Esta série dramática, criada por Dan Fogelman, traz em exatos 106 capítulos distribuídos em 6 temporadas, o cotidiano da família Pearson durante várias linhas do tempo diferentes.
Poderia ser mais uma série sobre os encontros e desencontros da vida, os fundamentos que constroem a narrativa de uma pessoa, com suas histórias familiares que derivam em um oceano de possibilidades felizes e tristes, a depender de como cada um administra suas verdades...
Mas This Is Us é muito, muito mais que apenas esse emaranhado de emoções vivas a que somos submetidas ao assistirmos esse enredo familiar. This Is Us é a representação de cada família, em um determinado momento; é a explicação óbvia das nossas fraquezas enquanto seres humanos maduros e é a redenção de todas as nossas culpas ao enxergarmos as diversas narrativas que existem por trás de cada mãe, de cada pai, de cada filho e de cada parceiro amoroso que existe em nós.
This Is Us explora as fragilidades emocionais e trás, a título de drama emblemático, a despedida do patriarca da família. Sem perceber, somos levadas durante as temporadas iniciais a entender que tudo, absolutamente tudo se passa em torno desta personagem masculina que deixou a trama em um momento recente da sua existência, fazendo com que sua família fosse obrigada a reconquistar seus espaços de felicidade ao lado de sua ausência sentida.
Observamos esse enredo até o ponto em que somos surpreendidas pelas narrativas empoderadas das mulheres que se destacam e que carregam, elas próprias, o estandarte de ouro da série. A mãe, Rebecca é, afinal, a figura central de toda a trama, sendo, por vezes colocada à margem deste protagonismo em função da atmosfera melancólica a que seus rebentos são levados.
Os dramas atuais também são muito bem conduzidos pela trama, como a falta de gordofobia de Kate, vivida por Chrissy Metz, que é muito bem conduzida sem os estardalhaços sociais a que todos os indivíduos são submetidos na sociedade atual. Pelo menos no Brasil, seria difícil encontrar um ambiente tão acolhedor quanto o que Kate encontra na sua vida social – aqui a realidade de Kate seria muito pior. A maior luta apresentada na franquia está no fato dela própria se aceitar, o que acaba acontecendo com suavidade a partir do meio da série, quando outras questões de maior relevância ganham espaço nas preocupações de Kate.
A questão do racismo estrutural é mais explorada na série, em especial nas temporadas finais, onde o assunto é trazido com maior constância. Randall, vivido por Sterling K. Brown é o irmão adotado e enfrenta, desde pequeno uma luta diária para ser aceito por todos. Inexoravelmente, sua mãe tem uma predileção por ele, transformando seu amor em um misto de carga emocional e simbiose maternal.
Por fim, o alcoolismo é outro tema central trabalhado na série, através de Kevin, vivido por Justin Hartley; ele é um belo ator de televisão que, apesar de ter sucesso, dinheiro e fama, não consegue administrar suas fraquezas internas e a carga genética que herdou de seu pai, fazendo com que passe a série lutando contra o vício.
Voltando para nossa protagonista principal, Rebecca, vivida por Mandy Moore, esta busca sobreviver à morte do amor da sua vida e administrar o cuidado com três jovens problemáticos e fragilizados com a perda do pai. A vivência de uma história que nunca mais vai voltar, o conformismo com uma nova realidade que não foi aquela idealizada, a aceitação desta nova vida, os pedidos de perdão pelos erros do passado, são alguns dos desafios que Rebecca encontra na segunda parte da série e que a tornam tão espetacular.
Ela relembra com nostalgia os detalhes luminosos dos seus melhores momentos com Jack, vivido por Milo Ventimiglia, e faz das suas lembranças um lugar de conforto para sua nova existência.
E, desta forma, encontro o verdadeiro significado desta série que conquistou cada centímetro do meu corpo emocional, tornando-se parte da minha ideia de “vida”: esse mosaico de estruturas coloridas que se entremeiam para formar um grande e harmônico painel. Uma unidade formada pelos nossos desamores e frustrações cotidianas que um dia se abraçam calorosas; um grande abismo no centro do nosso imaginário ideal, que se eterniza em momentos possíveis e igualmente agradáveis e, por fim, um caminho saudoso para o encontro das almas que se desgrudaram em algum ponto da sua existência, mas que retornarão ao rumo correto logo ali, depois daquela ponte.
Cris Coelho para a Coluna Filmes & Séries
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