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O corpo gordo nem sempre é capaz (e tá tudo bem!)

Atualizado: 18 de fev de 2023

Pela internet têm circulado diversos vídeos de pessoas gordas fazendo atividades físicas com a legenda “o corpo gordo sempre foi capaz” ou “o corpo gordo é capaz”.

Enquanto pessoa gorda, portadora de doenças autoimunes e com minhas limitações, essa afirmativa me soa extremamente problemática, além de gordofóbica e capacitista. Essa não é uma reflexão simples de se fazer, por isso, resolvi fragmentá-la na tentativa de não deixar os pontos mais importantes de fora.

Primeira reflexão: é extremamente válido e importante que corpos gordos ocupem espaços. Todos eles. Ou o maior número de espaços que conseguirmos. Atividades físicas não são exclusividade das pessoas magras e os ambientes onde elas são praticadas precisam ser acolhedores para todos.

Segunda reflexão: nós estamos sempre falando que não precisamos justificar nossos corpos (e não precisamos mesmo; ou não deveríamos precisar). Ninguém precisa compensar o fato de ser gordo. “Ela é gorda, MAS se alimenta bem.” “Ele é gordo, MAS faz atividades físicas.” Você provavelmente já ouviu uma dessas frases ou suas inúmeras variações. No entanto, sempre que vejo vídeos de pessoas fazendo atividades físicas com esse tipo de legenda mencionada no início desse texto, tenho a sensação de que estamos tentando provar algo.

“Enquanto pessoa gorda, portadora de doenças autoimunes e com minhas limitações, essa afirmativa me soa extremamente problemática.”

“Eu sou gorda, mas tá vendo como isso não me impede de correr oito quilômetros?” “Eu sou gordo, mas esse vídeo prova que consigo dançar no mesmo nível de uma pessoa magra!”

Terceira reflexão: cada corpo é único e tem suas particularidades. Nem todo corpo gordo vai ser capaz das mesmas atividades, assim como nem todo corpo magro é. Ao afirmar que “o corpo gordo é ou sempre foi capaz”, que mensagem estamos passando para aqueles que “não são capazes”? Não estamos, então, criando um novo padrão que também é excludente com algumas pessoas?

Atividade física não deveria ser uma escolha e não uma imposição?

Quarta reflexão: existe um jeito certo ou errado de ser gordo? Porque esse tipo de conteúdo nos divide em gordos bons e gordos maus. Bons são aqueles que, apesar de gordos, praticam atividade física e consequentemente são mais “saudáveis”, enquanto os ruins são aqueles que reforçam o estereótipo clássico de preguiça feat alimentação ruim.

O que há por trás do discurso do “corpo gordo capaz”? Não seria ele uma forma de nos dividir e continuar nos patologizando? Não seria ele uma forma de reforçar a gordofobia disfarçada de preocupação com a saúde?

O óbvio também precisa ser dito, por isso finalizo lembrando que toda pessoa gorda merece ser respeitada e viver com dignidade. Ela escolhendo fazer atividades físicas ou não. Ela sendo “capaz” ou não. Ela escolhendo se alimentar de um jeito ou de outro.

Thati Machado para a coluna Gorda, sim!

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