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Desajustadas

Sempre esperei pelo dia em que você me desculpasse… entendi seus sentimentos controversos em relação à nossa amizade e aceitei sua raiva e seu desprezo por tudo que fazia parte do meu universo. O mundo era meu, de fato, e não havia nada que eu pudesse dizer para mudar isso. Você estava sempre ao lado, na espera do que haveria de sobra dos meus aplausos, das minhas vagas, dos meus créditos.

Hoje vejo o mundo imperfeito que meus pais ajudaram a construir, com todas as desigualdades urgentes vindo à tona e toda a correnteza de mágoa que se prolifera na mesma velocidade com a qual meus meus híbridos amigos se despedem desta órbita em direção ao seu reduto de fé e pensamentos bons.

Entendo que agora já não sou bem-vinda ao seu novo palácio, pois não pertenço ao seu clã, não comungo das cores, tecidos e gírias; não consigo acessar seus códigos e não me pareço nada com o novo estereótipo de beleza exigido.

Eu virei a sobra e você, o todo. E me pergunto todos os dias: por que tanta mágoa guardada? Por que não podemos recomeçar de onde nossos pais pararam? Por que não construímos um novo trajeto, agora sem bifurcações e sem pedágios?

E foi quando eu entendi que somente nossas netas viveriam o suficiente para contemplar uma conversa entre iguais. Até lá, seremos várias de mim tentando encontrar milhões de você, em estradas que não coincidem…

Fui! (Tentar mais uma vez…)

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