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A Difícil Arte de Viver em Sociedade

Reza forte, calmantes, meditação, silêncio. Tento controlar minha vontade de falar o que penso, mas logo lembro que tenho muito a perder, na corda bamba dos relacionamentos em que qualquer descuido pode provocar um descompasso no trato entre os ditos iguais; em que qualquer incidente detonaria uma explosão de raiva e descontentamentos.


Não posso ser eu a antipática em um mundo já tão carente de aplausos, tão desprovido de cordialidade e tão farto de si, com um peso maior que seu esquálido corpo pode suportar. São muitos os motivos do meu divórcio social, mas os que mais me afligem são os gritos malcriados de crianças mimadas, frutos de uma sociedade igualmente infantilizada e desprovida de limites; mas, ainda piores, são os devaneios de pessoas que passaram dos 30, mas que não conseguem retornar ao lugar de bom-senso no qual deveriam morar.

São essas pessoas que desafiam a minha mais tenra paciência, que me obrigam a calar quando queria gritar, outrora me fizesse bem o silêncio que esconde minha angústia frente às obscenidades cotidianas do dia a dia, que me regozijam alegrias fortuitas e me cauterizam de prazer fútil em um pleito de simples cordialidade genuína.


Rogo a Deus por um pouco mais de elasticidade no sorriso que carrego faceiro em meu rosto cheio de produtos de beleza, que tentam, em vão, esconder um pouco da obviedade que reside na minha carcaça pesada de desafetos e lamentos sociais. Sou mais uma em meio à imensidão de uma terra habitada por seres estranhos, que incendeiam um caminho de rancor e que espelham o mundo cinza desnudado pelo cigarro que mantenho acesso, a cada pausa do celular, a cada descanso da minha mente e a cada nova agressão que sofro em silêncio, nesta selva de pessoas chamada “sociedade”.


Cris Coelho para a Coluna Sociedade

Encontre-a no Instagram: @crisreiscoelho

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