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A História por trás da Maria Scarlet

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Antes de falar sobre a criação da Maria Scarlet, peço licença para explicar que a Maria Scarlet não foi “CRIADA” e sim “ENCONTRADA”. Ela, que vaga há séculos por este Mundo de promiscuidade gratuita e que habita o imaginário masculino há milênios, me visitou em um dia frio, quando eu habitava uma parte do Globo terrestre próxima às Montanhas das Cordilheiras dos Andes.

Ela se aproximou, me disse seu nome e, sem nenhum pudor ou vaidade, apoderou-se do meu corpo, fazendo dele sua morada mais tenra e confortável. Por vezes brigou comigo quando minhas medidas se alargavam e meu discurso ácido se tornava efêmero e pacífico, com ares de romance de prateleira, sem sabor e sem adrenalina sexual legítima.

Fui levada ao limiar da minha capacidade e até hoje passeio pelo vale sombrio das descobertas sobre o ser humano, sobre sua capacidade de enxergar-se Deus onde só há trevas e sobre o seu poder de difamar os que caminham pela estrada da sinceridade e da verdade; até hoje, encontro razão em sua forma espontânea de rechaçar as inconvenientes armadilhas que elas, as outras, colocam no caminho e de jogar com os desejos não-concretizados daqueles que pensam estar no comando da minha sexualidade.

Antes de falar sobre a criação da Maria Scarlet, peço licença para explicar que a Maria Scarlet não foi “CRIADA” e sim “ENCONTRADA”. Ela, que vaga há séculos por este Mundo de promiscuidade gratuita e que habita o imaginário masculino há milênios, me visitou em um dia frio, quando eu habitava uma parte do Globo terrestre próxima às Montanhas das Cordilheiras dos Andes.

Ela se aproximou, me disse seu nome e, sem nenhum pudor ou vaidade, apoderou-se do meu corpo, fazendo dele sua morada mais tenra e confortável. Por vezes brigou comigo quando minhas medidas se alargavam e meu discurso ácido se tornava efêmero e pacífico, com ares de romance de prateleira, sem sabor e sem adrenalina sexual legítima.

Fui levada ao limiar da minha capacidade e até hoje passeio pelo vale sombrio das descobertas sobre o ser humano, sobre sua capacidade de enxergar-se Deus onde só há trevas e sobre o seu poder de difamar os que caminham pela estrada da sinceridade e da verdade; até hoje, encontro razão em sua forma espontânea de rechaçar as inconvenientes armadilhas que elas, as outras, colocam no caminho e de jogar com os desejos não-concretizados daqueles que pensam estar no comando da minha sexualidade.

A verdade é que a minha sexualidade faz parte do meu conjunto de coisas que me tornam tão irresistível quanto cruel; que me envaidece ao mesmo tempo em que me alavanca à patamares mais altos e que, por fim, me atira no coliseu das minhas vontades mais genuínas e mais obscuras…

Minha história precede à dela e remonta aos tempos em que eu trabalhava em uma grande empresa, conhecida por quase todos os seres humanos que se intitulam brasileiros e que, em algum momento de suas vidas, já usaram o seu combustível para levá-los onde precisavam ou queriam. Era nessa empresa, na Petrobras Distribuidora, que eu iria descobrir o real significado das palavras: traição, assédio, amizade, humilhação e amor.

Tracei minha rota da forma que pude, sem pensar muito em como iria sobreviver ao inferno do qual eu tentava emergir a todo custo… Era eu, uma jovem garota da Zona Sul, cujos pais demonstraram seu amor incondicional em doses maciças de proteção, cuidado e exageros, todos em compassos de sufocamento rotineiro. Fui até as esquinas sombrias da minha origem e busquei, sem pena de mim ou qualquer outro sentimento que subjulgasse minhas vontades em prol das razões que encontrava pelo caminho, e aguentei todos os insultos e elogios mal-intencionados.

Ouvi as discrepâncias que diminuíam meu talento e capacidades criativas, aceitei a humilhação de ter que ouvir maravilhas sobre meu trabalho, na mesma medida em que ouvia sobre as maravilhas das curvas que eu havia adquirido em meus treinos diários. Tentava fugir do estereótipo de modelo, cujos méritos se mantinham muito mais pela aparência do que pelo labor, mas, curiosamente era ali que minha fortaleza se mostrava invencível. A beleza, era o artigo de luxo dentro de uma instituição abastada de homens viris e sedentos por sexo. Era esta empresa, um verdadeiro antro de corvos prontos para abater as presas fáceis que se candidatavam às oportunidades oferecidas em seleções forjadas com indicações óbvias.

Felizmente não precisei entregar meu corpo em troca do cargo de analista de marketing da área de aviação, pois entrei como protegida do gerente da área, em uma blindagem totalmente eficaz do meu pai, que havia pedido por mim e que fora prontamente atendido. Ressalto aqui que este senhor jamais me assediou ou me desrespeitou, assim como alguns outros (poucos) com cargos ainda maiores, que prezavam pela elegância e cordialidade.

Aprendi muito neste período em que fui analista da área de aviação e alegro-me de ter conquistado minha liberdade financeira neste período, tão necessária para a minha sobrevivência quanto para a formação do ser humano que sou hoje: séria, firme e sabedora do que quer. Mas, no percurso da minha trajetória fui infiel ao namorado que, por vezes me maltratou verbalmente e fisicamente, tentava fugir de um cenário catastrófico em que meu quarto havia virado uma prisão, com requintes de crueldade. Via meus pais amando aquele que se apoderava de mim e do meu corpo como se fosse meu dono; sofria por não ter forças para sair desta situação de assédio e fui buscar abrigo nos braços daquele que viria a ser uma das paixões que tive na vida.

Ele era casado e eu acabei virando sua amante adorada. Não me importava realmente com os comentários maldosos feitos pelas dezenas de pessoas que frequentavam este espaço sagrado com as cores do Brasil estampadas a cada dez passos, no grande corredor do edifício “Edihb”, da Rua General Canabarro 500; mas não podia fingir que não os escutava através do vento gelado que soprava no vão da área de lazer, nos momentos em que íamos todos almoçar.

Tinha amigas fiéis, algumas poucas que trago até hoje e que fazem parte da história boa que conservo desse lugar; mas trago a traição de muitas, que aproveitaram qualquer brecha possível para difamar meu nome, já tão usado nos meus seis anos como contratada na empresa. Eram, na sua maioria, mulheres que sentiam inveja do “status quo” que eu possuía, uma pseudo-referência de prosperidade de uma frequentadora de Angra dos Reis, nas lanchas e mansões de conhecidos de amigas, que morava na Zona Sul do Rio de Janeiro, mas que na verdade não tinha um tostão furado no bolso e que, embora parecesse uma mulher forte e despachada, era, na verdade, uma menina que estava sofrendo muito…

Havia me afastado da minha referência de vida, minha Dinda, que amei tanto, tanto, mas que na época não podia admitir para mim mesma que meu amor era forte. Fui infiel à ela para que pudesse ser fiel à minha mãe e mantive-me firme neste propósito, a despeito das feridas que adquiri pelo caminho… tentei ir adiante, mas não conseguia concentrar-me com tantos sentimentos corroendo minha alma. Descobri anos depois que sofria de déficit atencional grave, além do problema da visão, que, ironicamente, me blindava para ver o que estava bem ali na minha frente.

Continuei até onde pude e aproveitei cada elogio fortuito para fortalecer minha posição de contratada, rezava para que meu contrato fosse renovado a cada 9 meses, e sabia que bastava uma assinatura de um dos gerentes da área; sabia que não era difícil, mas sabia também que teria que continuar a fugir das perguntas inconvenientes sobre qual era a minha posição preferida na cama… era um jogo perverso, um daqueles em que você está preso e, se gritar, você é expulso de campo sem nenhuma explicação. Bastava mostrar-me descontente com algo que a ameaça de não me sentar na cadeira que eu ocupava crescia.

E o que mais me lembro desta época era o olhar do homem gordo que se sentava perto de mim e da mulher loira com olhos claros, ambos concursados, ambos com ódio no coração e desejo de me ver ferida ou morta. Eles não tinham pudor em admitir que eu deveria ser tratada quase como uma “escrava”, já que eu não passava de uma mera “contratada”. Havia brigas homéricas na gerência para me tirarem de reuniões ou para diminuírem minhas atribuições; minhas fiéis amigas, apesar de também serem concursadas, pediam pela minha presença, que era definida como necessária, afinal, na época ninguém tinha conhecimentos sólidos de marketing naquela gerência…

E os anos que se seguiram foram difíceis, bem mais do que consigo explicar por aqui, nesta curta mensagem. Mas minhas preces foram atendias e, no final, tudo deu certo. Encontrei uma pessoa especial nos corredores dessa empresa, cheia de malandros e pombas-giras enrustidos e postulantes a homens castos e “moças de bem”, beijei o demônio que me acompanhava e permiti que ele se soltasse em busca daquele que viria a ser o grande amor da minha vida. Fui sua amante por exatas duas semanas e, após esse período recuei. Estava comprometida com um namorado bom, o primeiro que havia tido em toda a minha existência e sabia que minha vida seria muito mais fácil ao lado dele… mas meu atual marido não me deu alternativa e me mostrou que era bem mais louco que eu, quando me ligou e me pediu em casamento em uma terça-feira chuvosa, cheia de promessas e adrenalina. Não consegui dizer não aquele que havia me enfeitiçado por completo!

O engraçado é que a “bruxa satânica que roubou o marido da outra” era eu, mas o feitiço havia partido dele; da sua forma doce de olhar, do seu jeito acolhedor, do tom de voz forte e meio nasalado, do beijo melado em que ele me deixava inebriada dentro da sua sintonia e do cheiro que ele exalava, um cheiro que me remetia ao conceito de “casa”. Com ele eu havia, finalmente, chegado em casa.

E foi ela, minha Maria Scarlet, quem sussurrou em meus ouvidos: “Vai!”.

E eu “fui”…

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