“Lar doce lar”, era o que pensávamos até fevereiro deste ano, quando sentíamos falta do aconchego do nosso sofá, do gosto da comida que sai da nossa geladeira, que passa pelo fogão ou microondas e que chega deliciosa na nossa mesa, ou ainda, do calor que sai do nosso chuveiro, sempre tão energizador, e que alivia todo o cansaço de um dia inteiro de trabalho e atividades.
Pedíamos aos Deuses por um pouco mais de tempo, algo tão necessário quanto raro, que parecia sempre fugir do nosso escasso controle todas as vezes em que tentávamos agarrá-lo. Era mais tempo que queríamos para passar com nossos filhos, para tentar ajudá-los em suas escolas, para que pudéssemos ver filmes e fazer as coisas que eles gostam… precisávamos tirar um tempo para respirar, para alongar e para nos conectarmos melhor com nosso eu interior; precisávamos desse tempo sabático para refletir sobre tudo que cerca nossa vida e as escolhas que fizemos há tantos anos e que ainda fazemos todo dia, quando aceitamos ingerir as doses massivas de rancor, mágoa e tristeza por algo que ficou lá atrás, mas que não conseguimos digerir…
Queríamos arrumar aquela gaveta, aquela toda bagunçada que mistura clipes, recibos, chaves e um monte de coisas que não temos paciência para categorizar adequadamente na correria de uma rotina estafante e enlouquecedora; aliás, por falar em loucura, percebemos o quão é louco esse negócio de querer algo! Sempre quisemos o que agora temos, mas agora já não o queremos mais, queremos de volta um pouco do que tínhamos, em doses fortuitas de prazer nostálgico e incoerente, que nos faz rir das nossas esquisitices e entender o sarcasmo que acompanha nossas vidas imperfeitas, cheias de um querer impossível de ser alcançado.
E por quê? Porque nosso querer sempre estará à frente de todas as nossas expectativas, ainda que sejam as mais simples, pois é ali que ele vive…
Fui! (Rever minhas expectativas…)