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Elvis


O longa chegou nos cinemas no último dia 14 de julho, um pouco atrasado por conta da pandemia que o impediu de estrear em 2021, conforme anunciado. Quem estava ansioso pela estreia, o longa que retrata a vida e a carreira Rei do Rock com um certo ar de misticismo.


Baz Luhrmann apresenta um Elvis menos mito e mais humano, ainda que tivesse feito desaparecer quase de forma mágica o drama vivido pelo ator com abuso o de drogas e os detalhes acerca de seu casamento. O filme se concentra na relação entre Elvis e seu empresário, Tom Parker interpretado pelo ator Tom Hanks que durante o longa parece assumir o papel de antagonista, o que é uma linha tênue e delicada, visto que, na realidade, o empresário de Elvis foi uma figura central para o sucesso dele. Deixemos de lado, por ora, essa questão.


Ao narrar a infância do cantor, o filme encontra um ponto central muito bem explorado. Luhrmann traz com sutileza, beleza e respeito o relacionamento de Elvis com a comunidade negra dos Estados Unidos. O filme derruba qualquer ideia de que o astro do rock fosse racista. Um pensamento que, sinceramente, é muito fácil de qualquer pessoa vir a ter. Ele era branco, regravou várias músicas gravadas antes e compostas por artistas negros, que nunca tiveram a chance de alcançar o mesmo sucesso que ele. Mas os detalhes dessa relação estão na experiência de vida do cantor que cresceu no Mississippi em uma das poucas casas destinadas a famílias brancas dentro de uma comunidade negra.


As cenas milimetricamente pensadas trazem um Elvis que andou na contramão de um sistema que negou tantos outros talentos que vieram antes dele. Obviamente, ele foi o símbolo da rebeldia, a própria personificação dela.


Portanto, ainda que não tenhamos meios de saber se ele era ou não racista, é inegável a imensa influência da cultura negra norte-americana no trabalho dele – tendo ele reconhecido isto ou não –, o fato é que o filme trouxe o tema ao público e deixou bastante claro que não existiria Elvis Presley se não existisse cultura negra e os músicos negros que ele cresceu ouvindo. Esse é o ponto. Querendo ou não, Elvis “branqueou” o rock e foi a ponte que enfraqueceu as muralhas da segregação que havia na música e levou para toda sociedade americana o som que até então circulava somente comunidades negras.


– Alerta de Spoiler! –, a força eletrizante desse reconhecimento aparece em uma frase dita por B.B King, nome conhecido na época e amigo de Elvis que disse “Você pode fazer exatamente isso que fazemos aqui, mas provavelmente vai ganhar muito mais dinheiro do que nós ganharíamos”. Em outro momento, Elvis vai à um bar, um local onde músicos de blues/rock encontravam-se para cantar como num sarau cheio de nomes ilustres da música. Entre eles, estavam nada mais nada menos que ela, a mãe do Rock N’ Roll, Sister Rosetta Tharpe, cantando! Mais à frente, aparece Little Richard no cantando “Tutti Frutti” de forma intensa como só ele sabia fazer e pra mim que sou mulher negra estas aparições foram as cenas mais bonitas do filme.


Contudo, o filme segue e sua linha do tempo busca incessantemente justificar porque caberia ao Elvis receber o título de “Rei do Rock”. Passam-se os anos 60, chegam os anos 70 e o longa-metragem caminha para o fim delicadamente trágico. Elvis preso no International Hotel em Las Vegas. Nesse ponto, surge a face mais assustadora de seu empresário, privação e liberdade se misturam, as drogas e o fim do casamento também.


Parece não haver mais brilho nos movimentos do rei e tudo que sobra é a repetição que sem nenhuma inovação contrasta com sua tristeza que mais para fim do filme começa a preencher o coração e a alma de quem assiste no escuro da plateia.


Se foi o amor pela música que o matou, eu não sei, mas o filme nos conecta a essa ideia, embora Elvis, no entanto, tenha sido encontrado em Graceland, em agosto de 1977, com 42 anos de idade, onde levado ao hospital foi declarado morto de ataque cardíaco provocado por abusos de drogas. Desta forma, por motivos particulares, sua vida se esvai e deixam os fãs a lamentar por sua ida, mas também celebrar sua existência icônica, onde nunca mais existiu alguém igual.


Na era das cinebiografias, trazer o som como elemento audiovisual é contagiante. A gente canta enquanto assiste. Se emociona enquanto canta e assiste. Sentimentos que só o cinema e a música são capazes de nos trazer. Ainda que seja mais para o utópico que para a realidade. O filme nos apresenta o astro por trás do espetáculo, apresenta sua coragem, ineditismo e humaniza sua trajetória, mostra com respeito a contribuição feita por quem veio antes e reacende a chama do rock n’roll em nossos corações independente da idade.


Matéria de Tatiane Alves para a coluna resenhas e críticas

Encontre-a no Instagram: @tatialvesreal

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