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  • “Os seixos”

    Ao ser cumprimentada pela cunhada, Leda captou seu olhar de desdém mesmo estando de costas, como se ouvisse um som, uma vibração... E nesse mesmo instante, percebeu a rapidez com que sua imaginação foi se refugiar nas águas quentes do rio Eurotas, no dia em que sentiu uma energia erótica brotar de seu próprio corpo. Lembrou-se do momento em que deitou à beira da margem para desfrutar da sensação quentinha sendo provida pelos raios solares. Percebia suas costas sendo acariciadas pelo suave vaivém das águas do rio. Notava um misto de sensações. Havia certa volúpia, experimentada por uma pulsação na região por entre as suas pernas e um eriçar do bico dos seus seios, ao mesmo tempo em que tinha um relaxamento na maior parte dos músculos. Ouviu o canto da águia. Sentia-se entregue ao acaso. No entanto, o ruído de alguns seixos se chocando, fez com que sua nuca enrijecesse. Ainda assim, conseguiu girar sua cabeça no sentido do barulho. O brilho do sol nos seus olhos fez sua visão ficar turva. Teve a impressão de que fosse um animal, e por mais estranho que pudesse parecer, teve o pressentimento de ter visto a presença de um cisne. Talvez, e com toda certeza, estivesse tendo algum tipo de alucinação visual. Fechou as pálpebras e se deixou levar pelo entorpecimento prazeroso de ter seu corpo semi coberto pelas águas de temperatura uterina. Começou a perceber mais seu estado interno, os sons ficaram distantes e um grande silêncio ia se presentificando. Adormeceu e logo começou a sonhar. O cenário permanecia o mesmo, porém o seu senso perceptivo parecia ter se ampliado, se tornou tão sensível que era capaz de ouvir com precisão cada seixo que se movimentava, o murmúrio das águas e o farfalhar das folhagens ao redor. E, como já esperando, sentiu uma mão tocar-lhe o seio e seus pulmões passaram a arfar num ritmo intenso. Sentiu-se sendo tocada nas suas nádegas, seguindo-se pelas coxas até as virilhas despertando um arrepio quente que subia pelas costas e que ardia no colo empinado. Leda tinha uma urgente ânsia por satisfação, torcia a cabeça de um lado a outro e mordiscava os lábios numa sofreguidão lasciva, num desejo intenso e impetuoso até que soltou um grito.  Sobressaltada acordou, ouvindo dirigir-lhe a pergunta: Está tudo bem, cunhada? E Leda, sentindo um amor incondicional pela vida e por todos os seres, deu-lhe um beijo na testa e seguiu para a cerimônia do chá. Isabella Dias para a coluna Contos Eróticos Encontre-a no Instagram: @cuidadoterapeutico

  • ANATOMIA DAS NOSSAS VULVA E VAGINA

    Olá, queridíssima leitora! Que felicidade por estar compartilhando conhecimento em mais uma edição dessa revista tão incrível. Esse mês quero entrar no assunto “Anatomia dos Genitais”, da nossa vulva e vagina. Tenho conhecido cada vez mais mulheres que nunca olharam para sua vulva e mal sabem diferenciar a uretra do introito vaginal. Você sabe? Então vamos começar no “beabá”:  Vulva = toda a parte de fora do seu genital. Vagina = toda a parte de dentro do seu genital. Até bem pouco tempo não se falava na vulva. Era como se tudo fosse uma coisa só e, nos livros de anatomia, a vulva não aparecia nas ilustrações, ela era retratada somente por um “V”. Olha só: Essa imagem foi retirada do livro “A Origem do Mundo” da Liv Stromquist, que por sinal RECOMENDO! Bem, se a vulva não aparecia, imagina então o clitóris! Helen O'Connell foi a médica urologista australiana que estudou, dissecou e descreveu com todos os seus elementos a anatomia completa do clitóris numa data bem recente, o ano de 1998. A cirurgiã detalhou sua vascularização e constatou que sua inervação era mais potente do que previamente observado. Além disso, incluiu os bulbos cavernosos como parte da estrutura, de forma piramidal, e explicou suas relações com a uretra e a vagina. O clitóris é o único órgão projetado exclusivamente para o prazer! Que tal?  Ainda sobre o clitóris:  O clitóris é um órgão que não envelhece. Assim como o pênis, o clitóris também tem ereção quando cheio de sangue por conta da vasconstrição quando estamos excitadas. Ele tem em torno de 10 mil terminações nervosas. Mais do que o dobro do pênis (em torno de 4 mil). Pênis e clitóris: Os dois são chamados órgãos homólogos, pois têm a mesma origem embrionária e são semelhantes na sua estrutura interna, embora possam ter funções diferentes. Recomendo que todas as mulheres peguem um espelhinho e reconheçam suas próprias vulvas. Elas são compostas por: Monte pubiano – ou vênus Capuz do clitóris Glande do clitóris Abertura da uretra (área U) Lábios externos e internos (grandes e pequenos) Glândulas Parauretrais (skeene). Glândulas Vestibulares (bartholin) Abertura do canal vaginal – possível resto hímen Já nossas vaginas (e nesse caso você pode explorar com o dedo) são compostas por: Esponja Uretral Esponja perineal Área G  Cérvix (colo do útero) Minha sugestão como educadora sexual somática: Explore seus genitais ativando todos os 5 sentidos. Até paladar? Sim, porque não? Comece sempre com 3 respirações profundas e lentas. Inspira e expande o abdômen, expira e solta todo o ar trazendo junto o som da vogal A. Escute o som do seu prazer e relaxamento. Toque todas as partes, entenda o que te dá prazer. Entenda qual intensidade e velocidade você gosta em cada toque. Olhe para sua vulva com amor. Não tem vulva certa nem errada, nem bonita ou feia. Tem a sua! Sinta seu cheiro e seu gosto. Entenda quanto tempo você leva para estar com a vulva cheia de sangue, clitóris ereto e num platô de excitação bem gostoso. APROPRIE-SE DO SEU CORPO E DOS SEUS GENITAIS! Conta pra mim o que achou deste conteúdo? Com amor, Lu Terra. Lu Terra para a coluna Terapia Sexual Encontre-a no Instagram: @luterra.terapeuta

  • Livro: Se a casa 8 falasse

    Três histórias, uma casa e um cachorro de três patas com o nome de Keanu Reeves! Com uma narrativa bem diferente, acompanhamos, através do olhar e visão da casa, a trajetória de cada morador, como também, suas angústias, frustrações, alegrias e receios. Cada história acontece em épocas distintas e a primeira delas se passa em 2000, onde vamos conhecer Ana. Uma jovem que mora com o pai em Lagoa Pequena na casa 8 sua vida toda, mas que quando recebe a notícia do pai que precisam se mudar ela fica completamente sem chão, principalmente por saber que precisa deixar para trás alguém muito importante e especial, sua namorada. A forma como o pai dela lidou com tudo e como trouxe calmaria para os dias da filha foi espetacular. Afinal, às vezes a dor da despedida e o medo do novo pode nos corroer por dentro, ter alguém para segurar nossa mão em momentos assim faz toda a diferença. Já em 2010, temos a história de Greg, um jovem que precisa lidar com o divórcio dos pais e que é enviado para passar uns dias na casa da tia que pouco tem contato. A convivência entre eles será um desafio, mas com alguns ajustes conseguirão lidar com cada situação. Em meio a esse convívio, Greg vivencia novas sensações, além de ajudar a tia com sua locadora que está praticamente falida. E com isso, na casa 8 uma linda história sobre descobertas e inovação acontece. A ajuda pode vir de onde menos esperamos. E por fim, no ano de 2020, vamos conhecer a história de Beto, que ao lado da mãe e irmã tenta se adaptar à nova realidade no auge da pandemia, tendo que conviver da melhor forma possível, além de lidar com suas próprias questões e dilemas. Para ele ter seus planos adiados por conta da pandemia foi dilacerante. Mas conforme os dias vão se passando ele encontra maneiras de fazer a diferença sem esperar pelo momento perfeito. Por mais difícil que possa ser, o confinamento pode gerar bons frutos e, quem sabe, algumas alegrias também! O autor conduziu essa narrativa de maneira bem leve e com um belo toque de humor, tornando a leitura prazerosa, assim, nos conectando facilmente com os personagens e com suas emoções. Ao finalizar essa obra notei que a casa pode representar cada pessoa, onde por fora transmite uma imagem que, por muitas vezes, não expressa nem sequer um pequeno grão da imensidão que carrega dentro de si. Uma casa que além de lar, guarda os amores, as dores, as consequências das escolhas, os medos, mas que em hipótese alguma deixa de acreditar em dias e momentos melhores. “...Tenho saudades de morar aqui, mas me dei conta de que a casa não é só um lugar. Nossa casa é a gente. E ela pode até ter um azulejo rachado no banheiro ou uma maçaneta que cai toda vez que a gente bate à porta com força. Às vezes a gente fica olhando a casa dos outros e pensando “nossa, se morasse ali eu seria mais feliz”, mas, no fim das contas, essa sensação de lar não vem de um lugar. Vem de dentro.” Uma história que te faz refletir sobre a vida, sobre nossas relações e como lidamos com tudo. Uma obra que te fará sorrir, sofrer e torcer por cada personagem e que ao final te deixará com o coração transbordando de bons sentimentos, querendo guardar todos em um potinho de tão amor que são. Livro: Se a casa 8 falasse Autor: Vitor Martins Páginas: 336 Editora: Alt Classificação: +18 Gênero: Ficção LGBTQ + YA  Andressa Adarque para a coluna Resenha da Maria Scarlet Encontre-a no Instagram: @meuladoleitora

  • Não me julgue pela maternidade, e sim pelas minhas entregas.

    A decisão sobre se e quando engravidar é sempre cercada de incertezas, principalmente se você busca conciliar com seus objetivos de carreira. Parece coisa do passado, mas este momento ainda traz uma enorme carga de ansiedade para as mulheres, que ficam tentando encontrar o momento ideal. Uma pesquisa norte americana revelou que aproximadamente 36% das mulheres adiam a maternidade devido à preocupação com o impacto que terá em suas carreiras. [1] No Brasil, de acordo com levantamento do Ministério da Saúde, a porcentagem de mulheres que optou pela maternidade após os 40 anos aumentou para 49,5% em 20 anos. O medo do impacto na carreira é um dos fatores que leva as mulheres a adiar a maternidade até um momento em que se sintam mais seguras em suas posições profissionais. E não é uma neura sem fundamento, não. A sociedade impõe dificuldades significativas às mulheres em termos de igualdade de gênero e a maternidade realmente impacta o progresso profissional das mulheres. As pesquisas comprovam isso. Uma pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2016, revalidada nos anos 2019 e 2000, mostra que cerca de 50% das mulheres perdem o emprego depois do início da licença-maternidade. Além disso, depois da maternidade, metade delas se distancia de seus ambientes de trabalho no período de 4 anos após o nascimento do filho, ou seja, durante a primeira infância. A queda no emprego se inicia imediatamente após o período de proteção ao emprego garantido pela licença maternidade e após cerca de 2 anos, quase metade das mulheres que tiram licença-maternidade já está fora do mercado de trabalho, sendo que a maior parte das saídas se dá sem justa causa e por iniciativa do empregador. Entre os homens, apenas 15% deixam seus empregos depois de terem filhos. [2] Dados do IBGE de 2021 revalidam esse ponto, indicando que o nível de ocupação das mulheres de 25 a 49 anos que vivem com crianças de até três anos era de 54,6%, contra 89,2% no caso dos homens na mesma faixa etária e situação. Ou seja, é principalmente a mulher que deixa o trabalho para cuidar do filho. A “penalização da maternidade”, termo dado a esse efeito social, é tema explorado em diversos estudos internacionais e apontado como responsável por uma proporção significativa da disparidade salarial entre homens e mulheres. O Relatório Mulheres no Trabalho da PwC (2023) indica que as mães registram uma queda de 60% nos rendimentos em comparação com os pais na década seguinte ao nascimento do primeiro filho, e além disso, têm saldos de pensões mais baixos no final da sua vida profissional. Ou seja, mães progridem menos na carreira que os pais. [3]   Também há disparidade salarial entre mães e não-mães e há estudos que mostram que mulheres visivelmente grávidas são julgadas como sendo menos comprometidas com os seus empregos, menos confiáveis, mais emocionais e mais irracionais do que gestoras não grávidas. Isso acarreta perda de rendimentos ao longo da vida pelas mulheres que criam os filhos, pelo subemprego e pela progressão mais lenta na carreira após o regresso ao trabalho. Eu também demorei a tomar a decisão de engravidar. Nunca parecia ser o momento ideal.   E olha que reconheço que tinha uma condição de privilégio em relação à maioria das mulheres ao fazer essa escolha, porque tinha um emprego formal e público, com benefícios, como licença maternidade remunerada e garantia de retorno após a licença. Contudo, exercia função de liderança, que era uma liberalidade da empresa. Não estava em risco o meu emprego, mas poderia estar a função, que tinha forte impacto na nossa renda familiar. Após a chegada de um novo chefe, executivo de renome na empresa e que vinha de um período longo na área anterior, suscitando estabilidade, e considerando que ele vinha substituir alguém que tinha sido promovido a uma posição C-Level na organização, o que conferia um certo status  para a nossa área, pareceu que o momento ideal havia chegado. Levaria a gravidez trabalhando normalmente até o último momento e seriam só 4 meses de ausência. Tudo parecia perfeito. Mas há coisas que a gente não consegue prever. Eu tive uma gravidez gemelar de risco, devido a uma anomalia uterina, o que me levou a um quadro de cuidados. Não podia fazer esforço, não podia dirigir, não podia viajar. Imagina não poder viajar quando se atua numa área com unidades espalhadas pelo Brasil e antes da facilidade das videochamadas! Eu realmente me vi limitada para exercer plenamente minha função e minha rotina. Aí entrou meu chefe, que, sem qualquer pedido meu, transferiu todas as reuniões do nosso ciclo de gestão que aconteceriam nas nossas unidades fora do estado para o Rio de Janeiro, para que eu pudesse participar. Ele teve empatia pelo meu momento e permitiu que eu continuasse a exercer minhas atribuições. Sem contar as muitas vezes em que me viu no trabalho além do horário e praticamente me expulsou para que eu fosse para casa descansar. Era um comportamento quase paternal. Ele parecia se preocupar genuinamente com meu bem-estar e recomendava ao meu time que zelasse também, embora não precisasse. Não consegui trabalhar até o final da gestação, como planejara. Tive que antecipar a licença e passei o último mês de repouso total, na cama, cheia de remédios e injeções para conter o risco de parto prematuro e garantir que chegássemos a 37 semanas. Mas esse período fortaleceu minha fé em Deus e nas pessoas. Reforçou minha crença na importância do cuidado genuíno uns com os outros, pois a gente pensa que pode planejar tudo, mas não pode, que pode dar conta de tudo, mas não pode. E quando o impensável acontece, a gente precisa contar com quem está ao nosso lado, não só em casa, mas no trabalho também. A maioria das mulheres passa pela gestação trabalhando plenamente até o final. O meu caso é que foi exceção. Também foi exceção o fato de que, poucos meses depois do meu regresso da licença, ainda fui promovida. Definitivamente, a maternidade não nos limita. O preconceito é que sim. Eu sonho que possamos evoluir como sociedade e no desenvolvimento de políticas públicas para que todas as mulheres tenham a possibilidade de decidir pela maternidade sem serem julgadas ou se verem fadadas à estagnação de carreira. Este é o meu apelo nesse mês das mães. A dificuldade das mulheres para conciliar carreira e maternidade é um problema real e, por sua própria natureza universal, deveria contar com o suporte de toda a sociedade. É injusto e absurdo que, ao contrário disso, sejamos penalizadas. Precisamos nos questionar, como cidadãos e como entes da estrutura familiar, sobre esse ônus que recai sobre as mulheres. É urgente impulsionar mudança de mentalidade, não só dos homens, para que avancem no compartilhamento de responsabilidades, mas também de mulheres que aprenderam a naturalizar as condições impostas. Promover licença parental (e não "maternidade"), com iguais direitos, seria um incentivo formal a essa reconstrução, pois a legislação, ao atribuir apenas às mulheres o direito ao afastamento do trabalho para cuidar dos filhos, estabelece a diferenciação profissional entre os gêneros e perpetua esses papeis. E quando se trata de mães solo, então, a necessidade de políticas públicas de suporte, como creches, se torna ainda maior, pois elas precisam ter condições de regressar ao mercado de trabalho e garantir o sustento da família. É fundamental criar políticas para permitir que as mulheres equilibrem as responsabilidades familiares com a carreira, com salários equitativos, horários flexíveis, estrutura de apoio para o exercício desse papel e segurança no emprego após a licença maternidade. Isto é sobre equidade e inclusão, tema tão em voga na atualidade. Eu sou profundamente grata àquele chefe ( in memoriam ), por ter me permitido a tranquilidade e a segurança psicológica para trabalhar, sabendo que ele entendia minhas limitações, mas sabia que isto não comprometia minhas entregas. Eu sou muito grata a cada uma das pessoas do meu time daquele ano, por todo o carinho e cuidado, que excedeu a relação profissional. E, acima de tudo, eu sou grata a Deus, que me permitiu ser mãe de gêmeos saudáveis, conciliar com a minha carreira e poder contar essa passagem aqui. Mas não podemos depender da visão particular de um líder, como eu tive a sorte de encontrar. Precisamos de medidas intencionais e abrangentes nas organizações para proporcionar um ambiente de trabalho acolhedor e inclusivo em que a maternidade deixe de ser uma questão. Eu sonho que possamos evoluir como sociedade e no desenvolvimento de políticas públicas para que todas as mulheres tenham a possibilidade de decidir pela maternidade sem serem julgadas ou se verem fadadas à estagnação de carreira. Este é o meu apelo nesse mês das mães. Érica Saião  para a coluna Mulher & Carreira Encontre-a no Instagram: @ erica.sa iao   [1]  Pesquisa da empresa americana Win, provedora de benefícios de construção familiar, com 1.000 mulheres norte-americanas [2] Pesquisa FGV [3] PwC’s 2023 Women in Work Index

  • Frágil, eu?

    Se você já fez mudança de residência ou recebeu encomenda que exige cuidado no transporte, já viu aquela etiqueta na caixa escrito “frágil”. A gente logo entende que contém algo que pode ser quebrado por um choque. O termo frágil também é usado para pessoas, quando se referem a quem necessita de cuidados, ou é delicada, e até quem é emotiva. Você já deve ter ouvido falarem que o bebê é frágil ou alguém tem uma saúde frágil, por exemplo. E certamente sabe que até já associaram a mulher ao termo frágil (sem comentários!). Isto tudo é só para contextualizar que vamos falar aqui sobre a palavra do momento: antifrágil. Diferentemente do que a gente pode pensar numa associação direta, antifrágil não é algo que não pode ser quebrado. No conceito proposto por Nassim Nicholas Taleb, no livro "Antifrágil: Coisas que se Beneficiam com o Caos", antifragilidade está relacionada à capacidade de resistir a choques e ainda se fortalecer e prosperar com a adversidade. Trocando em miúdos, após um impacto, o que é antifrágil não só volta ao seu estado original como ainda fica melhor. E antes que você (se) pergunte, este conceito não é igual ao da resilência. Antifrágil vai além, porque algo resiliente volta ao seu estado original. Antifrágil evolui. Dá para imaginar? Um exemplo bem simples para fazer uma analogia é o que ocorre com nossos músculos quando fazemos treinamento físico. Se você curte um treino, sabe como é. A intensidade dos exercícios gera estresse muscular, mas o corpo se recupera e ganha condicionamento. Ou seja, o corpo acaba se beneficiando do estresse. Conceito entendido na teoria! Mas por que tem sido tão comentado no meio corporativo? Porque a antifragilidade desafia conceitos tradicionais e nos impulsiona a abraçar o caos e encarar as “perturbações” como oportunidades de crescimento e melhoria. Um profissional antifrágil no meio corporativo seria aquele que tem mentalidade aberta para lidar com a incerteza, a volatilidade e os desafios. Tem coragem e curiosidade para explorar alternativas de resoluções de problemas. Em vez de temer o fracasso, aceita como oportunidade de crescimento e aprendizado e segue em frente. Concorda que isso vale para a vida? Pensa na sua história e tenta focar no momento de maior tribulação. Como você ficou depois que tudo passou? Tenho certeza que criou casca para antever e encarar esse tipo de situação. Saiu fortalecida e mais preparada. Um profissional antifrágil no meio corporativo seria aquele que tem mentalidade aberta para lidar com a incerteza, a volatilidade e os desafios. Tem coragem e curiosidade para explorar alternativas de resoluções de problemas. Em vez de temer o fracasso, aceita como oportunidade de crescimento e aprendizado e segue em frente. Concorda que isso vale para a vida? Se você leu o meu texto “Permita-se ser vulnerável”, publicado aqui na coluna, pode ter ficado com a seguinte dúvida: é para se permitir ser vulnerável ou para ser antifrágil? Posso responder que, embora não pareça à primeira vista, antifragilidade tem tudo a ver com vulnerabilidade. As duas coisas andam juntas, pois a vulnerabilidade se refere à disposição de reconhecer e expor fraquezas, e reconhecer a própria vulnerabilidade é o primeiro passo para se tornar antifrágil, pois permite identificar em que a gente precisa melhorar e se adaptar. Afinal, a gente só pode se fortalecer quando reconhece e enfrenta suas fraquezas.   Além disso, ser vulnerável no ambiente de trabalho significa ser capaz de admitir erros e pedir ajuda quando necessário, reconhecendo as próprias limitações para se desenvolver. Aproveitar as oportunidades para aprendizado contínuo e crescimento é essencial para a antifragilidade. A vulnerabilidade também pode envolver a aceitação de que você não tem todas as respostas e que está disposto a experimentar e aprender com a incerteza, e a antifragilidade envolve justamente a aceitação da incerteza e a disposição de se adaptar a eventos imprevistos. Portanto, a relação entre antifragilidade e vulnerabilidade é estreita e à medida que a gente assume as nossas vulnerabilidades e trabalha nelas, vai se tornando mais antifrágil. Fez sentido para você? Enfim, ser antifrágil tem um quê de tudo que temos ouvido nos últimos tempos como as características profissionais requeridas pelo mercado: adaptabilidade, inteligência emocional, habilidades analíticas e de resolução de problemas, capacidade de análise das falhas e uso do conhecimento para melhoria contínua. Então, da próxima vez que você se perceber no meio de uma mudança e cercado de incertezas, lembre que você não está dentro da caixa com a etiqueta “Frágil”. Não se tranque numa caixa imaginária esperando tudo passar, ou você poderá se quebrar antes de chegar ao destino. Seja vulnerável para reconhecer que não sabe para onde estão indo, mas assuma o seu papel para impulsionar a melhor direção. Isto é ser “antifrágil”. Frágil, eu? Nem pensar! A gente nasceu pra ser antifrágil! Érica Saião  para a coluna Mulher & Carreira Encontre-a no Instagram: @ erica.sa iao

  • Deixe para depois

    Poderia ser mais um fim de um dia de trabalho atribulado, quando entra uma mensagem que tira você do 12x8 (sim, a pressão arterial normal rs ). O sangue parece que vai todo para a cabeça e a sua reação é começar a digitar incessantemente, soltando raios pelos dedos no teclado e colocando todos os pingos nos is. Você precisa vomitar ( sic ) tudo ou nem vai conseguir dormir direito com aquele sapo entalado na garganta. Já sentiu isso? Pode ser uma crítica não contextualizada, pode ser uma interpretação equivocada, pode ser uma injustiça deliberada. Enfim, eu tenho certeza que você já viveu algo assim. Ou talvez já esteve do outro lado, querendo enviar aquele e-mail ou whatsapp que diz mais sobre o que você está sentindo do que o que você está propondo. Ou fazer aquela ligação destemperada no final do dia que só vai gerar aborrecimento, para você e para o interlocutor. Aquele contato que no fundo tem só um objetivo: canalizar a sua raiva. (Sim, as pessoas sentem raiva, e tudo bem). Se identificou? Então, vamos conversar sobre como lidar melhor com esses casos? Antes de mais nada, preciso assumir que eu estou longe de ser referência neste assunto. Mais de 20 anos de vida corporativa e sigo aprendendo a reunir as ferramentas para lidar melhor com essas situações ou para juntar os caquinhos dos estragos. Mas de uma coisa estou segura: isto vai continuar acontecendo. Comigo e com você. Porque nós não somos e não desejamos trabalhar como robôs. Queremos, sim, sentir e compartilhar sentimentos no trabalho, diferentemente do que se valorizava no passado, e, portanto, estamos cada vez mais expostos a essa montanha-russa de emoções. Queremos, sim, sentir e compartilhar sentimentos no trabalho, diferentemente do que se valorizava no passado, e, portanto, estamos cada vez mais expostos a essa montanha-russa de emoções. Tá bom, mas então é isso? Vamos aceitar que as coisas são assim e pronto? Não, não foi isso que eu quis dizer. Sim, continuaremos nos deparando com estas situações e por isso precisamos aprimorar a forma como lidamos com elas. Esta é uma das habilidades da inteligência emocional: regular as emoções, em vez de permitir que elas nos regulem, descobrindo estratégias para lidar com o que nós e os outros sentimos. Já foi provado que as emoções desempenham um papel importante nos processos de julgamento e comportamento e que as pessoas têm um viés natural de perceber mais facilmente as informações alinhadas com o seu estado de humor. E aqui entra um ponto validado por neurocientistas, psicólogos e pesquisadores: quando estamos sob fortes emoções - sejam positivas, como alegria e entusiasmo, ou negativas, como raiva,  tristeza e estresse -, percebemos o mundo de forma diferente e isto influencia nossa tomada de decisão. Assim, a melhor atitude quando estamos nesta condição é deixar para depois. Por isso, aquele e-mail ou aquele textão no whatsapp pode (e deve) ficar para depois. Sim, continuaremos nos deparando com estas situações e por isso precisamos aprimorar a forma como lidamos com elas. Esta é uma das habilidades da inteligência emocional: regular as emoções, em vez de permitir que elas nos regulem, descobrindo estratégias para lidar com o que nós e os outros sentimos. Sei que isso pode parecer mais um desafio emocional, afinal, existe uma “pressão” para respondermos a tudo quase em tempo real, então, querer responder na hora o que nos incomoda é como “unir a fome com a vontade de comer”. Mas, neste caso, é melhor segurar esse direcional de prontidão e deixar para depois, sim. Tente desviar o pensamento, procure fazer algo prazeroso. Tome um cafezinho, jogue conversa fora com um amigo. Vai treinar ou fazer uma caminhada para liberar essa energia. Desabafe com o terapeuta, faça uma meditação. Escolha algo que ajude a colocar o assunto no compartimento mental “depois eu cuido disso”. Pelo seu próprio bem. Quando o calor do momento passar, você conseguirá avaliar com mais clareza o assunto e as circunstâncias e será capaz de responder de forma mais ponderada e objetiva, colocando na perspectiva certa. A vida já nos oferece desafios e situações difíceis que não podemos evitar. Alguns golpes que a gente não entende porquê, como doenças ou perdas, que afetam profundamente aquilo que realmente importa. Então, temos que zelar para não sermos catalizadores do “desequilíbrio da Força” (referência nerd  com orgulho rs ). Vamos nos esforçar para evitar inflamar situações quando estiver na nossa zona de controle. Podemos errar em algumas, mas não podemos permitir a postura desenfreada de sair soltando tudo só para se sentir melhor, sem pensar nas consequências. O que falamos, fazemos ou deixamos de fazer reflete no nosso meio e nós também absorvemos os impactos. Então, na hora de fazer uma ligação ou enviar uma mensagem “daquelas” no final do dia, pare. Não ligue. Não envie. Pode esperar até amanhã. Érica Saião  para a coluna Mulher & Carreira Encontre-a no Instagram: @ erica.sa iao

  • Nhoque da vovó com molho carbonara

    Receita vencedora do concurso Você Na Cozinha da MS Ingredientes: Nhoque Massa Nhoque 300g de batata Asterix 2 gemas de ovo 100g de farinha 150g de parmesão ralado  Molho carbonara: 6 gemas 200g barriga de porco 200g de parmesão ralado Gordura da barriga de porco Para marinada da barriga de porco: 50ml de shoyu 30ml de mostarda 5g de sal 20ml de suco de limão  Modo de preparo: Nhoque: Colocar as batatas em uma assadeira, cobrir com papel alumínio e levar ao forno até que estejam macias. Isso vai depender da potência do forno. Assim que estiverem cozidas, retire a casca (com cuidado, mas precisa ser quente), passe as batatas em uma peneira de ferro para não ter grumos. Depois das batatas frias, misture as gemas, a farinha e o parmesão, sempre apertando com as mãos (massa de nhoque não pode sovar), até que ele fique homogêneo e liso. Cortar a massa em porções menores, amassar mais com as mãos. Colocar em uma bancada com pouca farinha, fazendo rolinhos com a mesma espessura, como se fossem várias cobrinhas iguais. Polvilhar com farinha em cima, e rolar a massa para que agregue farinha em todo o rolinho de massa.  Cortar em pedaços iguais, com dois dedos de comprimento. Para grelhar, aqueça uma frigideira anti aderente com manteiga e folhas de sálvia. Coloque os nhoques dentro até que eles formem uma crosta marrom e crocante. Reservar. Barriga de porco: Retirar a barriga da marinada e cortar em cubos grandes. Em uma frigideira, colocar a barriga para grelhar, a primeira gordura que sair, devemos reservar para fazer o molho. Depois disso, ir regando com a marinada, até que fique cozido por dentro. Dependendo da espessura do corte, leva em torno de 20-30 minutos. Reservar a barriga. Para o molho carbonara: Misture as gemas, o parmesão em uma tigela, com o auxílio de um fouet, e aos poucos agregando a gordura da barriga de porco até que fique homogêneo. Caso tenha problemas, coloque pequenas colheres de sopa de água quente para emulsionar. Dica: não pode colocar muita água para não cozinhar as gemas e talhar o molho.  Leve ao fogo baixo para aquecer e deixar o molho liso e fluido. Montagem: No prato, disperse os nhoques grelhados separados em toda base do prato. Regue com o molho por cima. Posicione os pedaços de barriga entre os nhoques. Para finalizar, caso tenha, passe o maçarico por cima para dar um gosto de defumado maravilhoso. Servir bem quente!  Receita de Raquel Santos Silva Moura

  • A sabedoria poliamorosa

    É com muito prazer que continuo a nossa conversa sobre relacionamentos não monogâmicos consensuais. Eu tinha dito que traria algumas impressões baseadas no último livro da Jessica Fern, Polywise  e aqui estou eu, sorrindo - porque expandir sabedorias faz muito bem e achei o título gracioso. Mas, afinal, o que define a sabedoria poliamorosa em um mundo onde o padrão monogâmico prevalece, trazendo consigo expectativas de exclusividade, suficiência e contenção?   Antes de responder a essa pergunta, recomendo ter em mente que paradigmas religiosos, econômicos, políticos e culturais enquadram as nossas realidades, guiam expectativas, marcam nossas preferências. Você acha que relacionamentos monogâmicos são “mais naturais” e “moralmente corretos”, nos pergunta a simpática Fern? Na era vitoriana não nos era tampouco permitido pensar, enquanto mulheres, questões relacionadas à liberdade, prazer sexual, ou algo tão simples e fundamental como tocar os nossos próprios corpos com lascívia. Podemos notar como as normas sociais e culturais restringiam — e em muitos lugares, ainda restringem — a liberdade individual, especialmente no que tange ao prazer e à expressão da sexualidade das mulheres.   Vocês têm percebido como o tema das não monogamias tem aparecido mais nos discursos contemporâneos? A ascensão das conversas sobre não monogamias e nos discursos contemporâneos é um sinal dessas mudanças. Mas a transição entre paradigmas não é trivial. É um processo que exige tempo, reflexão e paciência. Desconfie de quem espera que de um dia para o outro, por mais que racionalmente inclinadas, as pessoas vão se sentir seguras e plenas e “descontruídas”. Além disso, fatores bio-psico-sócio-culturais influenciam as nossas escolhas, pesquise. Tendo em vista que o paradigma predominante é monogâmico, sabemos o que é esperado nesse formato de relacionamento: uma pessoa por vez, exclusividade, olhos e desejos apenas para ela, atenção, tempo e prioridades também. A projeção de ser “suficiente” para o outro passa a ser um requisito precioso. “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando”, lembro de ouvir o conselho quando jovenzinha. A sabedoria monogâmica seria conter os impulsos para fora da relação, restringir contato ou intimidade emocional ou sexual para fora do relacionamento, “valorizar e contentar-se com o que se tem”, fazer escolhas, abrir mão.   Para pessoas que optam por relacionamentos abertos (em sua multiplicidade de formatos), qual seria a expectativa de sabedoria? Jessica Fern, que escreveu também o festejado Polysecure  (Segurança poliamorosa), retoma temas como o estabelecimento de acordos justos, o enfoque massivo na comunicação, reconhecer gatilhos pessoais, gestão de conflitos, administrar o tempo, ficar atento às negligências, saber navegar nas águas tumultuadas do ciúme, o foco na autoestima e a chave de ouro: a prática de mindfulness .  É impressão minha ou todas essas propostas soam interessantíssimas também para quem vive em laços monogâmicos? Acredito que você tenha pensado o mesmo: independente do formato da relação escolhida, um profundo trabalho de autoconhecimento, autoestima e desejos são muito bem-vindos. A sabedoria poliamorosa tem o seu charme. Te espero!  Referências:  Fern, Jessica. Polywise: a deeper dive into navigating open relationships . Scribe: 2023. Fer, Jessica. Polysecure: attachment, trauma and consensual nonmonogamy .  Fotografia de Andrea Belluso Ilana Eleá para a coluna Não Monogamias Encontre-a no Instagram: @ilanaelea

  • O árduo caminho de uma mulher rumo à liberdade

    Houve um tempo que ser mulher significava ser de alguém, ser mulher de alguém era imprescindível à existência, ainda que este alguém fosse Deus, a igreja ou o convento. Ser mulher era especialmente determinada pela posse de alguém sobre nosso corpo, sobre nossa vida. Hoje talvez a maioria de nós não se identifique mais como posse de um homem só, mas sem perceber, diariamente somos determinadas pela sociedade com não menos crueldade. A pressão de ser determinada e subjugada à estereótipos fabricados à revelia nos adoece a alma, a saúde física, mental e emocional se esfarela a olhos vistos, e o mais triste é que seguimos como se nada estivesse acontecendo, normalizando e romantizando os rótulos, as caixas e as gaiolas. Diante da mídia e da sociedade, eu te pergunto: o que determina seu valor? A sua idade? A sua magreza? A sua beleza padronizada? A sua maquiagem ou a sua cara lavada? Seu status social, ou seu estado civil? Sua conta no banco? Sua profissão? Sua família? Sua maternidade? O peso do seu silicone? A marca das suas roupas e bolsas? O quanto você sorri e diz sim? Quantos seguidores você tem? O tamanho do seu decote ou a falta dele? Com quem você se relaciona, a sua sexualidade? Sua percepção de si mesma ou seus órgãos genitais? Sua religião ou seu partido político? O que faz de você mulher? O que ou quem te determina? Será que é você mesma, ou será que lutamos tanto para deixar de ser posse de pai e marido, e passamos a ser objetos moldados por mãos gananciosas e ainda assim extremamente limitantes? Há décadas lutamos para não mais precisar ser de quem quer que seja para existirmos, e estamos ganhando essa batalha, ainda que muitas vezes a duras penas, e pagando altos preços, até mesmo com nossas vidas, como no caso do feminicídio, crime tantas vezes motivado pela frustração de homens que não aceitam não terem poder absoluto sobre as mulheres com quem se relacionam e preferem jogar suas vidas no lixo, leva-las a morte à deixa-las livres. Não se iluda, estamos longe de sermos livres. Liberdade seria existir a partir da auto-determinação, livre de aprisionamentos pessoais e também sociais, nos bastando e nos amando incondicionalmente. Ainda estamos longe, mas não abandonaremos o caminho. Enquanto uma única mulher não tiver espaço para ser quem ela é, sem reservas ou ressalvas, estaremos todas lá, ao lado dela, lutando por ela e por todas que ainda estão por vir para esse planeta tão surpreendente com seus desafios e também cheio de oportunidades de conquistas, de coexistência e de aprendizados. Fabiana Guntovitch para a coluna Psicanalista da MS Encontre-a no Instagram: @fabianaguntovitch

  • O Começo

    “quem és? Perguntei ao desejo.                        Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.” Tínhamos um pacto firmado em meio a uma crise de que estávamos autorizados a possíveis liberdades, diante de uma conversa honesta.  Com muito frio na espinha e uma curiosidade misturada com medo feito uma criança no primeiro de escola, nos permitimos.  Aos poucos começamos a deixar nossa porta entre aberta, do tipo saia sem fazer barulho.  E assim fomos, primeiro eu e depois ele...    No começo nosso tesão era muito mais sobre a escuta, sobre o imaginário de pensar no outro com outros corpos.   Mas em uma noite na casa de amigos conheci Pedro, me apaixonei por ele, suas mãos, sua boca, sua pulsão erótica de ser.  Enquanto ele falava eu fazia sexo com suas palavras, me sentia comida por sua profundida de existir.    Não quis Pedro só para mim, quis apresentá-lo à Marcelo. Desde então quando possível eram três corpos em estado de contemplação, não tínhamos mais frio na alma apenas calor.  Nossos corpos de sal, nossos corpos sol.   Éramos três, sem nenhum medo e nenhum controle, não tínhamos limites.  Nossas carnes respiravam juntas, feito vento que lambia nossas peles, não tínhamos contornos, não sabíamos onde começava o eu ou o outro, a risada era alta e o olhar lacerava a alma.     O perfume da sala emanava nosso sexo, que ficava íntima de nossas paredes.  Bethânia cantava para nós enquanto dançamos nus ao meio a conversas profanas, e junto sentia a força bruta de quatro mãos entre minhas coxas e quadris fazendo com que gemesse alto de dor e prazer. Me chupavam até eu não sentir mais minhas pernas deixando minha essência escorregar pelo chão, era violento, visceral um desejo faminto de gozar com meu corpo inteiro e assim fazia.    Liberto-me de moralidades, sem vestes prazer que vem do corpo, me deitava diante daqueles homens de pernas abertas, respirando fundo até ser engolida inteira enquanto via suas bocas vermelhas se lambuzarem entre eles e assim ao meu deleite vê-los gemendo de amor.  Aquilo tudo era só a gente que sabia, assim como um livro místico se desfez. Aquelas formas eram obras de arte, feito água, chuva e vento que se acabam.   Gabriela Prux para a coluna Papo de Bordel Encontre-a no Instagram: @gabiprux

  • Carbonara de abacate

    Este mês eu decidi trazer a minha versão do tradicional carbonara, onde incluo o abacate como base junto das gemas! Super versátil! Fonte de gorduras boas! Use a massa de sua preferência, normal ou integral! Ingredientes:  1 abacate   1 limão espremido   100 ml de água   50 ml de azeite de oliva  Sal e pimenta a gosto   2 gemas de ovos   1/3 do pacote de espaguete   1 concha de água do cozimento da massa  1 xícara de queijo parmesão ralado na hora  Bacon bits, o bacon vegano que faz bonito no lugar do bacon comum, mas é opcional.  DICA EXTRA: Lembrando que essa base de molho de abacate (sem as gemas) pode ser usada como molho de salada… se deixar mais consistente serve como maionese.  Modo de preparo:   Coloque no recipiente do mixer para bater: o abacate, limão, azeite, a água, o sal e a pimenta.  Bata até formar um creme lisinho.  Leve este creme para a panela, ligue o fogo baixo e adicione as gemas, mexendo sempre até incorporar as gemas com o creme, bem homogêneo.  Desligue o fogo, adicione mais um fio de azeite, o queijo ralado e mexa bem!  Adicione a massa já cozida e coloque um pouco da água do cozimento para deixar tudo mais cremoso e fluido.   Coloque no prato, finalize com pimenta do reino moída na hora e o bacon.  Roberta Crudo Bellucci para a coluna Na Cozinha da MS Encontre-a no Instagram: @abetaqfaz

  • O amor para além da exclusividade

    A primeira vez que ouvi o ted talk com a psicoterapeuta belga Esther Perel, estávamos meu marido, os nossos dois filhos pequenos e eu fazendo uma linda viagem por várias cidades no sul da Itália. Nós dois na ocasião, juntos por 7 anos, eu tinha me mudado do Rio do Janeiro para a Suécia depois de tê-lo conhecido pela internet, uma história de amor comovente, que inclusive virou livro, o Encontros de neve e sol. Embora nos amássemos profundamente, era nítido que a paixão vulcânica tinha dado lugar a um outro sentimento, mais tranquilo, satisfatório, caseiro, menos erotizado. Esther Perel falava sobre a morte de Eros e o difícil balanço entre a domesticidade, a segurança em uma relação e o desejo por novidade e aventura. A fala da carismática terapeuta nos pareceu perturbadora porque parecia espelhar o que estávamos sentindo. Lembro de termos ficado em silêncio, um pouco constrangidos - mas intimamente curiosos para saber mais, era uma semente sendo plantada. Naquela ocasião, eu ainda não tinha sido apresentada às possibilidades para além da monogamia compulsória e normativa: nunca alguém tinha me dito que era possível, ou muito menos correto, se envolver seja emocionalmente ou sexualmente com mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Que essa prática pudesse contar com o consentimento das partes envolvidas então, muito menos. O que era familiar? Conceitos como traição, adultério, pecado, pouca vergonha, falta de caráter. Mas como poderíamos nomear as relações amorosas que buscavam se aproximar da honestidade, comunicando abertamente sobre as asas do desejo, buscando acordos, combinados, novas experiências de mergulho na expansão do amor e erotismo para além da exclusividade seja afetiva ou sexual? Aos poucos fui entendendo que diferentes formas de amar vinham sendo nomeadas e estudadas a partir do conceito guarda-chuva de “não monogamia consensual” o que inclui uma variedade de práticas, sendo “swing” (ou troca de casais), “relacionamento aberto” e “poliamor” os mais representativos. No Brasil, a “não monogamia política” tem tido bastante força atualmente, embora os adeptos dessa corrente descartem a ideia de fazer parte do conceito guarda-chuva. Essas formas de se relacionar, embora distintas em suas dinâmicas, acordos e estruturas, compartilham pelo menos como intenção, o pilar comum do consentimento mútuo e da comunicação honesta.  No conhecido formato “monogâmico”, alinhado com o machismo estrutural, muitas de nós podíamos apenas aceitar os véus, as exigências de “virgindade”, os cintos de castidade, os apedrejamentos e pena de morte em caso de envolvimento extraconjugal, ou o estigma e a perda da respeitabilidade se nos comportássemos para além da castidade, enquanto homens passeavam tranquilamente entre cortesãs, frequentando bordéis e amantes sem serem punidos.  A minha coluna na MS sobre Não Monogamias vai se dedicar a explorar os diferentes aspectos de relações contemporâneas, seja trazendo resumos de pesquisas acadêmicas e livros atuais sobre o tema, quanto reflexões pessoais e um convite à inspiração para novas perguntas.  A psicoterapeuta Jessica Fern fala que assumir que o amor romântico precisa ser monogâmico e heterosexual para ser genuíno é um julgamento apressado, equivocado e normativo. Ela inicia o seu último livro,  Polywise (2023) , com as perguntas mais comuns feitas às pessoas não monogâmicas: “você não tem medo de sentir ciúmes?”, “o que está faltando na sua relação para você querer abrir?”, “seria o primeiro passo para o divórcio?” Fern argumenta que a transição para a não monogamia é menos sobre o que falta em uma relação e mais sobre a expansão da visão de mundo e do entendimento sobre o amor. É sobre o livro dela que vou falar na próxima coluna. Você tem uma pergunta até lá? E ah! O mais importante: se você se identifica e está suave e alinhada com a monogamia, aproveite a sua escolha, abrace a sua preferência. Todas as formas de amar consensuais e honestas são bem-vindas! Aguardo ansiosamente o contato de vocês.  Ilana Eleá para a coluna Não Monigamias Encontre-a no Instagram: @ilanaelea

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