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Se vier quente, eu faço incêndio.

Atualizado: 28 de out de 2022

Por que nos julgamos tanto? Esse é um questionamento que tenho feito a mim mesma após uma conversa intrigante com um amigo.

Certo dia, enquanto eu escrevia páginas de um dos meus livros, um dos meus amigos me chamou no WhatsApp e pediu a minha opinião a respeito de uma conversa dele com uma garota. Desde a época de escola, eu era a menina que vivia cercada de homens. Sempre me identifiquei com eles – assim como acontecia com a minha irmã e a minha mãe. Claro que eu tinha amizades com garotas, mas meus melhores amigos eram todos homens, então eu estava acostumada a ouvir desde os assuntos mais sérios aos mais devassos.

Quando esse meu amigo veio me pedir conselho, eu sabia que era a respeito de algo voltado para o erotismo, porque ele havia acabado de curtir uma postagem minha no Instagram relacionada ao assunto.

“Agora as mulheres estão descobrindo o seu prazer e procuram homens que correspondam suas expectativas.”

Assim que ele me mandou o print da sua conversa com a garota, a minha primeira reação foi o espanto e dizer “que safada”. Um pouco abaixo do print, ele me perguntava o que eu achava daquilo. Basicamente, ele foi extremamente descarado e a garota respondeu à altura. O que o chocou um pouco.

A questão que me deixou reflexiva após essa conversa, foi a seguinte: Por que nós, mulheres, nos julgamos tanto? Por que estou inconscientemente julgando a menina por ter sido tão aberta a respeito de sexo quanto ele?

Mesmo me policiando, às vezes me pego atirando pedras, porque venho de uma geração que dizia que mulheres deviam ser recatadas. Que homens serem “safados” era normal, mas que nós, mulheres, não podíamos ser.

Esse é um pensamento extremamente machista e que atualmente me obrigo a não ter. Se meu amigo provocou a ousadia dessa garota, por que ele se chocou com a reação dela? Ela é tão livre para dizer o que pensa, quanto ele.

Em seguida disso, me deparei com outra pessoa do meu convívio dizendo que as mulheres “estavam mais ousadas”, o qual respondi: “Sempre fomos, só não podíamos demonstrar. Agora podemos”.

Durante muitos anos as mulheres eram obrigadas a fazer sexo apenas para ter filhos, a palavra orgasmo nem existia em seu vocabulário. Se perguntarmos às nossas mães, tias, e avós se elas gostavam de transar, em sua grande maioria responderão que “não”, que tinham relação apenas para satisfazer o seu marido. Algumas até demonstrarão certo pânico ao tocar no assunto, porque os maridos não se viam na obrigação de agradar as suas esposas, apenas a si próprio e, por vezes, até as machucavam.

Agora as mulheres estão descobrindo o seu prazer e procuram homens que correspondam suas expectativas.

Ainda que a sociedade torça o nariz, esse pensamento torpe que julga a mulher que gosta de se relacionar sexualmente e que adora falar baixaria, deve ser descontruído. Ela está no seu direito, na sua escolha. Ela é segura de si, sabe o que quer e como quer.

Portanto eu digo, querida amiga: se ele disser que vai te “foder” de quatro, se sentir vontade, diga que espera que ele aguente.

“Se ele perguntar se pode chamá-la de vadia durante o ato. Responda que ele deve primeiro fazer você gostar de ser uma.”

Se ele perguntar se pode chamá-la de vadia durante o ato. Responda que ele deve primeiro fazer você gostar de ser uma.

Você é uma mulher que tem desejos, tem sonhos, tem voz e ela deve ser ouvida…

Ou gemida.

R_Christiny escreve para a coluna Papo de Bordel

Encontre-a no Instagram @r_christiny