como se estivesse esmagada dentro do porta-malas de um carro, sem poder respirar.

É como se estivesse pendurada em um penhasco e tem medo de cair dele. Tem medo de não suportar a queda. De morrer. De não dormir nunca mais. De não conseguir comer sem a ansiedade ali, sentada na cadeira ao lado. Você está pendurada por uma corda que quanto mais demora a soltar, mais rasga a sua pele e te faz sangrar.

Você só não consegue sair disso porque ele te trata mal, mas depois faz algo que “recompensa” isso. É porque ele sabe que você não se sente confortável. E é isso que faz com que ele se sinta no direito de continuar te tratando como bem entende.

A verdade é que tem gente que se sente confortável com o desconforto do outro. E numa sociedade em que as mulheres muitas vezes são tratadas como lixo, é comum que muitas delas pensem que merecem estar desconfortáveis no relacionamento. Que um dia isso vai passar.

“Quando a gente casar, passa.”

“Quando tivermos filhos, passa.”

“Quando ele ficar mais velho, passa.”

NÃO PASSA!

Não passa, porque ele te vê como alguém fraco, quando claramente você é muito mais forte do que imagina.

Às vezes é bom cair. Você se machuca, se quebra, mas sempre se reconstrói.

Talvez você esteja passando por isso agora, ou talvez já tenha passado. Não o se culpe. Se perdoe. Seja grata por agora ter consciência do que é inaceitável na sua vida.

Solte a corda. Hoje. Não depois, nem amanhã. Hoje. Agora.

Matéria de Pâmela Mota para a coluna Empoderamento Feminino

Encontre-a no Instagram @constelacaodapam

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