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Teoria de Kurt Lewin

Atualizado: 17 de dez de 2022

Considerado um dos pais da psicologia social Kurt Lewin, psicólogo alemão, criou a “Teoria de Campo” colocando a atenção nas interações dos grupos com o entorno, ou com o ambiente que este grupo vive. As condutas são  resultadas de uma interação entre as pessoas e o ambiente. Lewin parte da ideia de que o indivíduo é único responsável em dar significado a sua vida e vivê-la de forma integra sincera e apaixonada, mesmo com os inúmeros obstáculos que possam surgir.

O ano finda deixando um aroma de resto no ar. Odor inatual, com tendências atuais que impressiona, perdemos os aromas simples, de bosques, para aqueles que ainda conseguem vislumbrar cheiro agradável, animal ou vegetal.  A falta de uma fragrância peculiar e particular para cada um de nós desde o cheiro de café sendo coado ao de terra molhada. Ficamos à mercê daquilo que sobra, fica remanescente um saldo de que algo ainda falta. Falta algo a ser feito.  Somos obrigados a nos proteger com o afastamento brutal e cruel de corpos, membros e apêndices. Unidos tão e unicamente, somente por nossa fé, crenças e orações. Na tentativa de buscar explicação em qualquer parte, até em uma equação para justificar uma inequação.

“Ficamos a mercê daquilo que sobra, fica remanescente um saldo de que algo ainda falta.”

As nossas vidas e histórias são marcadas por uma inundação de tragédias, perdas, desconfianças e covardias difíceis de serem entendidas, absorvidas ou esquecidas. Assisto siderada, em estado de quase perturbação as pessoas que aderiram ao uso de máscara como objeto de adorno com tamanha naturalidade, que chego a invejá-las. Perdemos o senso de analisar criteriosamente um rosto, um olhar, um sorriso. Considerando todos os aspectos da necessidade de proteção, não somente a de cada um como principalmente a do outro. Tendo prudência, atenção e sensatez fatos inquestionáveis. Sinto falta de andar e perceber olhos narizes e bocas. Dia desses um casal parou-me no metrô solicitando uma informação. Levei alguns minutos para conseguir entender o que a moça do casal solicitava.

Depois de algum tempo percebi que eles estavam falando em castelhano, o que exigia uma atenção maior de minha parte tamanha a dificuldade de sermos entendidos e compreendidos com as famigeradas máscaras.  Finalmente consegui entender, expliquei o caminho a ser percorrido.

Agradecidos, nos despedimos, eu, tentando perceber nos olhos deles um sentimento de gratidão e esses se foram, perderam-se em meio ao turbilhão de pessoas apressadas e máscaras multicoloridas em plena estação da Sé de Metrô. Tenho a impressão que se esta necessidade de sermos mascarados passar, terei dificuldade em reconhecer algumas pessoas sem o objeto de proteção.

"Se esta pandemia teve voz essa foi a desta senhora, que ao contrair o vírus, isolou-se completamente na preocupação única de preservar o seu amor e companheiro de anos…”

Em dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde – OMS – recebeu um alerta de vários casos de pneumonia na cidade de Wuhan, província de Hubei, na República Popular da China. Poucos meses depois, o mundo percebeu a seriedade do vírus. No Brasil poucos foram os cientistas que vivenciaram a pandemia com intensidade, defendeu a pesquisa como fez uma senhora. Uma médica e pesquisadora Margareth Maria Pretti Dalcolmo. Se esta pandemia teve voz essa foi a desta senhora, que ao contrair o vírus, isolou-se completamente na preocupação única de preservar o seu amor e companheiro de anos de cumplicidade. Dona de um discurso particular e digamos: emocionado, e porque não passional. Conseguiu transformar a dor invisível de centenas de milhares, em dor concreta para um país inteiro de uma população incrédula e havida por atitudes dignas para esta mesma população já tão carente.

Do outro lado do planeta sem qualquer possibilidade de se dar voz, ou de ser voz, a índia pataxó Txai Suruí, desembarca em Glasgow, na Escócia saída de Rondônia para  a Conferência das Nações Unidas Sobre as Mudanças Climáticas – COP26. Faz belo ao representar o seu povo indígena.  Sem qualquer modéstia e com sabedoria nata rouba a cena e torna-se destaque na COP26. Consegue calar o secretário geral das nações Unidas.  Com emoção e sentimento a flor da pele, transparece a necessidade de distinguir intuitivamente que o mundo tem a precisão de mudar a maioria de suas políticas sociais e ambientais.

Do lado sul da linha do equador, dona Arlete Pinheiro, 92 anos, mãe de dois filhos, viúva, atriz, brasileira como tantas outras tem a habilidade natural para realizar tudo com destreza e quase perfeição. Aptidão inata para determinada área de natureza artística com agudeza de espírito, esta senhora retorquia modestamente que para ao posto que acabava de ser indicada, deveriam vir muitas outras mulheres. E assim assumiu uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.

“A moça questiona se existe a possibilidade de usar algo um pouco mais comprido, porém é avisada de que aquele é o uniforme e de uso obrigatório.”

Maryland, estado norte americano, ano de 2021, uma estudante – Marina Costin Fuser, procurando emprego, candidata-se a vaga de garçonete. Até aí, nada demais. Porém o uniforme para a moça estudante era muito curto e apertado demais. O restaurante em questão – “HOOTERS”  – conhecido nos Estados Unidos por suas garçonetes também conhecidas como – “ Hooters Girls” vestem shorts cor laranja curtíssimos, camisetas brancas coladíssimas ao corpo. Na entrevista a moça questiona se existe a possibilidade de usar algo um pouco mais comprido, porém é avisada de que aquele é o uniforme e de uso obrigatório. A moça declina a vaga de garçonete e vai embora. Hoje Fuser é doutora em Cinema e Estudos de Gênero pela Universidade Sussex na Inglaterra e  pós-doutorado em Educação pelo Instituto de Estudos Avançados –  IEA da universidade de São Paulo – USP.

Apreender algo, por meio dos sentidos e vencer todos os padrões rigorosamente estabelecidos, aqui confidencio não é tarefa nada fácil. Igualo a tritura de uma só vez carvão e enxofre. Para uma moça que tem na primeira letra de seu nome um “D” mudo, porém, toda via, esta preta natural de Santos, litoral sul de São Paulo, considerada pela BBC uma das cem mulheres mais influentes do mundo. Resolve, ainda bem!

Colocar voz em mulheres que segundo as regras e possibilidades não era para ter. Djamila Tais Ribeiro dos Santos uma mulher plural. Escritora, mestra em Filosofia, coordenadora do selo Sueli Carneiro e da Coleção Feminismos Plurais. Consegue discutir os assuntos mais complicados e não tocados e levá-los a ambientes jamais pensados de serem discutidos.

Receber ou recolher rendimentos é algo quase sempre inesperado para a maioria de pessoas sem provisões e recursos. O que dizer de uma pessoa nascida pobre no interior de São Paulo, com um transtorno de desenvolvimento que afeta a capacidade de se socializar e até de se comunicar com digamos eficiência? E para deixar o quadro um pouco mais desfocado acrescente a isso infância difícil regada a muito bullying, que na época de tais fatos, mal sabia esta pessoa em questão, que havia nome para tal crueldade.

“Faz belo ao representar o seu povo indígena. Sem qualquer modéstia e com sabedoria nata rouba a cena e torna-se destaque na COP26."

Acrescente a isso questionamentos acerca de sua identidade de gênero. Fato este que leva a procurar refugiar-se nos livros. Anos depois graduada e pós-graduada em Letras pela Universidade de Campinas – UNICAMP.  Puta, candidata a vereadora na cidade de Campinas, envereda na literatura. Hoje escritora, militante de causas polêmicas como defesa da prostituição e travestilidade. Amara Moira, poeta, mulher singular, apaixonada pela vida, simples moradora da Santa Cecilia na cidade de São Paulo.

Foram muitos anos de espera, exatamente quatrocentos anos, mas Barbados livra-se da monarquia Britânica e terá a primeira presidente mulher da ilha caribenha – Sandra Mason. E como uma andorinha só não faz verão, assim como uma mão precisa da outra para se lavar e alcança lugares bem mais difíceis.  A presidente nomeia Rihanna heroína nacional e a cantora dá o tom – “Brilhe intensamente como um Diamante” este diamante nada bruto, uma engajada mulher, artista de fama internacional, cheia de força para ir à luta, que usa a fama para ajudar e comprar algumas brigas pelo mundo inteiro pelos fracos e oprimidos. Sem qualquer espetáculo pirotécnico aparece na cerimônia de posse da presidente com um look Bottega Veneta, um luxo italiano e brilha… brilha…” (…) brilha tão lindo, de valor inestimável. (…) Como você pode mudar o meu mundo inteiro”.

"A presidente nomeia Rihanna heroína nacional e a cantora dá o tom –“Brilhe intensamente como um Diamante”

Cada um de nós tem a heroína que merece ou a que consegue tentar conhecer um pouco mais a fundo. Essas mulheres que talvez para algumas delas, não devem ter ouvido falar de Kurt Lewin, o nosso psicólogo alemão. Porém essas mulheres colocaram em prática à teoria criada por este senhor.  E aqui necessito reforçar o que penso de ser Heroína – aquela que enfrenta o perigo com valentia e determinação, o sofrimento e infortúnios em seu detrimento ou do outro. Mulher digna de admiração que se tornou notável por um ou mais atos e grandiosos feitos.

Examinando com muito cuidado todos os aspectos do assunto aqui em questão, sendo somente para variar, contra a conformidade do padrão estabelecido e sem qualquer retoque, me fazendo de circunspecto acredito que a teoria do nosso ilustre citado talvez possa mudar, ou ajudar a tentar mudar a sociedade para mais igualitária.

Jogê Pinheiro para a coluna Espartilho Trans

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