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- Flow Pélvico: para libertar o corpo e expandir os orgasmos
Querida leitora, você já sentiu como se o seu prazer estivesse preso dentro do corpo? Como se o desejo existisse, mas algo te impedisse de sentir por completo? Pois é… às vezes o que está faltando não é libido, é mobilidade . A região pélvica é o nosso centro de poder e prazer. É onde passam nervos, músculos e vasos que precisam de espaço, oxigênio e movimento para funcionar bem. Quando ficamos tempo demais sentadas, tensionadas ou “fechadas” na pélvis, tudo ali começa a se comprimir, inclusive os nervos responsáveis pelas sensações de prazer, como o nervo pudendo. E o resultado? Menos circulação, menos sensibilidade, mais dificuldade para atingir o orgasmo. Estudos mostram que mulheres com maior força no assoalho pélvico relataram mais prazer na vida sexual. Isso indica que trabalhar força é importante, mas não suficiente por si só: o flow, o relaxamento, a mobilidade também contam muito, porque se a musculatura fica sempre contraída ou imobilizada, o fluxo não circula, a sensibilidade diminui. Um estudo publicado em 2024 no Journal of Sexual Medicine (PMID: 38303662 ) concluiu que o tônus equilibrado, ou seja, saber contrair e relaxar os músculos pélvicos, é essencial para o prazer sexual, a lubrificação e o orgasmo. Ou seja, o prazer é um fluxo e quando o corpo está rígido, o prazer também se bloqueia. Ficar muito tempo sentada é um dos principais inimigos dessa fluidez: essa postura comprime os músculos profundos da pélvis, reduz a circulação e pode até causar compressão dos nervos genitais, o que impacta diretamente o prazer e a resposta orgástica. Para te ajudar, vou te ensinar duas práticas simples para liberar a pélvis e abrir espaço para o prazer: 1° Respiração Pélvica (5 minutos por dia): Deite-se com os joelhos dobrados e os pés no chão. Coloque uma mão no peito e outra sobre o baixo ventre. Inspire profundamente, imaginando o ar descendo até o assoalho pélvico. Sinta a região expandir, suave, viva, pulsante. Ao expirar, solte completamente. Essa respiração ajuda a descomprimir os nervos pélvicos, liberar tensão e aumentar o fluxo sanguíneo, o que é essencial para o prazer. 2. Flow Pélvico - movimento livre e consciente: Coloque uma música lenta e permita que seu quadril se mova. Círculos, balanços, espirais... sem técnica, sem pressa. Deixe o corpo encontrar o próprio ritmo. Esse tipo de movimento estimula as fáscias, solta os músculos profundos e reativa a sensibilidade natural do corpo , que o sedentarismo e o controle excessivo costumam adormecer. Curtiu? Eu digo que o prazer precisa de espaço! E esse espaço nasce quando o corpo volta a fluir . Respire, mova-se e permita-se sentir o orgasmo é apenas a consequência de um corpo vivo, livre e desperto. Lu Terra para a coluna Terapia Sexual Encontre-a no Instagram: @luterra.terapeutasexual
- E mesmo cansadas, lutamos...
Fim do ano se aproximando e sempre vem à nossa mente a retrospectiva de tudo que fizemos e de tudo que deveríamos ter feito. A lista do que não fizemos é sempre a maior, fato. Isso acontece comigo também, mas também penso em todas as lutas e problemas que passamos sendo mulher. As notícias são sempre piores na próxima, e isso tem dado medo. A presidente do México, Claudia Sheinbaum, foi assediada esta semana. Isso mesmo: presidente. A falta de respeito e o sentimento de posse que muitos homens têm não respeitam nem a hierarquia. Faço parte de um clube do livro formado por pessoas (mulheres em sua maioria, mas temos homens também) que desejam aprender mais sobre o feminismo e o matriarcado. Lá, compartilhamos inúmeras experiências e percebo que há um sentimento comum em todas as mulheres e, depois do que aconteceu com Claudia Sheinbaum, em mulheres de todo o mundo: o sentimento de medo misturado ao da luta. Ser mulher é ficar atenta 24 horas para se manter viva, respeitada e segura. Mesmo dentro de casa. Pensando sobre isso, chego à dúvida: e se cansarmos? Se a gente não quiser mais lutar, o que acontece? Será que os direitos conquistados até aqui vão sumir? Não sei, mas a maior certeza que tenho é que eu não queria ter que lutar todo dia. Também não quero que as novas gerações de mulheres precisem ter essa luta constante. Porém, se baixamos a guarda, como fica a nossa segurança? Esta semana eu ouvi da Luana Piovani a frase: “Nós, mulheres, somos o portal da existência.” Fala melhor do que essa não há. Só há vida porque as mulheres existem, mas tenho certeza de que muitos homens estão se esquecendo disso. A impressão que dá é que eles estão com ódio e precisam, a todo custo, se vingar com xingamentos, assédio, agressão etc. Eu estou com medo do rumo que tudo isso está tomando. Eu, sinceramente, passei a ter nojo e repulsa de certos comportamentos masculinos, e já ouvi isso de outras mulheres também. Mas, mesmo cansadas e muitas vezes com medo, não podemos parar. Eu me sinto em dívida com as mulheres que lutaram no passado para termos o que temos hoje, e é por elas que sigo lutando. Luto também por todas que não podem ter voz, que são oprimidas pela religião, família, maridos etc. Que no próximo ano as lutas sejam menos pesadas, menos constantes e que tentem nos oprimir menos. Ser mulher é uma dádiva, uma arte, e é uma pena que muitos não vejam isso, inclusive as próprias mulheres. Eu, uma mulher preta com deficiência, estou cansada e irritada com todo o machismo que enfrentamos diariamente, mas seguirei lutando. A minha voz não será calada! Ser mulher é ficar atenta 24 horas para se manter viva, respeitada e segura. Mesmo dentro de casa. Flávia Albuquerque para a coluna Empoderamento Feminino Encontre-a no Instagram: @flavia.albuquerqueoficial
- Desejos de renovação
Esses dias eu fiz aniversário, e como sempre acontece nessa época, um monte de pensamentos e sentimentos vieram à tona. Eu vejo algo de mágico nesse período… como se a vida, de repente, fosse abrir as janelas para deixar entrar novos ares, encontros inesperados, pessoas diferentes, situações que parecem sussurrar: “vem, tem coisa boa chegando” “tem vida para acontecer”. É um tempo que me desperta, me dá vontade de dançar, de recomeçar. Esse momento traz uma mistura curiosa. Por um lado, tem a alegria de estar viva, de celebrar mais um ciclo, de reconhecer tudo o que já foi conquistado, de valorizar os números que mudam e representam que estou viva. E eu valorizo, acredite! Nunca me incomodou falar sobre idade como muitas mulheres que têm essa preocupação em “ficar mais velhas”. Mas por outro lado, surgem aqueles pensamentos silenciosos: “E aí? É isso mesmo? Eu queria estar vivendo outras coisas. Eu queria me sentir mais inteira, mais presente na minha própria vida ” É como se, nesse dia, uma parte de mim olhasse para dentro e fizesse um balanço honesto, às vezes leve, às vezes doído. E quando chega o dia em si, tudo muda de tom. Enquanto muita gente espera festa, eu geralmente sinto vontade de ficar quieta. Evito mensagens, ligações, encontrar as pessoas… não por desamor, mas por necessidade. Isso também acontece com você? Acho que é porque o aniversário tem esse poder de nos colocar frente a frente com nós mesmos. É como se fosse um espelho simbólico, refletindo quem fomos, quem somos e quem desejamos ser. E isso mexe com o corpo, com o coração… com tudo. Depois, quando o dia passa, eu respiro fundo e percebo: foi só mais um dia. A vida segue, do jeitinho dela, me chamando de volta à realidade, para os meus planos, afetos e sonhos. Ive Bueno para a coluna Universo Feminino Encontre-a no Instagram: @euivebueno
- Dor na relação: quando o corpo diz o que a boca não consegue
Mulher, você lembra da primeira vez que percebeu que algo estava diferente? Talvez tenha sido num toque, num olhar, ou naquele instante em que o prazer virou receio. Você tentou disfarçar. Disse a si mesma que era normal, que passaria com o tempo. Mas o corpo, esse sábio mensageiro, começou a falar, e o que ele dizia era simples e profundo: tem algo em mim que precisa ser ouvido. A dor na relação sexual é um grito silencioso. Ela mora entre as pernas, mas nasce muito antes, em cada momento em que você precisou se calar, se adaptar, se enrijecer. É o corpo tentando proteger o que a mente já não consegue nomear. Atendo diariamente mulheres que chegam com a mesma expressão: um misto de vergonha e esperança. Elas me dizem: “Dói, mas acho que é normal.” “Meu médico disse que é psicológico.” “Desde o parto, nunca mais foi igual.” E quando eu as escuto, percebo que por trás de cada relato há uma história: de entrega, de culpa, de sobrevivência e, acima de tudo, de desconexão. O corpo fala o que a boca cala A pelve é um território de memórias. Ela guarda as dores, os toques invasivos, as pressas, as culpas, os “não quero” engolidos. Cada vez que uma mulher aperta o abdômen para caber em um padrão, segura o xixi porque está ocupada demais, ou finge prazer para evitar conflito, ela ensina seu corpo a se contrair. E esse corpo, treinado para se defender, depois não sabe mais se entregar. A penetração, que deveria ser um encontro de presença e prazer, passa a ser percebida como uma ameaça. A dor aparece, não como inimiga, mas como um pedido de pausa. Um pedido para olhar para dentro e perguntar: o que em mim ainda precisa relaxar? O prazer que adormeceu com o medo A dor na relação (chamada dispareunia) e a dificuldade de permitir a penetração (vaginismo) têm causas que vão muito além do físico. Podem envolver traumas emocionais, tensão muscular crônica, desequilíbrios hormonais do pós-parto ou da menopausa, e até a forma como a mulher se relaciona com o próprio prazer. Quando o corpo sente medo, ele contrai. Quando a mente associa o sexo à dor, o corpo obedece. E quando não há escuta, o prazer se apaga, não porque some, mas porque se protege. É comum que essas mulheres sintam culpa, vergonha ou até a sensação de não serem mais as mesmas. Mas o prazer não morre. Ele apenas adormece. E com o cuidado certo, ele desperta de novo. A fisioterapia pélvica como ponte para o reencontro O tratamento não é apenas técnico, é humano. Na fisioterapia pélvica, trabalhamos com toques conscientes, exercícios de respiração, reeducação da musculatura e tecnologias como o biofeedback. Mas o que realmente transforma é o olhar. É o espaço onde a mulher pode dizer “dói” e ser acolhida, não julgada. Onde ela reaprende a habitar o próprio corpo com curiosidade e não com medo. A reabilitação do prazer começa quando ela entende que não é fraca, nem exagerada, nem difícil. Ela apenas carregou demais, e agora, o corpo pede leveza. O despertar do prazer é o despertar de si Curar a dor na relação é, no fundo, curar a relação consigo mesma. É reencontrar o toque sem culpa, a respiração sem pressa, a entrega sem medo. É olhar para o espelho e reconhecer que prazer não é luxo. É saúde, é conexão, é direito. Quando uma mulher volta a sentir prazer, não é apenas o corpo que floresce, é a alma que se reconecta à própria força. Porque o prazer é isso: uma forma de voltar para casa. E toda mulher merece voltar para si. Mirella Bravo para a coluna Saúde Íntima Encontre-a no Instagram: @mirellabravofisio
- Paredes finas
Havia uma cena que rondava aquele apartamento há alguns meses. Ritual entre um casal passional que misturava ritos entre o amor e o mais profundo desejo carnal, quase como um pacto entre eles, ao que me parece não conseguiriam viver de outra forma, senão aquela. A parede da minha sala é grudada à parede da sala deles, como todos os apartamentos antigos do centro de São Paulo, ruídos, barulhos, vozes se confundem entre as paredes finas. As noites frias de inverno entre o casal se misturam entre risadas, gemidos e muitas outras palavras que excitam qualquer alma gelada. Assim viviam eles, uma ciranda entre o profano e a vida real. Em uma noite fria dessas, sai para comprar um vinho. Quando voltei não tão tarde, percebi que a noite seria longa, barulho de taças, risadas e conversas. Casal bonito, cara de modernos, que pela liberdade de horários não tinham filhos e nem compromisso com o trabalho fixo. Me mudei fugindo do barulho que rondava em mim, mas o barulho que vinha de fora me acendia uma curiosidade nunca vivida. Uma taça quebrou. Um grito alto, mistura de dor com gemido. Peguei meu vinho e escorreguei meu corpo no chão. Escutei uma terceira voz, voz meio rouca feminina. Naquela noite senti vontade de compartilhar meu voyeurismo com mais alguém. Liguei pro Antônio e Vera, casal de amigos que eu guardava um desejo reprimido. Os dois toparam, sem saber das minhas intenções. Estamos os três na sala, já indo para a segunda garrafa de vinho, quando um silêncio pesado nos ameaça... Os gritos e gemidos do apartamento ao lado nos ascendeu. Senti a respiração dos três encurtar, desassossegando nossos corpos. Não tinha como fingir, a curiosidade nos tomou. Sorrimos e nos permitimos ao deleite de apenas ouvir e imaginar aquela delícia toda. Nessa hora meu vestido curto já tinha subido e minhas pernas estavam por cima das coxas grossas de Vera, sua mão escorregava lentamente até minhas calcinhas ao mesmo tempo que os gemidos iam aumentando. Antônio estava imóvel, seus olhos nem piscavam, observando o corpo de sua namorada. Seu pau crescia sem nenhum constrangimento, estava ali pulsante, vivo. Palavras de êxtase ecoavam pelas minhas paredes. Enquanto eu ainda tímida, começo a chupar meus próprios dedos, louca para enfiar na vulva de Vera. Com um sorriso safado, pergunto a ele: Posso? Pode, mas se eu puder comer as duas! Pode? Aquela era minha primeira vez mergulhada em um buceta vermelha. Quente. Úmida. Nossas bucetas estavam coladas uma na outra, sem quase dar espaço pro pau do Antônio entrar. Ele teve que nos separar com força, puxando meus cabelos para entrar na nossa selvageria. Tive que segurar meu gozo algumas vezes, a mistura dos nossos gemidos com os gemidos e gritos do outro apartamento, pareciam efeito de uma droga em meu corpo. Não podia gozar, queria segurar aquela putaria toda em cada parte de mim. Queria mais de Vera, mais de Antônio e mais de quem possa estar nos ouvindo. Chão escorregadio, uma poça de suor se fez ali. Minha boca pingava saliva, minha língua dançava pelos corpos dos dois, bocas, ouvidos, nucas, coxas, tudo... como dizia Cazuza. Possivelmente deve ter vivido esta cena algumas vezes por ter tanta poesia em suas vísceras. Uma outra taça quebra... me trazendo a segundos de lucidez, que logo me fugida ao sentir a língua molhada de Vera lambendo minha barriga. Antônio dessa vez ficou ali, parado, imóvel, assistindo o espetáculo acontecer de camarote, segurando violentamente seu pau. Enquanto nós duas nos enroscávamos juntas lambuzando seu corpo todo com nossos fluidos. Ele gozou sozinho, distribuindo sua porra em minha boca e na dela, enquanto ainda nos beijamos lento. Lambemos tudo até não sobrar nada. Eu e ela nos descobrimos naquela noite, transamos até mudar o barulho da rua. Moraríamos no corpo uma da outra. E agora o barulho do silêncio nos ensurdece, Naquela manhã de garoa fina nasci outra mulher Engolida pelo desejo de ser devorada mais uma vez por aqueles corpos. Gabriela Prux para a coluna Papo de Bordel Encontre-a no Instagram: @gabiprux
- O PODER INVISÍVEL DA OCITOCINA
Sabe aquela sensação de bem-estar depois de um abraço apertado? Ou a paz que vem quando estamos com quem amamos? Por trás desses momentos está a ocitocina , conhecida como hormônio do amor . Mas o que poucos sabem é que ela tem um papel muito mais profundo atuando na saúde mental , na regulação do estresse , no vínculo social e até na longevidade . Produzida no hipotálamo e liberada pela neuro-hipófise , a ocitocina atua tanto no corpo quanto no cérebro. É responsável por contrações uterinas, ejeção do leite e, ao mesmo tempo, por mecanismos cerebrais que envolvem empatia, confiança e sensação de segurança. Quando estamos em situações de conexão genuína, o corpo entende que “estamos seguros”. O cortisol (hormônio do estresse) diminui, e a ocitocina entra em cena para equilibrar nosso sistema nervoso, melhorando humor, sono e até a imunidade. Da maternidade ao equilíbrio emocional Na medicina, a ocitocina é usada há décadas para induzir o parto e prevenir hemorragias pós-parto aplicações com resultados sólidos e respaldadas por órgãos como a Organização Mundial da Saúde (OMS) .Durante o trabalho de parto, doses cuidadosamente tituladas de ocitocina são aplicadas por via intravenosa, sempre com monitoramento fetal. Após o nascimento, uma única dose intramuscular de 10 UI é capaz de reduzir drasticamente o risco de sangramentos graves. Mas o que a ciência vem revelando é que a ocitocina também pode ter efeitos neuropsicológicos importantes. Pesquisas recentes exploram seu uso em quadros de ansiedade, depressão, autismo e transtornos de vínculo , especialmente pela via intranasal , que facilita a chegada da substância ao sistema nervoso central. Os resultados ainda são mistos, algumas pessoas apresentam melhora na empatia e redução da ansiedade social, outras não, mas o fato é que o “hormônio da conexão” ganhou espaço nas discussões sobre saúde emocional e comportamento humano . Como o médico decide quando aplicar? Apesar do interesse crescente, não existe um exame de rotina que determine “níveis ideais” de ocitocina no organismo. A dosagem sanguínea é complexa e instável, já que o hormônio é liberado em pulsos e rapidamente degradado. Por isso, a decisão médica é clínica baseada em histórico, sintomas, contexto e, claro, evidências científicas disponíveis. Nos protocolos obstétricos e hospitalares, o uso é totalmente padronizado e seguro. Já em abordagens complementares (como terapias integrativas ou estudos sobre saúde mental), a administração é feita apenas em contextos supervisionados e dentro de protocolos éticos de pesquisa. O mais importante é entender que nem toda ocitocina precisa vir de uma seringa . Nosso corpo é capaz de produzir naturalmente esse hormônio, e é aí que entra o poder do toque, da convivência e da presença. Atos simples, efeitos profundos A ciência mostra que gestos cotidianos podem estimular a liberação natural da ocitocina , fortalecendo nossa saúde mental e emocional. Práticas simples, como: abraçar e receber carinho cultivar vínculos sociais saudáveis expressar gratidão e compaixão manter contato com a natureza praticar exercícios físicos Tudo isso ativa o mesmo sistema que nos conecta à vida e às pessoas. Não é magia é biologia em harmonia com a emoção . BOX TÉCNICO: Nome químico: Ocitocina (C43H66N12O12S2) Produção: Neurônios do hipotálamo, liberada pela neuro-hipófise Funções principais: Contração uterina e ejeção do leite; Regulação do comportamento social e emocional; Redução do cortisol e resposta ao estresse Usos médicos validados: Indução e condução do trabalho de parto; Prevenção de hemorragia pós-parto (10 UI IM/IV) Usos em estudo: Transtornos de ansiedade, depressão, autismo (via intranasal) Riscos: Hiperestimulação uterina, hiponatremia, sofrimento fetal (em uso hospitalar prolongado) Medição laboratorial: Métodos ainda experimentais; sem valor diagnóstico clínico de rotina A ocitocina é um lembrete silencioso de que a cura não vem apenas das fórmulas químicas mas também do toque humano, do vínculo e da presença. No cuidado clínico, compreender esse equilíbrio entre corpo e emoção é essencial para promover saúde de forma integral. Na minha prática, trago essa visão para cada paciente: olhar para os hormônios, sim mas também para o estilo de vida, para o sono, para o afeto, para o que alimenta a mente. Porque saúde é conexão . Para entender melhor como a medicina integrativa pode ajudar no seu processo, procure sempre um profissional de confiança. E se quiser conhecer mais sobre as abordagens terapêuticas que aplico na Clínica SL Saúde & Longevidade, acesse meus canais oficiais. Com carinho, Dra. Silvana Lins Encontre-a no Instagram: @drasilvanalins
- O Inominado
Acordei com o sopro da brisa matinal. Na cama de lençóis frescos, vi se aproximar, através da janela, um bem-te-vi. O seu canto parecia se lamentar de uma perda, de um luto..., porém, o céu azul com poucas nuvens anunciava um belo dia. Logo em seguida, no entanto, o pássaro seguiu sua trajetória num deslocamento suave, já apaziguado. Ainda com os dedos mergulhados nos cabelos, me espreguiçava longamente. Bocejava. A luz da manhã invadia meus olhos, quando, de repente, algo me chamou a atenção.... Inclinei-me para ver com mais detalhes. Estiquei o lençol branco e vi. Lá estava. Como um pequeno bordado ébano, um pelo humano, “claro”, pensei. Mas como? Quem esteve aqui? Estaria ainda sonhando? De olhos fechados continuava a ver. Olhava-o fixamente e aos poucos fui acompanhando sua proliferação. Via os pelos se multiplicarem. Intrigada, hesitei e me afastei com receio. Eram pelos de um torso humano. Foi surgindo uma vontade de tocá-lo, sentir a minha própria pele em contato com outra pele humana. Do lençol emergiram cabelos cor de palha e, no rosto masculino, os olhos verdes exibiam um brilho intenso. Ou seriam azuis? Poderiam ser de anjo, imaginei. Olhos que me encaravam profundamente... Não, não eram olhos de anjo de cenário idílico, mas sim de um anjo severo, capaz de empunhar uma espada e decepar uma cabeça. Diante de mim, o olhar permanecia perscrutador, invasivo. Um olhar que tudo vê. Vê até a alma porque a dele parecia oca e sedenta. Sedenta de conexão? Procurava me esquivar, baixando a cabeça. Mas ele, o olhar, permanecia incólume, se apresentava no real, vinha sem mediação, desprovido de símbolos. — O que você quer? Como veio parar aqui? – perguntava fechando no peito a gola da camisola. O olhar persecutório de julgamento parecia acompanhar uma intenção. A intenção de me recriminar, de me ameaçar e, quem sabe, de me humilhar... Qual seria o seu propósito? Talvez a voracidade. Fazer de mim uma parte de si. Antes mesmo que eu pudesse ouvir alguma resposta, fui percebendo minhas mãos se tornarem trêmulas e meu coração disparar ecoando como um tambor que alcançava as têmporas. Os músculos se retesavam reagindo contra uma espécie de onda provocada pelo choque elétrico do terror. O gosto metálico ia se fazendo presente, assim como o zumbido chegando em meus ouvidos. Os sons externos se tornavam cada vez mais distantes. O ar era escasso. Um nó na garganta foi se formando. Então, veio a paralisia, o congelamento. Eu não era mais capaz de movimentos. Apenas observava o olhar voraz e intrusivo do outro, deixando-me nua. Permanecia de modo involuntário. Atônita, desestruturada e ainda sem compreender o que estava acontecendo, o inominável disse: — Quero você. Quero te consumir. Devorar-te. Sem palavras de recusa ou assentimento, ainda sentia o embalo tênue e superficial de minha respiração. — Você existe para mim – a partir disso, uma risada alta de regozijo ecoou por todo o ambiente. — Hahahahaha! Para mim! Não havia meios de reagir. Eu não estava escamoteando. Minha visão passou a ficar turva. A vitalidade de meu corpo foi se esvaindo. Até que, por fim, petrifiquei. Tornei-me estátua.... .. Sentindo uma fresta da claridade crepuscular banhando meus olhos, despertei com o canto do bem-te-vi. Olhei ao redor. Estava em meu quarto, sob os lençóis. Ao lado, se encontrava o meu gato peludo, o Dionísio. Procurei o pelo cor de ébano e não mais o encontrei. Ao mesmo tempo, surgiu uma impressão estranha. Era a conhecida sensação de estar sendo observada mais uma vez. E lá estavam eles. Os olhos. Os olhos de Dionísio. Isabella Dias para a coluna Contos Literários Encontre-a no Instagram: @cuidadoterapeutico
- Desde o início, eu já partira
Já que é preciso começar a contar, inicio dizendo sobre como acho difícil reconstruir os acontecimentos... Há sempre um ponto em que a memória falha, inventa – talvez para proteger, talvez para castigar. Lembro que acreditava estar voltando para a casa da tia Olga. Ainda era dia, a luz da tarde filtrada pelas folhas e os seixos do chão rangendo sob meus passos, quando subia a ladeira. Mas era engano. Desde o início, eu já havia partido. De repente, senti o puxão. Firme, rápido, vindo por trás. Ele me segurou pelo cotovelo e sussurrou: – Você precisa tirar as suas coisas de lá! – disse ele, agora com a mão no meu ombro, falando como se fosse segredo. Tentei me soltar, correr, fugir. Desejava desaparecer quando, no instante seguinte, tudo escureceu. Já não via mais nada. Sumiram a rua, o sol, a ladeira. Tudo se apagou e só vi o breu... Ontem eu era criança. Ele, um cidadão exemplar aos olhos de muitos. Mas para mim: era um velho asqueroso cujas carnes putrefatas roçaram as minhas. E a voz… aquela voz decrépita, ressuscitando em eco, ficou se repetindo sem descanso nos meus ouvidos. Palavras repulsivas. “Que você emborque sua fuça contra o sal da terra o mais breve possível!” Era o que eu queria gritar aos quatro ventos, aos fantasmas, aos deuses. Mas não. Eu não podia. Porque o tal homem “exemplar” era o marido da minha tia, minha tia tão amada. E eu, a sobrinha bem-comportada, incapaz de revelar o escândalo necessário sobre as investidas sexuais do velho labrojeiro. Essas ficavam suspensas em silêncio, não por ele, mas por mim. Era imperativo dissimular meus sentimentos. Por dignidade. Por amor a ela. E ela… Ela não tinha sagacidade, e talvez nem coragem, para enxergar o que se passava, o que acontecia por trás dos meus olhos, por debaixo dos seus, no meu íntimo esconderijo. Vivíamos como se nada houvesse acontecido. Mas dentro de mim, eu já estava longe. Muito longe. Ah, Senhor, tenho agulhas na boca. Como sair dessa situação? Como revelar sem magoar? Como falar sem destruir? Sim, vou tirar minhas coisas de lá. Mas a verdade é que, do lugar onde estou, já fui embora. Já estou correndo pelos prados, sob o sol. Estou no beijo de língua simbiótico sob a fluidez da água que chega do céu, no mergulho no mar em dia de verão. Estou nos pontos luminosos suspensos, vindos na fresta da cortina, e que chegam de forma sagrada nos abençoando, a mim e Miguel. Sim, já tive um amor. Um amor que me fazia perder o fôlego, que secava minha boca, que tremia minhas mãos. Que me perdia do eixo, que me tirava do prumo. E como era doce o meu amor… Mais uma vez, as cenas começavam a retornar em fragmentos, com alguma nitidez. Foi quando ouvi uma outra voz. – Olá, minha filha, o que você anda fazendo por aqui? – Oi, Madame Clessi, acho que me perdi, onde estamos? – Esse é o local em que tenho vivido. Você gosta? – Não sei, Madame Clessi, estou confusa. Tentando fugir daquele velho. Carrego no corpo a suspeita amarga de uma gravidez não nascida do amor, mas sim da violência. Ele pede que eu tire as minhas coisas da casa da tia. O que vou fazer, Madame Clessi? Não tenho para onde ir. Ela me olhou com olhos profundos, mas como quem abraça. – Agora você está aqui comigo. Está tudo bem. Fique tranquila. Senti meu rosto esquentar, meus olhos se encherem d’água. Um aperto no peito. Era a primeira vez, em muito tempo, que me sentia acolhida. Mas logo depois… a lembrança. A lembrança de quando estava no enterro de Madame Clessi. Isabella Dias para a coluna Contos Literários Encontre-a no Instagram: @cuidadoterapeutico
- Liberte-se do peso de memórias que ainda doem
Algumas lembranças chegam de mansinho, como cenas de um filme antigo: suaves, quase sem impacto. Outras, no entanto, parecem ter o poder de nos prender no tempo, trazendo de volta emoções e sensações que gostaríamos de deixar para trás. Muitas mulheres carregam essas marcas silenciosamente — situações de perda, relações abusivas, traumas de infância ou momentos de estresse intenso — sem perceber o quanto isso influencia suas decisões, relacionamentos e até a forma como enxergam a si mesmas. No consultório, é comum ouvir frases como: “Eu achei que já tinha superado isso.” “Não entendo por que ainda sinto medo quando lembro daquele dia.” “Meu corpo reage antes mesmo de eu perceber.” Essas reações não são fraqueza, nem sinal de que você “não conseguiu seguir em frente”. Elas fazem parte da forma como nosso cérebro armazena experiências marcantes — especialmente quando vividas sob forte carga emocional. E é justamente aí que entra um método que vem transformando vidas ao redor do mundo: a Terapia de Dessensibilização e Reprocessamento por Movimentos Oculares, ou simplesmente EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing) . O que é o EMDR e como ele funciona? Criado na década de 80 e amplamente estudado pela neurociência, o EMDR é uma abordagem psicoterapêutica integrativa , que pode ser realizada concomitantemente com outras abordagens , como Psicanálise, Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Terapia Sistêmica, entre outras. Essa técnica estimula os dois hemisférios do cérebro por meio de movimentos oculares, sons alternados ou toques leves nas mãos. O processo é conduzido por um terapeuta treinado, que guia a paciente para acessar memórias difíceis de forma segura e controlada. Enquanto a lembrança é revivida no campo mental, os estímulos bilaterais ajudam o cérebro a “reprocessar” essa memória, reduzindo sua carga emocional. Na prática, isso significa que você não “apaga” o que aconteceu, mas muda a forma como aquilo é sentido. Uma lembrança que antes provocava ansiedade, insônia ou até sintomas físicos passa a ser lembrada com neutralidade e sem sofrimento intenso. Fases da Terapia EMDR O EMDR segue um protocolo estruturado que geralmente envolve oito fases, desde a história clínica e preparação até a dessensibilização, reprocessamento e fechamento seguro da sessão. Tudo acontece com acompanhamento cuidadoso, garantindo acolhimento e segurança. Benefícios que vão além do trauma Embora tenha sido inicialmente desenvolvida para tratar Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), hoje o EMDR é utilizado para diversos desafios emocionais: Ansiedade e crises de pânico Fobias específicas (como medo de dirigir, voar ou lugares fechados) Luto e perdas Bloqueios emocionais Baixa autoestima e autossabotagem Traumas de infância Experiências em catástrofes ambientais ou grandes acidentes coletivos , como enchentes, desabamentos ou até tragédias como a explosão das Torres Gêmeas Um dos grandes diferenciais é que, muitas vezes, os avanços são percebidos em poucas sessões. Isso ocorre porque a técnica atua diretamente nos circuitos cerebrais ligados à memória e à emoção, evitando que a pessoa precise “reviver” a história repetidas vezes. Por que tantas mulheres estão buscando essa abordagem? Vivemos em uma época em que saúde mental deixou de ser tabu. As redes sociais abriram espaço para conversas mais honestas sobre traumas, vulnerabilidades e autocuidado. A cada dia, mais mulheres compreendem que não precisam carregar sozinhas o peso do que viveram. O EMDR se encaixa perfeitamente nesse movimento porque oferece: Resultados perceptíveis em menos tempo Segurança e acolhimento durante o processo Possibilidade de trabalhar memórias que a paciente prefere não detalhar verbalmente Uma sensação de liberdade emocional que impacta não apenas a mente, mas também o corpo Histórias que inspiram (e até os famosos aprovam!) O impacto do EMDR é tão significativo que até celebridades internacionais falaram publicamente sobre seus benefícios. Sandra Bullock , por exemplo, revelou ter recorrido ao EMDR para lidar com o estresse pós-traumático após uma invasão domiciliar. Em entrevistas e no programa Red Table Talk , ela contou como a técnica a ajudou a reduzir a sensação de insegurança e a reconhecer padrões nocivos em seus relacionamentos. O Príncipe Harry também relatou ter usado EMDR para lidar com traumas relacionados à perda da mãe e à exposição pública intensa. Outros nomes, como Paris Jackson , também compartilharam experiências positivas com a abordagem. Esses relatos reforçam algo importante: não se trata de “moda”, mas de uma terapia baseada em evidências científicas, validada por especialistas e adotada por pessoas do mundo todo. Um passo para uma vida mais leve Gosto de comparar a mente a um grande arquivo. Algumas pastas estão bem organizadas, mas outras ficam sobrecarregadas e difíceis de abrir sem causar dor. O EMDR ajuda a reorganizar esses arquivos, colocando cada memória no seu devido lugar, para que ela deixe de interferir no presente. Não significa esquecer ou negar o passado. Pelo contrário: trata-se de integrá-lo à sua história, mas sem permitir que ele defina quem você é hoje ou dite como você deve viver amanhã. Uma conversa de coração para coração Agora, quero te fazer um convite simples, mas poderoso. Feche os olhos por um instante e respire fundo. Pergunte a si mesma: O que ainda está pesando na minha história? O que eu gostaria de soltar para viver de forma mais plena? Talvez você não tenha todas as respostas agora, mas permita-se refletir. O simples ato de olhar para dentro já é um gesto de coragem. Lembre-se: você não precisa enfrentar tudo sozinha. Há caminhos, técnicas e pessoas prontas para caminhar ao seu lado. Com carinho, Dra. Silvana Lins Fundadora da Clínica Saúde e Longevidade Encontre-a no Instagram: @drasilvanalins
- A força invisível que move todas nós
Mulher, você já parou para pensar que, mesmo sem perceber, existe uma força silenciosa e invisível sustentando cada passo da sua vida? Ela está em você quando se levanta depois de uma noite mal dormida, quando segura firme as mãos de quem ama, quando decide seguir apesar do medo. Essa força não se mostra em músculos aparentes, mas na resistência interna que toda mulher carrega: no corpo, na mente e no coração. Ao longo da história, fomos ensinadas a silenciar dores, disfarçar fragilidades e, muitas vezes, esconder até mesmo nossos desejos. Mas o que acontece quando olhamos para dentro e reconhecemos que essa força não vem apenas de “aguentar tudo”, e sim da capacidade de sentir, transformar e renascer? O corpo como raiz da força No meu trabalho como fisioterapeuta pélvica, vejo diariamente mulheres descobrindo que o centro dessa força está no próprio corpo. O assoalho pélvico, tão pouco falado, é um exemplo. Ele sustenta órgãos, participa do prazer e tem papel fundamental no parto e no pós-parto. É uma musculatura invisível aos olhos, mas que dita muito sobre a qualidade da nossa vida. Essa força invisível não é apenas física. Ela se revela também quando uma mulher consegue dizer “não”, quando busca ajuda para uma dor íntima que a incomoda há anos, ou quando ousa admitir que merece prazer. O corpo, quando cuidado, se torna palco de autoconhecimento e empoderamento. Força não é ausência de vulnerabilidade Existe uma crença antiga de que ser forte significa não sentir dor, não demonstrar fraqueza, não se permitir cair. Mas a verdade é o contrário: a vulnerabilidade também é força. Reconhecer limites, pedir apoio, chorar quando necessário. Tudo isso é parte da potência feminina. É no espaço da vulnerabilidade que surgem as maiores transformações. Quantas vezes uma mãe, ao se sentir frágil no puerpério, descobre em si mesma uma coragem que nunca havia conhecido? Quantas vezes uma mulher, ao admitir uma dor na relação, encontra caminhos para recuperar não só a saúde, mas também a autoestima? A força coletiva que nos move Se por um lado existe essa energia individual, silenciosa, que cada mulher guarda, por outro lado há uma força coletiva ainda maior. Ela está presente nas mãos que se estendem, nas histórias que se compartilham, nos olhares que dizem: “você não está sozinha”. A cada paciente que acompanho, percebo como somos criadas com experiências semelhantes. Uma fala da outra, inspira, cura, e abre portas para que mais mulheres se libertem de culpas e tabus. Essa rede é ancestral. Nossas avós já nos sustentavam, nossas mães também, e agora nós somos parte dessa continuidade. E você, já reconheceu sua força invisível? Talvez você a sinta no corpo que pulsa, no coração que insiste, na respiração que te ancora. Talvez ela apareça na coragem de recomeçar, no desejo de viver com mais prazer, ou simplesmente no ato de existir em um mundo que tantas vezes tenta nos calar. Essa força é invisível porque não precisa se exibir: ela simplesmente está dentro de cada mulher, em cada fase da vida, aguardando ser reconhecida. E quando você olha para si mesma com cuidado e amor, percebe que nunca caminhou sozinha. A força que move todas nós, é também a força que move você. Mirella Bravo para a coluna Saúde Íntima Encontre-a no Instagram: @mirellabravofisio
- O depois da paixão
Hoje acordei cedo e decidi tomar café com a minha mãe. De vez em quando faço isso. Como tenho a cópia da chave, entro em sua casa, preparo o café e só depois vou até o quarto. Dou um beijo em sua testa, ela abre aquele sorriso tímido de quem ainda está acordando, e então nos sentamos para o nosso ritual de todas às vezes. Dessa vez, porém, uma frase dela me acompanhou o dia inteiro: “Vocês não estão mais apaixonados como no começo.” Ela se referia a mim e ao Daniel, meu companheiro de quase 3 anos. Na hora, eu tomava um gole de café que desceu mais amargo do que de costume. Precisei de alguns segundos para colocar a xícara de volta na mesa e levantar os meus olhos para aqueles grandes olhos amendoados, que esperavam uma resposta. Queria ter horas para pensar na resposta perfeita, mas só consegui dizer: “Acho que isso é normal em todo relacionamento, mãe.” Seguimos conversando, mas confesso: aquela frase não saiu da minha cabeça o dia todo. Afinal, quem não gostaria que a paixão avassaladora do começo durasse para sempre? O frio na barriga, a ansiedade por uma mensagem, o beijo que faz perder o chão... seria maravilhoso se fosse sempre assim, não seria? Depois da conversa de hoje, confesso que fiquei relembrando aqueles primeiros momentos... quando eu sorria sozinha pela rua ao ler uma mensagem, quando o coração disparava só de ouvir uma música, ou quando me deitava na cama à noite e ficava horas com o celular na mão - trocando mensagens que iam do riso tímido às conversas quentes que só os começos de namoro carregam. Mas a vida real nos mostra outra coisa: a paixão, com o tempo, dá espaço para algo mais silencioso, mas não menos bonito. O amor. Esse que se constrói no dia a dia, no dividir tarefas, no respeitar silêncios, no rir das pequenas coisas, no dormir com os pés conectados, no reconhecer o que o outro está pensando apenas no olhar. É diferente da chama inicial, mas é justamente o que sustenta o fogo para que não se apague. Pensando muito sobre isso, chego à conclusão que meu relacionamento está passando por essa transição, talvez deixando mesmo de ser paixão para se tornar amor. E abrigo. Talvez seja isso que minha mãe ainda não saiba - ou talvez saiba mais do que eu. Mas se entendemos que é o amor que sustenta, por que temos a sensação de faltar algo? Será que no fundo preferimos o caos da paixão à calma do amor? Ive Bueno para a coluna Universo Feminino Encontre-a no Instagram: @euivebueno
- Bahia
Única, para ser muitas Já desejei por uma vida livre a um relacionamento sério Observava o ir e vir de minhas amigas numa real e concreta inveja, Não sei se era meu casamento atual ou ainda os casamentos que tive antes, sempre me vi e me sujeitei a um lugar menor do que aquelas mulheres livres e até os homens que tive ao meu lado, a sensação que eu tinha era de não ser tão interessante quanto eles. Há um ano me separei ou melhor, meu marido, tomou a decisão de ir embora Entrou em uma ciranda de amor e sexo que não quis mais olhar pra trás, ficando apenas eu e meu filho pequeno, na minha desejada solteirice e todas as dores que eu jamais pude imaginar que existiam. Nunca tive coragem em me separar, desde a adolescência foi assim, sempre terminavam comigo, sofria com a dor mesmo sabendo que eu também não queria mais estar ali. Cresci assim, esperando ser desejada pelo desejo do outro. Nunca fui óbvia, até porque, nunca fui linda e em minha família era um pré-requisito de sucesso: a beleza! Então, fui em busca da minha. Pouco importava se era inteligente, viajada, culta. Necessário era apenas ser bela e magra, sim magra também. Mas não me enquadrei, busquei atrás de um cabelo desgrenhado longo, que por muitas vezes era para esconder o nariz grande que se tornou um charme, um olhar que atravessava o chão escondendo uma timidez e camuflando uma insegurança. Mas sobrevivi, a mim e a eles... família, tempo, homens. E sigo sobrevivendo ao longo dos meus 43 anos. Nascida em cidade pequena, daquelas onde todos se conhecem, um armazém e um ponto de jogo de bicho, lembro até hoje que desde que comecei a entender de números, ia ao seu João Oscar fazer uma fezinha, número 4 era meu número da sorte, cobra na cabeça dizia ele. Nunca gostei de lá, chovia tanto que as paredes da casa de meu pai escorriam água, pareciam chorar por dentro de tristeza. Gola alta, nariz vermelho, nossos corpos de meninas e meninos querendo descobrir a vida, mas eram cobertos por roupas que pareciam mais armaduras para cobrir nossos possíveis desejos. Recordo de sentir meu corpo junto com a primavera, nos dias mais quentes da estação, primeira vez em que toquei meu peito com mais demora eles já estavam grandes, vastos com mamilo vivo feito uma flor desabrochada. Mulheres nascidas no frio se descobrem mais tarde, se escondem por debaixo de seus panos, possivelmente uma descoberta diferente das mulheres nascidas regadas pelo sol, talvez elas tenham tido mais tempo de se demorar em suas carnes, meninas mulheres de terras quentes. Sempre senti muito frio, devia ser pelo meu frio da alma. Assim que pude, fugi pra Bahia, com meu filho embaixo do braço. Na Bahia eu sinto tudo mas, a primeira coisa que fiz foi abandonar meu sutiã, não quero mais nada que me prenda, inclusive tecidos que me apertem. Me apropriei da mulher que um dia desejei ser, agora na minha cama somente com tempo determinado para ir embora. O sol me acendeu e aqui descobri que sou filha de santo e às sextas-feiras eu visto branco. Aqui aprendi gostar do profano, das safadezas da pele, do que o diabo gosta. Tomo cerveja e rio alto, me excito com mulheres e homens. Dia desses tomando uma, encontrei Benedito, sujeito alto, magro, mas um tipo esnobe. Não me viu, mas eu quis ser vista. Levantei de minha mesa e esbarrei sem querer em sua mão. Me abri como um pavão macho ao querer cortejar uma fêmea. Abri meu rabo e ascendi meu fogo. Na quinta quis passar de novo na feira onde ele estava, dei com os burros na água, gastei meu último toco de batom vermelho, ele não estava lá mas, fingi um graças a Deus. Saí baixa, fazia tempo que queria um olhar que me pelasse inteira, peladinha mesmo, no pelo, os pubianos todos arrepiados e os bicos do peito em riste. Desiste do tal Benedito, vai que é brocha mesmo com nome de santo, com certeza a mãe criou para ser coroinha e fazer carreira de padre. Me refiz, aproveitei meu resto de batom e chamei umas amigas para dançar feito o diabo e já fui logo avisando que íamos beber até cair. Um cisco no olho borrou minha maquiagem e acabei no banheiro do bar. Barzinho moderno, sem essa de banheiro separado. Uma porta só para homens e mulheres. Mexi no trinco nada, duas batinhas nada, aí que a porta se abriu. A voz grave diz um “Oi” meio baixo, Bene... Benedito, naquela hora até gaga eu fiquei, os dois, olho no olho, um calor desses que diz a física que se dá no encontro de dois corpos, calorão do caralho que dá lá na buceta e só quem já sentiu entende. Daí que os olhos baixaram, tirei os meus dos dele e dei de cara direto com o pau, duro, teso. Nem deu tempo que ele visse meu batom, foi logo metendo a língua dentro da minha boca, sem nem dizer uma palavra. Aquilo ali já era antigo, tesão de alma, um reencontro. A gente não disse, a gente sentiu. Sentiu nossos corpos se contorcendo feito um só dentro daquele banheirinho sujo e pequeno. Caetano cantava, ele gemia no fundo “deixe que minha mão errante adentre. Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre...” minha alma sorriu pensando que o roteirista tinha escrito aquela cena com muito capricho. Tomei um banho com seu suor, ele me cravava os dedos com leveza, parecia tocar uma pétala de flor sensível, e me disse: ‘’sente, você merece.’’ Estou sentindo! Com meus olhos abertos sem querer perder nenhum minuto daquele nosso palco, teu olhar intenso, me via nos olhos dele, no teu prazer eu vejo o meu – nós autorizamos aquela putaria toda. Me fez gozar primeiro, queria que eu gozasse em seus dedos, para sentir meu gozo depois na sua boca, enquanto chupava dedo a dedo me olhando fundo. Aí sim, ele gozou, lembro daquele pau grande, duro, firme pingando porra entre minhas pernas e barriga. Toquei seu rosto e disse: te quero de novo! Sorri, com a segurança de quem estava escolhendo pela primeira vez em uma vida inteira. Não esperei por ele, escolhi por nós. Seguimos nos vendo, por um tempo. Até eu trocar Benedito por Amanda... Gabriela Prux para a coluna Papo de Bordel Encontre-a no Instagram: @gabiprux


















