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Deixe para depois




Poderia ser mais um fim de um dia de trabalho atribulado, quando entra uma mensagem que tira você do 12x8 (sim, a pressão arterial normal rs). O sangue parece que vai todo para a cabeça e a sua reação é começar a digitar incessantemente, soltando raios pelos dedos no teclado e colocando todos os pingos nos is. Você precisa vomitar (sic) tudo ou nem vai conseguir dormir direito com aquele sapo entalado na garganta.


Já sentiu isso? Pode ser uma crítica não contextualizada, pode ser uma interpretação equivocada, pode ser uma injustiça deliberada. Enfim, eu tenho certeza que você já viveu algo assim. Ou talvez já esteve do outro lado, querendo enviar aquele e-mail ou whatsapp que diz mais sobre o que você está sentindo do que o que você está propondo. Ou fazer aquela ligação destemperada no final do dia que só vai gerar aborrecimento, para você e para o interlocutor. Aquele contato que no fundo tem só um objetivo: canalizar a sua raiva. (Sim, as pessoas sentem raiva, e tudo bem).


Se identificou? Então, vamos conversar sobre como lidar melhor com esses casos?

Antes de mais nada, preciso assumir que eu estou longe de ser referência neste assunto. Mais de 20 anos de vida corporativa e sigo aprendendo a reunir as ferramentas para lidar melhor com essas situações ou para juntar os caquinhos dos estragos. Mas de uma coisa estou segura: isto vai continuar acontecendo. Comigo e com você. Porque nós não somos e não desejamos trabalhar como robôs. Queremos, sim, sentir e compartilhar sentimentos no trabalho, diferentemente do que se valorizava no passado, e, portanto, estamos cada vez mais expostos a essa montanha-russa de emoções.


Queremos, sim, sentir e compartilhar sentimentos no trabalho, diferentemente do que se valorizava no passado, e, portanto, estamos cada vez mais expostos a essa montanha-russa de emoções.

Tá bom, mas então é isso? Vamos aceitar que as coisas são assim e pronto? Não, não foi isso que eu quis dizer. Sim, continuaremos nos deparando com estas situações e por isso precisamos aprimorar a forma como lidamos com elas. Esta é uma das habilidades da inteligência emocional: regular as emoções, em vez de permitir que elas nos regulem, descobrindo estratégias para lidar com o que nós e os outros sentimos.


Já foi provado que as emoções desempenham um papel importante nos processos de julgamento e comportamento e que as pessoas têm um viés natural de perceber mais facilmente as informações alinhadas com o seu estado de humor. E aqui entra um ponto validado por neurocientistas, psicólogos e pesquisadores: quando estamos sob fortes emoções - sejam positivas, como alegria e entusiasmo, ou negativas, como raiva,  tristeza e estresse -, percebemos o mundo de forma diferente e isto influencia nossa tomada de decisão. Assim, a melhor atitude quando estamos nesta condição é deixar para depois. Por isso, aquele e-mail ou aquele textão no whatsapp pode (e deve) ficar para depois.


Sim, continuaremos nos deparando com estas situações e por isso precisamos aprimorar a forma como lidamos com elas. Esta é uma das habilidades da inteligência emocional: regular as emoções, em vez de permitir que elas nos regulem, descobrindo estratégias para lidar com o que nós e os outros sentimos.

Sei que isso pode parecer mais um desafio emocional, afinal, existe uma “pressão” para respondermos a tudo quase em tempo real, então, querer responder na hora o que nos incomoda é como “unir a fome com a vontade de comer”. Mas, neste caso, é melhor segurar esse direcional de prontidão e deixar para depois, sim.


Tente desviar o pensamento, procure fazer algo prazeroso. Tome um cafezinho, jogue conversa fora com um amigo. Vai treinar ou fazer uma caminhada para liberar essa energia. Desabafe com o terapeuta, faça uma meditação. Escolha algo que ajude a colocar o assunto no compartimento mental “depois eu cuido disso”. Pelo seu próprio bem.


Quando o calor do momento passar, você conseguirá avaliar com mais clareza o assunto e as circunstâncias e será capaz de responder de forma mais ponderada e objetiva, colocando na perspectiva certa.


A vida já nos oferece desafios e situações difíceis que não podemos evitar. Alguns golpes que a gente não entende porquê, como doenças ou perdas, que afetam profundamente aquilo que realmente importa. Então, temos que zelar para não sermos catalizadores do “desequilíbrio da Força” (referência nerd com orgulho rs). Vamos nos esforçar para evitar inflamar situações quando estiver na nossa zona de controle. Podemos errar em algumas, mas não podemos permitir a postura desenfreada de sair soltando tudo só para se sentir melhor, sem pensar nas consequências. O que falamos, fazemos ou deixamos de fazer reflete no nosso meio e nós também absorvemos os impactos.


Então, na hora de fazer uma ligação ou enviar uma mensagem “daquelas” no final do dia, pare. Não ligue. Não envie. Pode esperar até amanhã.


Érica Saião para a coluna Mulher & Carreira

Encontre-a no Instagram: @erica.saiao

 

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