Depois de tantos passos, de tantos encontros e de tantas reviravoltas na vida, volto para você com um único pedido: sua benção. Peço que você me compreenda, que entenda que tudo que fiz foi por mim, para me sentir melhor com a minha vida, mesmo sabendo que ela é mais importante para você do que para mim…
Sei que você ficou preocupada com alguns caminhos tortos que tomei, mas saiba que eles foram providenciais para chegar até aqui, na rua enlamaçada a e cheia de desvios. E se você não se contentou com os sapatos que eu nunca calcei foi porque você sabia que em algum momento eu ia me machucar. Sim, eu me machuquei e meus pés ficaram cheios de feridas, mas foi bom saber que eu tinha esse par de sapatos guardados; e, ainda que pequenos, ainda que desbotados, foram eles que me lembraram do conforto que existe no seu colo.
Não aprendi ainda a obedecer suas ordens, mas hoje consigo entender seu amor exagerado, cheio de cuidados extremos e afetos desconcertantes. Aprendi a escutar sua voz quando a chuva pesada insistia em cair sobre meus ombros descobertos. Aprendi a te ouvir quando você já não estava ao meu lado para dizer coisa alguma, porque o que havia sido dito foi adiante com o vento; não se apagou com as águas que tudo lavam e que também não conseguiram lavar aquela mancha de batom do seu beijo carinhoso, no dia em que cruzei por aquela porta…
E se você me perguntar se vou caminhar descalça de novo, te respondo que sim. Vou descalça em busca do meu destino porque ao final da estrada sei que você estará lá, segurando meus sapatos e pronta para me dar a sua benção novamente.
Fui! (buscar sua benção, descalça e debaixo da minha chuva…)