Diante de todos os erros do passado só posso me redimir de joelhos para o meu eu, solitário e inquieto. Facilito o peso do meu corpo inchado liberando parte da minha culpa para a imaturidade da minha mente, e o resto… O resto deixo para acumular nas marcas do meu rosto e nas entranhas da minha alma, escondidas e inacessíveis. Carrego no ventre uma humanidade inteira: engravidei de visões suspeitosas e esperanças destruídas durante o percurso. Entrego para a minha alma suja e pecadora o verdadeiro sentido do arrependimento, mas não posso abandonar meus filhos na travessia. Por isso, sigo de mãos dadas com eles. E evito, ao máximo, passar por atalhos em que eu possa me perder. Me perco nos contornos do que não foi, nos ajustes do que poderia ter sido e nos detalhes das palavras não ditas. São vários os riscos de prosseguir sem eles, meus convidados da vida, meus sentimentos de culpa. Mas é grande a vontade de me reencontrar comigo em um lugar mais tranquilo, onde eu possa amamentar coragem e não desilusões. E se, de todas as histórias que escrevi eu puder apagar algumas, insisto que não farei. Não as anularei da minha história, pois pertencem ao holocausto de mim, na minha existência frágil e desconcertada do passado. Mas sim, irei abortar todos os infortúnios caóticos que me prendem à angústia diária que é conviver com erros que não podem ser consertados. Benditas são as rezas de ano novo, que saúdam o novo e me enchem de esperança e incógnita. Bendito é o ser com toda a sua vontade de se recriar e de se reconstruir na imensidão do caos e na busca pela redenção da sua alma. Fui! (Ensinar a meus filhos “não virtuosos” o caminho para fora do meu útero…)
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