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Março – Mês de Reflexão



Hoje eu acordei e lembrei imediatamente do que eu havia sonhado. No meu sonho, eu estava trabalhando muito, tinha minha casa própria do jeito que sempre sonhei. Estava saindo do trabalho em um carro e indo almoçar com uma amiga.


Sentia-me completamente diferente, mais alta, mais magra, barriga chapada e o meu rosto não era tão de criança. Minhas orelhas não eram tão pequenas e eu escutava perfeitamente sem aparelho auditivo.  – Minha nossa! Como é bom colocar meus cabelos atrás das orelhas e ouvir os sons da natureza sem nenhuma dificuldade. Ah, eu não tinha Síndrome de Down e nenhuma dificuldade ou limitação.


Quando acordei fiquei pensando: por que será que tive este sonho? Sonho que trouxe pensamentos e alguns desejos que estavam tão escondidinhos. Pensei logo; acho que é por causa do mês de março. Um mês de muitas reflexões e atividades de conscientização sobre a síndrome de Down que sempre mexem muito comigo. Fico cansada só em pensar em tantas atividades. Atividades necessárias sim, mas que bom seria se não precisássemos mais delas. Que bom seria se todas as diferenças fossem aceitas na sociedade como algo normal, assim como usar óculos ou não. Muitas vezes tenho o desejo que o mês de fevereiro pule logo para o mês de abril, mesmo sabendo de sua importância.


Já faz dias que venho pensando no dia Internacional de Conscientização sobre a Síndrome de Down 21 de março e também sobre o tema deste ano “O que significa inclusão para você?”.  Este tema me traz lembranças não tão boas, lembra conquistas boas, avanços em termos de inclusão, mas também alguns sofrimentos e desânimo com alguns retrocessos. Mas digo a mim mesma que não posso desanimar. Então vamos em frente!


Pensando em “O que significa inclusão?”. Pra mim, inclusão significa as pessoas nos aceitarem do jeito que somos e nos aceitarem no meio delas. E acreditarem que somos capazes, mas precisamos de oportunidades e algumas vezes de apoio.


Penso também, que a inclusão começa na família, acho importante a família acolher com muito amor e igualdade, como qualquer outro filho, a criança com deficiência. Pois acho que a felicidade e o sucesso desta pessoa dependem muito de quanto a família acredita e ama esta pessoa. O mesmo vale para as escolas, os alunos com deficiência devem ser acolhidos e recebidos com todo carinho e respeito, como todos os outros alunos. E todos os alunos devem aprender juntos, inclusive uns com os outros. Nada de aula separado para aluno com deficiência! A escola tem um papel muito grande na formação da cidadania, e cidadania se aprende no convívio com TODOS.


As escolas não precisam ficar se preparando para a inclusão, elas precisam incluir e ir aprendendo com a inclusão. Minha mãe sempre diz que fui bem melhor nos estudos quando o professor estava atento em descobrir e valorizar as minhas capacidades, do que quando o professor estava muito preocupado com as minhas dificuldades.


Ainda pensando em inclusão, não posso me esquecer da inclusão no mercado de trabalho. É preciso lembrar que o trabalho promove a dignidade e a convivência social. Então, o trabalho não deve ser negado a ninguém. Acredito mesmo que todas as pessoas são capazes de trabalhar, mas é preciso considerar os desejos e capacidades de cada uma.

Sabe diário, você não imagina o quanto é importante para mim ir todas as manhãs trabalhar.

Me sentir produtiva, conversar com as minhas colegas e ficar sabendo de muitas novidades, trocar ideias e informações com elas. Isto sem falar no meu salário no final do mês. Quando fico alguns dias sem ir trabalhar, como foi o caso do recesso das festas de final do ano, eu fico com saudades e louca para conversar com elas. Bem, já trabalhei em empresas onde tive dificuldades em receber o apoio adequado, mas no meu atual emprego isto está bem tranquilo.


Acho que se a família, a escola e o mercado de trabalho promoverem a inclusão com respeito e dignidade, já estarão ajudando a inclusão plena de todas as pessoas na

sociedade.


Mas voltando ao meu sonho, onde eu me via uma mulher tão empoderada, eu lembrei que no dia oito de março, também comemoramos o dia internacional da mulher.  A data celebra as muitas conquistas femininas ao longo dos últimos séculos, mas também serve como um alerta sobre os graves problemas de gênero que ainda existem em todo o mundo. Um deles o feminicídio, o abuso e a discriminação contra a mulher. Pois é, e tudo isto fica muito mais complicado quando pensamos em mulheres com deficiência intelectual, não é?


Nossa! Esse sonho mexeu mesmo comigo! Mas agora acordada fica o sonho que um dia estas datas e estes movimentos nem sejam mais necessários. E o fato de ser mulher, ter síndrome de Down, ou outra deficiência, seja algo bem natural, como realmente é. E ainda, que esta situação seja tratada com naturalidade, com respeito e muita consideração.


Fernanda Machado para a coluna Páginas do meu diário

Encontre-a no Instagram @fefe.smachado


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