
Carreira e saúde emocional nunca estiveram tão próximas. Burnout, estresse e ansiedade se tornaram parte do vocabulário corporativo, deixando claro que sucesso profissional não é apenas uma questão de cargo ou salário. Qualidade de vida conta (e muito) para o sucesso.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), transtornos mentais custam à economia global cerca de 1 trilhão de dólares por ano em perda de produtividade. Esse número impressionante só reforça que não é possível separar o desempenho profissional da saúde emocional. No Brasil, um estudo da Isma-BR (International Stress Management Association) revelou que 72% dos brasileiros sofrem as consequências do estresse no trabalho, incluindo problemas de saúde mental.
Hoje, já é mais comum ouvir desabafos sobre saúde emocional nos “papos de corredor”, nas conversas no café e nas pesquisas de clima organizacional, e as empresas e os gestores têm dedicado mais atenção ao tema, sabedores que ao promover o bem-estar emocional não estão apenas cuidando de seus funcionários, mas também garantindo melhores resultados: a saúde emocional afeta diretamente a produtividade e gera absenteísmo, rotatividade e custos de contratação e treinamentos. Não é bom pra ninguém.
O simples “espaço de descompressão”, que virou modinha quando o assunto começou a entrar na pauta das organizações, não é suficiente.
Um estudo da Deloitte[1] inclusive aponta que empresas que investem em programas de bem-estar mental têm um retorno de até quatro vezes o valor investido, graças ao aumento de produtividade e à redução de custos de saúde.
Não é à toa que empresas dos mais diversos setores já perceberam que promover saúde mental não é mais um “benefício extra” – é uma necessidade, e agora, o Brasil dá mais um passo com a atualização da NR-1 (Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho e Emprego) e a exigência do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais, com inclusão de riscos psicossociais.
O simples “espaço de descompressão”, que virou modinha quando o assunto começou a entrar na pauta das organizações, não é suficiente. E, sim, é justo dizer, muitas organizações já estão na dianteira, oferecendo apoio psicológico, incentivando atividades físicas e promovendo um ambiente onde os colaboradores se sintam à vontade para falar sobre saúde emocional.
Mas a responsabilidade pelo bem-estar emocional não é apenas da empresa. Nós, profissionais, temos um papel essencial nesse processo de equilíbrio entre trabalho e saúde emocional. E aqui, é importante desmistificar o conceito de “equilíbrio”. Equilibrar vida pessoal e trabalho não significa dividir igualmente o tempo e a atenção entre as duas áreas. Na real, o equilíbrio verdadeiro é flexível e depende das circunstâncias individuais.
Pessoas que se sentem no comando de suas escolhas e que veem sentido no que fazem tendem a experimentar mais satisfação, mesmo com uma carga horária alta.
Parece óbvio, mas definitivamente não é. Quem busca uma noção de equilíbrio baseada em dedicar 50% do tempo ao trabalho e 50% às questões pessoais, como família, hobbies e descanso, vai se frustrar, porque esse ideal é simplesmente inalcançável. As demandas de um lado e do outro são frequentemente desiguais, um pêndulo que varia de acordo com a fase da vida em que nos encontramos.
Durante um grande projeto ou transição de carreira, por exemplo, é natural que o trabalho exija mais. Isso não significa que o equilíbrio foi perdido, mas que ele está se ajustando. Após períodos de alta dedicação ao trabalho, é necessário compensar com mais tempo para a vida pessoal, a família e o autocuidado. E está tudo bem.
Equilíbrio é sobre se permitir ser flexível, entender suas prioridades e viver em harmonia com elas.
Um estudo da Gallup [2] reforça essa visão de equilíbrio flexível ao mostrar que o bem-estar profissional não depende necessariamente de menos horas trabalhadas, mas sim de uma sensação de controle e alinhamento entre as responsabilidades e os valores pessoais. Pessoas que se sentem no comando de suas escolhas e que veem sentido no que fazem tendem a experimentar mais satisfação, mesmo com uma carga horária alta. Esse é o equilíbrio que realmente faz sentido: aquele que respeita o momento presente e permite ajustes conscientes e sem culpa. Isso também é cuidar da saúde emocional.
Enfim, equilíbrio é sobre se permitir ser flexível, entender suas prioridades e viver em harmonia com elas. Às vezes, o ambiente na empresa é um ofensor da saúde emocional. Outras, mesmo que a empresa promova um ambiente de bem-estar e saúde emocional, você pode não encontrar isso onde está. Seja qual for o ambiente, lembre-se de que o protagonismo da sua carreira é seu e o equilíbrio é uma escolha indelegável que deve refletir o que realmente importa para você. Encontrá-lo é a verdadeira força, afinal, no fim do dia, é a sua vida - pessoal e profissional, junto e misturado.
[1] https://valor.globo.com/empresas/esg/noticia/2022/10/05/investimentos-em-saude-mental-podem-trazer-beneficios-financeiros.ghtml
[2] Gallup. (2022). State of the Global Workplace: 2022 Report.
Érica Saião para a coluna Mulher & Carreira
Encontre-a no Instagram: @erica.saiao