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Atualizado: 23 de jan de 2023
Até mulheres fortes podem ser fragilizadas, submetidas a situações ruins e precisarem de ajuda. Cada dia se fala mais sobre relacionamentos tóxicos e abusivos e é muito triste pensar quantas de nós vivem situações assim e como, muitas vezes, demoramos para compreender que o que passam não faz parte de uma vida a dois normal e saudável. Desde o início da pandemia do novo coronavírus, mulheres passaram a ficar 24 horas em casa, muitas vezes, com seus agressores. Tal fato elevou a preocupação com a violência doméstica e familiar e é importante falarmos sobre o assunto.
Como saber que se está vivendo em um relacionamento tóxico ou abusivo?
A falta de vontade em estar junto é a primeira evidência de uma convivência com problemas.
Relacionamentos tóxicos podem ocorrer não só entre casais, mas também entre pais e filhos, amigos e em ambientes de trabalho. As agressões limitam-se ao campo psicológico e podem acontecer em diversos contextos. Nesses casos, o agressor parece ter uma necessidade de que o outro se sinta mal para que só assim ele se sinta bem. As principais estratégias utilizadas são a desvalorização, desmerecimento e até a humilhação. A pessoa tóxica pode agir consciente ou inconscientemente, sendo que no segundo caso talvez nem tenha a noção do quanto é desagradável, indelicada e do mal que causa. Reclama de tudo e de todos o tempo todo, critica e julga com facilidade, “suga a energia alheia”, é alguém de mal com a vida.
Já o relacionamento abusivo é ainda mais grave. Acontece de forma mais frequente entre casais, o homem dominando a mulher, no entanto pode ocorrer também o contrário e em outros contextos. Há a clara intenção de uma das partes em agredir, seja psicológica, verbal ou fisicamente ou até mesmo exercendo controle financeiro. Trata-se do excesso de poder sobre o outro. Há o “desejo” de controlar o parceiro, de “tê-lo para si”. O abusador sabe muito bem o que está fazendo e premedita suas ações. Esse comportamento, geralmente, se inicia de modo sutil e aos poucos ultrapassa os limites, causando sofrimento e mal-estar.
Este é um tema que afeta uma enorme quantidade de pessoas e que cobra muitas vidas em diferentes lugares do mundo. Por isso é fundamental conhecer seus sinais o mais cedo possível, para que essas relações sejam cortadas desde o início, porque com o tempo sempre ficará mais difícil.
Muitas pessoas criticam e costumam pensar ou falar “Por que essas mulheres se submetem a isso? Por que não conseguem simplesmente terminar o relacionamento e ir embora?”
Segundo uma matéria, de 02 de maio de 2018, publicada pela revista Superinteressante, o pesquisador americano Saunders aponta alguns fatores para as mulheres não deixarem seus agressores:
Um dos mais comuns é a falta de recursos– a mulher talvez não tenha um emprego, ou não ganhe o suficiente para se sustentar sozinha. Se ela tiver filhos, a situação fica ainda mais complicada.
Outro motivo é a falta de apoio da família, amigos e colegas, que muitas vezes não acreditam ou até culpam a vítima pelo abuso; e há ainda o medo: afinal, as mulheres podem ter motivos reais para temerem por suas vidas, caso deixem seus companheiros. Um estudo feito pelo próprio professor Saunders constatou que o risco de homicídio aumenta logo depois de a vítima deixar o abusador.
O parceiro não é violento o tempo todo, mas também se mostra gentil e sensível;
Ele parece arrependido e a vítima fica com pena;
Diz que vai procurar tratamento e a parceira cria esperanças de que ele mudará;
Ele a menospreza e destrói a sua autoconfiança, o que faz com que ela se sinta presa a essa situação e tenha vergonha de pedir ajuda.
“Deixar o parceiro é frequentemente um processo complexo com vários estágios: minimizar o abuso e tentar ajudar o agressor; abrir os olhos ao fato de que o relacionamento é abusivo e perder a esperança de que vai melhorar; e, finalmente, focar nas próprias necessidades de segurança e sanidade e lutar para superar os obstáculos externos”, escreve o professor.
O que o pesquisador sugere para que essa realidade mude, é que os meninos sejam criados desde pequenos de modo a terem mais cuidado e respeito com as mulheres.
10 sinais de que o relacionamento é abusivo:
O parceiro constantemente tenta diminuir a parceira, em conversas procura sempre mostrar que ela não entende nada e que sua opinião não é importante, acabando, com o tempo, com autoestima da mulher.
Ele costuma se achar no direito de controlar a vida e as escolhas da parceira.
Não aceita um “não” da companheira, que acaba fazendo coisas contra sua vontade no relacionamento, tanto no dia a dia, quanto no sexo, por medo.
Fala que nenhum outro homem vai amá-la ou aceitá-la do jeito que é, só ele.
Ele não reage bem as conquistas da companheira.
Faz a mulher se sentir culpada por ele ficar agressivo.
Toda vez que grita, humilha ou é agressivo, promete em seguida que nunca mais fará aquilo.
No início não costuma ser diretamente agressivo, mas desconta a agressividade e raiva dando chutes e socos em móveis na casa.
Não deixa a parceira comentar “as coisas do casal” com outras pessoas, fazendo terror psicológico quanto a isso, afastando-a de familiares e amigos, com o tempo.
Bate na mulher.
Mas como sair de uma situação dessas?
Ao perceber que está sofrendo abuso, é fundamental que se procure ajuda. Todas as unidades de saúde públicas do país podem ajudar, encaminhando a mulher para uma conversa com uma assistente social e uma psicóloga, que, além de apoio emocional, poderão orientar a como proceder dali em diante e darão o suporte necessário.
Há ainda as delegacias das mulheres e o Ligue 180, um serviço de utilidade pública essencial para o enfrentamento à violência contra a mulher. Além de receber denúncias de violações, a central encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos. Tem também a atribuição de orientar mulheres em situação de violência, direcionando-as para os serviços especializados da rede de atendimento. No Ligue 180, ainda é possível se informar sobre os direitos da mulher, a legislação vigente sobre o tema e a rede de atendimento e acolhimento.
Procurar apoio da família ou de amigos também é importante, pois mulheres vindas de relações desgastadas e rompidas ficam fragilizadas e com baixa autoestima. Criar e fortalecer laços sociais e familiares farão com que se sintam mais seguras, acolhidas e fortes para tomarem as decisões necessárias para romperem com a situação que estão vivendo.
Este não é um assunto simples, mas se você, minha amiga ou alguma conhecida sua, está em um relacionamento abusivo, procure ajuda!
O tema é muito atual e eu deixo como sugestão a minissérie Maid, disponível na Netflix. Uma produção audiovisual dramática e envolvente, baseada no livro autobiográfico Maid: Hard Work, Low Pay, and a Mother’s Will to Survive, da autora americana Stephanie Land, que tem edição em português traduzida como “Superação: Trabalho duro, Salário Baixo e o Dever de Uma Mãe Solo.”
Renata R. Corrêa para as colunas Empoderamento feminino e Direitos das mulheres
Fontes de pesquisa:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/denuncie-violencia-contra-a-mulher/violencia-contra-a-mulher
https://nogueirense.com.br/relacionamento-abusivo-ou-toxico-existe-diferenca/
https://melhorcomsaude.com.br/7-sinais-precoces-relacionamentos-abusivos/