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Queimaram os sutiãs, agora chegou a hora de queimar os rótulos!

Atualizado: 19 de fev de 2023

Narrativas são muuuuito perigosas!

Rótulos são caixinhas recheadas de julgamentos e preconceitos. São faixas que nos cobrem, nos enrolam e nos apertam como múmias embalsamadas.

Rotular é manipular!

Queimar os rótulos é o caminho mais rápido para acolher a subjetividade do feminino e nos libertar das entranhas do patriarcado.

Rótulos parecem facilitar a vida num primeiro momento, e, na infância, eles são colados pelos pais e pelos familiares sem grandes considerações. E sem maturidade para discernirmos, aceitamos, o que se torna depois uma questão para terapia por uma vida inteira.

Rótulos…

Nos dão pouquíssimas opções e, a partir do momento que os escolhem por nós (e nós os aceitamos), não há mais dúvida: basta seguir o roteiro.

Basta a garotinha linda nunca “enfeiar” e ser sempre a mais bonita da turma (obviamente, de acordo com os padrões e as pressões sociais vigentes); a menina inteligente nunca tirar uma nota abaixo de 9,5; a garota sapeca estar sempre aprontando; a burra nunca se esforçar nem muito menos se sobressair; a coitadinha estar sempre doente; a problemática seguir sendo o assunto da família. Basta aceitar para a pessoa alimentar o rótulo e abrir mão de toda a subjetividade.

“Se houver algum rótulo na sua testa, cabe apenas a você descolar e tacar fogo nele. Não espere ninguém vir te ajudar nessa tarefa.”

Narrativas nos tolhem, nos engessam, nos limitam. Existem tantas palavras no dicionário, e, ainda assim, aquelas que nos definiram seguem nos definindo e nos assombrando por toda a vida. E isso atende às necessidades escusas sociais, que não nos servem porque não nos permitem viver livremente a nossa subjetividade.

Se alguém me perguntar quem eu sou, não tenha dúvida de que terei dificuldades de responder, e tudo que eu disser talvez confunda mais o interlocutor do que esclareça sua dúvida. E quer saber o que mais? Que bom! Que seja assim mesmo!

Eu não sou apenas uma mulher de 49 anos, mãe de três filhos, psicanalista, casada com o Fernando, filha da Sonia e do Arnaldo. Não sou tímida o tempo todo nem muito menos expansiva e palhaça o tempo todo. Às vezes sou forte, às vezes sou frágil, às vezes me acho linda, às vezes tenho que fazer um esforço danado para isso, às vezes o mundo está errado, às vezes a errada sou eu.

Sou a combinação de todas as experiências que já vivi: fáceis, difíceis, boas, desafiadoras, de todos os papéis que represento e que já representei — seja por um dia, por uma década ou pela vida inteira —, de todas as dores que eu já senti, de todos os sonhos que sonhei, que realizei e também que me frustrei. Sou a soma dos meus medos e do meu esforço hercúleo em lidar com todos eles e transformá-los em amor. Nunca tive interesses únicos e simples, sempre fui curiosa e interessada em tudo o que me parecia fazer sentido em algum momento da vida, e isso já fez muitas pessoas caçoarem de mim, mas querem saber?

F&ˆ%$-se esses comentários! F&ˆ%$-se todos os rótulos que tanto insistem em colar na minha testa!

Eu não caibo nem quero caber em caixinha nenhuma. Nem quando eu morrer não quero que me aprisionem; quero que me permitam seguir voando e me espalhar com o vento por todos os cantos maravilhosos dessa terra!

Se houver algum rótulo na sua testa, cabe apenas a você descolar e tacar fogo nele. Não espere ninguém vir te ajudar nessa tarefa. Lembre-se: a única vida que se beneficia de alguma forma dos teus rótulos é a de quem os colou ali, e normalmente é em detrimento da sua liberdade de existir de verdade para facilitar a vida de quem não da conta de viver na sua própria autenticidade e liberdade.

Fabi Guntovitch para a Revista MS

Disponível nas colunas:

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