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Onde estão os corpos gordos no Rock In Rio?


No último fim de semana começou, no Rio de Janeiro, o maior festival de música e entretenimento do mundo: o Rock in Rio.


Com mais de 70 artistas convidados, os palcos Mundo, Sunset, New Dance Order, Espaço Favela, Supernova, Rock District, Highway Stage e Rock Street Mediterrâneo reuniram diversas atrações.


Quem não foi ao evento presencialmente (como eu), pôde acompanhar a cobertura feita pela Globo e sentir um pouquinho da energia que estava rolando lá. Eu gostei muito dos shows que assisti, mas senti falta de uma coisa: o corpo gordo feminino.


Eu poderia mencionar a ausência do corpo gordo num geral, mas escolhi trazer um recorte feminino para essa coluna visto que na nossa sociedade existem dois pesos e duas medidas quando comparamos esses dois gêneros. Os cantores gordos (ou fora do padrão) dificilmente são alvo de matérias sobre seu corpo, enquanto que para as mulheres, isso é sempre mencionado, não importa quão talentosa, profissional e genial ela seja.


Os únicos dois corpos gordos femininos que vi - e que me trouxeram um tiquinho de esperança - foram os da Mc Carol, que se apresentou no palco Mundo ao lado de Papatinho e L7nnon e MC Hariel e da Preta Gil, que subiu no palco Sunset com seu pai, Gilberto Gil, para cantar uma música.


A Preta Gil foi a primeira artista com um corpo mais parecido com o meu que conheci. Minha paixão por ela surgiu de forma quase instantânea. Ela era a prova de que era possível ser uma mulher gorda bem-sucedida.



Fui aos seus shows e cantei cada uma de suas músicas como se recitasse algo sagrado. Acompanhei sua carreira artística, ao passo que sua vida pessoal também se desenrolava. Quando tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente, fiquei nervosa e me embolei com as palavras - justo eu, uma escritora! - mas o principal eu consegui dizer:

“MUITO OBRIGADA.


Muito obrigada por ocupar um espaço que por tantos anos nos foi e nos é negado. Muito obrigada por não desistir da sua carreira e não deixar de acreditar em si, mesmo quando a imprensa focou mais no seu corpo do que no seu talento e trabalho duro. Muito obrigada por não mudar o seu corpo para caber nessa indústria. Muito obrigada por ser uma inspiração para mim e para tantas outras pessoas.” Esse muito obrigada, felizmente, não ficou entalado na garganta.


Ainda assim, constatar a presença de apenas duas mulheres gordas em um festival gigantesco como o Rock in Rio também me fez pensar em como precisamos lutar três vezes mais para chegar a algum lugar.


Lutamos uma vez mais por simplesmente sermos mulheres e outra vez mais por não estarmos dentro do padrão de beleza gordofóbico que nos é imposto.


Se pararmos para pensar nas mulheres gordas bem-sucedidas na indústria da música, infelizmente constatamos que as referências são poucas; especialmente se falarmos de mulheres jovens. É como se fosse “mais fácil” - ou menos difícil - aceitar que mulheres ganhem peso depois de uma certa idade, enquanto mulheres jovens devem se manter atraentes (como se não fosse possível ser gorda e atraente simultaneamente).


Quando uma mulher jovem e gorda desponta no cenário musical, existe uma pressão imensa para que ela perca peso e muitas vezes é o que acaba acontecendo.


Do lado de cá, torço por mais Pretas, Carol, Lizzos, Tássias, Beths, Ellens, Kelly… Todas nós podemos!


Matéria de Thati Machado para a coluna gorda, sim!

Encontre-a no Instagram: @machadothati



Nota: curiosamente (risos) esse foi o anúncio que apareceu para mim diversas vezes enquanto eu fazia pesquisas sobre o Rock in Rio:






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