top of page

Minha Versão Feminista

F4

Sempre fui absolutamente contra o feminismo, em todas as suas formas e cores. Achava que este termo era muito ineficiente para definir uma “luta” de classes historicamente conturbada e prolixa. Estava errada.


Percebi, depois de anos de abusos de chefes, namorados, professores e até médicos, que o feminismo deve estar sempre vivo em todos os seres humanos que pregam a igualdade entre “fêmeas e machos”. O mundo é masculino desde a sua criação e negar isso seria, no mínimo, ingenuidade. Temos que admitir que a sociedade se estruturou para admirar e aceitar o belo na forma física de um corpo pleno, cheio de curvas deliciosamente esculpidas para o pecado masculino da carne feminina.


Servimos aos olhos famintos de quem muito nos quer nuas em suas camas secretas, aquelas que estão localizadas no fundo das suas taras mais obscenas e que nos mostram a sua entrada com “sutis” convites em forma de elogios. Somos escravas deste modelo, que endeusa a gostosa em um escritório cheio de homens engravatados.


Exagero? Acho que não… lembro-me bem da pergunta direta que meu ex-chefe de anos me fez no seu carro esportivo, quando voltávamos de um almoço com a equipe do trabalho, em uma quarta-feira qualquer: “Qual é a posição na cama que você mais gosta?”. Sim, esta foi uma pergunta que me chocou demais e que nunca vai sair da minha mente. Não preciso dizer que nunca tive absolutamente nada com este homem, que me causava completo asco e repúdio. Soube que ele fez essa e vários outras perguntas para muitas contratadas e estagiárias da grande empresa que mais se parecia com um circo de horrores!


Em 2016 acabei me casando com um executivo desta mesma empresa que, por ironia desta vida “masculina”, era um engravatado que tinha princípios, que nunca me ofendeu nem tentou nada que eu não quisesse. Me casei com uma pessoa que estava disposta a fazer tudo certinho, porque ele mesmo é assim: todo certinho. Ele foi criticado demais por largar um casamento e casar com outra mulher e eu, fui a “maldita” da história.


Mais incrível é que o machismo é tão forte na nossa sociedade que um dos melhores amigos do meu marido não aceitou a decisão de amar quem meu marido bem quisesse e se recusou a me cumprimentar, em um dia de sábado, em uma grande loja de departamentos…


A moral da história é: eu poderia receber várias cantadas absurdas, mas jamais poderia escolher ser feliz ao lado de quem me respeitasse. A sociedade estava pronta para abrigar em seu seio farto apenas duas categorias de mulheres: as “de família”, que vem com um carimbo dos pais que vendem seus dotes para os futuros maridos e as “vagabundas”, que aceitam elogios sujos para sustentar um emprego medíocre muito aquém da sua capacidade intelectual.


A minha resposta depois de vários abusos morais por tantos anos foi a criação de um blog de poesias eróticas no qual declaro minhas taras em alto e bom som, para todos, sem exceção ou definição de sexo. Porque ser feminista para mim é lutar todos os dias contra esse monstro chamado “machismo”, que teima em nos dominar e nos fazer acreditar que está “tudo bem”, quando na verdade não está ou nunca esteve…


Cris Coelho

bottom of page