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Os primeiros dias com seu bebê



Olá, olha eu por aqui outra vez para estourar todas as bolinhas de sabão do seu parque. Se você não me odiou até agora ou não contou para as amigas que eu sou uma alma do mal, parabéns, você de fato é aquela pessoa que entende que a maternidade não é um conto de fadas, nem precisa ser, porque o que importa mesmo é que você que decidiu ser mãe, sobreviva.


Hoje eu vou falar sobre os primeiros dias com o seu bebê. Parece lindo, né? Você passa nove meses, ou quarenta semanas como chamam agora, imaginando a carinha, os sons, os olhos, o toque e o sorriso. Você olha todos os detalhes do quarto, se emociona, cheira cada roupinha que teve o cuidado de lavar e passar, sem se importar se as suas próprias roupas só se encontram com o ferro de passar no Natal e no ano novo.


Tudo limpo, lindo, organizado, bolsas prontas, porque você sabe, todo mundo te contou, que independente do tipo de parto escolhido, a surpresa pode acontecer a qualquer momento e você não quer chegar no hospital sem estar preparada. Sem uma bolsa só para as fraldas, e não se assuste, é mesmo necessário, ou você pode optar por uma mala, mas coloque aí um bom adicional de fraldas, porque logo nos primeiros dias elas vão desaparecer, ou, se você for como eu, terá aquele conjunto lindo, da cor combinando com o quarto e na saída da maternidade, uma mala de fraldas, uma para o bebê e outra para você. Nada fora do normal.


E aí você passa pelo parto – já falamos sobre isso no artigo passado, lembra? – tem o seu momento emocionante de ouvir o choro, pegar seu filho pela primeira vez, sentir o cheiro, chorar, tirar foto com a cara horrível, inchada e a criança cheia dos restos do parto que você ainda vai dizer que está linda e se emocionar depois de cinquenta anos. Acredite, isso acontecerá. Depois vai para o quarto, espera pelos primeiros cuidados, primeiros momentos como mãe daquele bebê e então... descobre que não existe qualquer graça nos primeiros dias.

"Não tem sons engraçadinhos porque isso não existe nos primeiros dias. Nem carinhas, toques, coisas para te fazer babar que não seja olhar ele dormir. Serão mil e quinhentas fotos enviadas no grupo da família, todas praticamente iguais, porque você se sentirá só."

As pessoas chegam, olham a criança, fazem perguntas, tiram fotos evocê está cansada, a criança também, mas todo mundo quer carregar, quer saber os detalhes. Você quer amamentar e não consegue, porque, amigas, não é uma tarefa para fracos. Dói, fere, a criança chora, você chora, as pessoas te olham como se você estivesse louca, afinal de contas, é só amamentar, colocar o bico do peito na boca de uma criança esfomeada... O leite não sai, a criança chora, você sacode a criança, chora junto, o leite é pouco, “o leite é fraco” “não existe leite fraco” “faz uma canja com...” e lá vêm os palpiteiros. Quando o dia acaba você só quer se deitar e dormir.


Mas a verdade, perdão por falar isso, é que nunca mais você irá dormir. Não dormir, dormir de verdade, sabe? Tipo domingo depois de uma semana de trabalho e faculdade, que você não precisa fazer nada porque sua mãe está em casa? Pois é, só que a mãe agora é você. E quando você pensa que vai conseguir descansar, a criança chora, quer comer, quer ficar limpa, quer brincar, quer chorar mesmo, quer olhar o tempo passar em seus braços. Você não sabe o que ela quer, mas precisa atender ao seu pedido.


Todas as teorias vão passar em sua cabeça. Vai sentir vontade de ignorar, vai se culpar por sentir vontade de ignorar, vai odiar o seu parceiro – se você tiver um parceiro ou parceira para dividir o fardo – e vai se culpar por odiar, afinal de contas, o peito é seu e só você tem o leite. Mas você está cansada. Levanta, pega a criança com cuidado porque ela é tão frágil que você sente pavor em fazer algo errado, em piscar e... pronto. Paranoia total. Você não vai dormir, ela vai em algum momento, mas você vai levantar quantas vezes conseguir para conferir aquele sono. Acredite em mim, você vai levantar. Meu filho mais velho tem dezoito anos e eu levanto até hoje e com certeza minha mãe levantaria se eu ainda morasse na casa dela.


Se você escolheu ser mãe, está na sua genética o instinto, o medo de perder, o medo de errar, o medo de ser julgada.


Sobrevivemos ao primeiro dia. Até acordamos com aquela sensação gostosa de coisa nova. Um bebê, meu Deus! Quantas novidades. As visitas não vão aparecer, o marido ou esposa vai trabalhar, você terá a casa, seu filho e horas para curtirem um ao outro. Cenas de filmes passam em sua cabeça com todos aqueles momentos lindos. Perdão mais uma vez, isso vai demorar para acontecer.


Seu filho vai acordar querendo comer, depois vai demorar para arrotar, algumas vezes ele vai vomitar tudo o que mamou e vai te deixar desesperada sem saber se limpa a criança o chão ou você mesma. Ele vai precisar trocar a fralda. Vai ter o primeiro banho e você vai tremer de medo de fazer tudo errado. Depois, cheiroso e limpo, ele vai dormir outra vez. E você? Bom, se não tiver ninguém para fazer o trabalho, vai limpar a bagunça, fazer comida, ajustar tudo com os devidos cuidados de quem acabou de ter uma criança, pelo amor de Deus! Sem deitar nem um segundo, porque seu corpo não vai se adaptar.


E o dia vai passar e seu filho só chora, come, é limpo e dorme. Essa é a rotina dele. Não tem sons engraçadinhos porque isso não existe nos primeiros dias. Nem carinhas, toques, coisas para te fazer babar que não seja olhar ele dormir. Serão mil e quinhentas fotos enviadas no grupo da família, todas praticamente iguais, porque você se sentirá só. Todo mundo segue com o mundo enquanto o seu parou porque seu filho nasceu.


Qual o objetivo em te contar isso? Assustar? De forma alguma. Eu quero te dizer que é normal essa sensação de que você não faz mais parte do mundo nos primeiros dias do seu filho. É estranho, é solitário em muitos momentos, mas você precisa saber que está tudo bem se sentir assim. Chorar, sentir ansiedade, achar que os dias não passam, é normal.

No meu primeiro filho eu fiquei péssima. Ele era um boneco que eu trocava de roupa e cuidava. Não havia uma interação real e isso me desabou. No segundo eu já sabia como seria e fiz tudo diferente.

"Se você escolheu ser mãe, está na sua genética o instinto, o medo de perder, o medo de errar, o medo de ser julgada."

Então acolha, converse, busque algo que preencha os espaços. E você vai me perguntar: que espaços? Bom, eu amamentava na madrugada lendo pelo celular e adorava. Também colocava música e dançava com meu filho no colo. Existe sim várias saídas e formas de fazer parecer o melhor momento da sua vida, porque a verdade é que, desde que você escolheu ser mãe, sua vida será recheada de momentos incríveis por causa de um sorriso e momentos terríveis por causa dos telefonemas da escola. Mas esse ainda é um assunto para discutirmos. Por enquanto você fica aqui com a certeza de que não será fácil, mas passa e você sentirá saudades.


Acredite em mim, desromantize os primeiros dias com seu bebê.


Tatiana Amaral para. a coluna Maternidade

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