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“Cídio”


Vivo nessa bolha gigante que sustenta a minha vida. Vivo aqui dentro enquanto posso e enquanto tiver forças para sobreviver a você… sou um reflexo do que não deveria existir, mas existe. Sou a prova da sua fraqueza, do egoísmo constante que você insiste em propagar pelo mundo com os dizeres: “meu direito”. Sou eu quem precisa de cuidados, mas você se coloca à frente. Você não pensa um segundo sequer no quanto vai me machucar e no quanto vai custar o sofrimento que você vai colocar no meu caminho. Você não me quer ao seu lado e também não quer me dar a oportunidade de me deixar seguir adiante para, talvez, encontrar consolo nos braços de um outro alguém. Respiro mais rápido em busca do ar que nunca vou conseguir absorver. Busco Deus onde quer que Ele esteja para me proteger de quem deveria cuidar de mim. Imploro pela vida que não tive e entendo que minha hora está chegando.  Vejo meus sonhos se despedaçando em grandes promessas não cumpridas e sinto todas as emoções que me fariam degustar a graça que é viver passarem por mim como memórias do que eu não tive e jamais terei. Rezo por meus pais e peço perdão por não ter conseguido lhes mostrar o gosto do orgulho e do regozijo da vida em cada vez que eu apoiasse minhas mãos sobre as deles, em cada vez que eu contasse sobre o meu dia, em cada vez que eu voltasse para casa. Agora fecho os olhos e espero pelo meu cídio. Esse é o nome do senhor da morte, daquele que nos busca sempre que a nossa hora é escolhida, por nós ou pelos nossos amores… Fui! (morrer pelo “feminicídio do aborto“, que mata muitas mulheres que não tiveram a chance de viver nem um dia sequer…)

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