Uma vez me perguntaram em qual bifurcação da minha vida eu pararia, se tivesse a chance de visitar meu passado. Sem refutar respondi prontamente: eu voltaria para os piores momentos da minha vida. Revisitaria aqueles instantes que me acompanham até hoje. Seria a chance que eu me daria para limpar minha alma, cheia de culpas e de arrependimentos. Tentaria refazer o caminho, escolheria a via principal, pediria desculpas, perdoaria, seria melhor do jamais fui.
Não preciso voltar para os instantes de alegria porque estes estão lá, conservados em sua sintonia de felicidade. Não quero viver de novo o que já foi bom, nem melhorar nada para torna-lo perfeito. Quero meu passado feliz ajustado nas cores que eu vivi, nos tons vibrantes ou mornos da minha história.
Mas com relação ao meu passado triste, esse eu gostaria de refazer, se tivesse a chance. E faria o melhor que eu pudesse, em reverência à minha verdade e em respeito à minha essência inquieta e geniosa. Seria um alguém melhor para aliviar um pouco o peso da minha bagagem, tão cheia de assuntos mal resolvidos, de frases não terminadas e de despedidas doídas.
Seria ali, nessas esquinas sombrias, que refaria as histórias que voltam sempre para me visitar quando sinto vontade de apagar a luz das angústias que me prendem até de manhã. Me reinventaria sempre que pudesse dizer "foi mal" ou sempre que pudesse dar outro laço no meu tênis. Um mais apertado, mais firme e mais seguro.
A verdade é que eu não posso voltar, não posso mudar o que já está feito. Então sigo em frente, rumo ao próximo ano com todas as minhas histórias, as boas e as ruins. Carrego no peito a saudade e a felicidade que conquistei. Levo nas mãos a bagagem que pesa, mas que fortalece meus braços na medida em que a seguro. E levo no pensamento uma única meta: fazer o melhor que eu puder.
Fui! (Seguir...)