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Você sente culpa ao comer?

Atualizado: 19 de dez de 2022

Desde os meus quinze anos sofro com a síndrome do intestino irritável, um distúrbio do qual pouco se sabe e que não tem cura. Mas foi só em 2017 que encontrei um médico especialista que finalmente me daria um tratamento adequado e me devolveria um pouco de qualidade de vida.

Mas infelizmente o corpo gordo foi esquecido no churrasco mais uma vez.

Juntamente às medicações prescritas, havia uma dieta com muitos alimentos restritos. Entre eles, o açúcar. Foi aí que precisei ser criativa e começar a experimentar alimentos adoçados de outras formas: xilitol, sucralose, aspartame, frutose, stévia, manitol, entre outros.

Os doces não deixaram de fazer parte da minha vida, eu apenas precisei me aventurar em receitas adoçadas de forma que não o açúcar. Nesse caminho, me deparei com muitos alimentos que não me agradaram. Mas também me surpreendi positivamente com muitos outros.

Passei a buscar constantemente por doces diet ou sem adição de açúcar. E fui cada dia mais encontrando novas opções. Criei nas redes sociais o quadro “experimentando comidinhas sem adição de açúcar” para compartilhar com aqueles que me seguem as minhas impressões sobre os novos alimentos que vinha descobrindo.

Mas nessa procura, algo chamou a minha atenção. Incontáveis vezes me deparei com o slogan “para comer sem culpa”, “sobremesas sem culpa” e suas variações. E na minha cabeça martelava o questionamento: por que raios sentimos culpa comendo algo gostoso, cujo objetivo é nos trazer uma forma de prazer?!

Esse questionamento me levou diretamente para a minha infância nos anos 1990, onde o sentimento de culpa e vergonha eram constantes na minha vida enquanto garota gorda. O terrorismo nutricional sempre esteve ao meu lado e eu não consigo nem me lembrar quando, como e onde tive meu primeiro contato com ele.

Seja na mídia ou no dia a dia, é muito comum vermos alimentos sendo vilanizados. “Gordura faz mal.” “Doce não pode!” “Carboidrato engorda.” “Refrigerante é um veneno.” “Açúcar é o inimigo da balança.” Vivemos em uma guerra sem fim com o nosso corpo. Somos estimulados a contar calorias de forma constante e nos preocupamos mais com elas do que com o sabor ou, mais importante ainda, com o equilíbrio.

Passei a seguir perfis de pessoas que falavam sobre comer sem culpa e acabei me deparando com a nutricionista Carol Bartholo. Ela fala sobre como dietas não são sustentáveis e bate na tecla de encontrar um equilíbrio alimentar. Questiona termos como “magrice” e “comida de magro”, alerta sobre patologização do corpo gordo explicando por que não devemos usar o termo obeso, ensina que alimentos que gostamos não são e nem precisam ser porcaria ou besteira.

O perfil dela me trouxe muitas reflexões - positivas! - e também um olhar mais compreensivo sobre minha própria comida. Passei a acompanhar outras pessoas como ela e ficou o questionamento: quem é que ganha com esse terrorismo? Por que culpa e vergonha são constantemente associadas aos alimentos que também são responsáveis por nos proporcionar prazer?

Sejamos gentis conosco e com aquilo que nos sustenta e nos mantém de pé dia após dia.

Thati Machado para a coluna Gorda, sim!

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