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Como é viajar sendo Gorda



Eu adoro viajar. Amo conhecer novas culturas, viver experiências diferentes, sair da rotina e me deixar surpreender. Dia desses estava conversando com uma amiga justamente sobre viagens e o nosso papo acabou revelando para ela algo que nunca passou pela sua cabeça, simplesmente por ser magra e por viver em um mundo que foi moldado para ela.


Ela estava me contando sobre sua experiência em uma nova atração do parque de diversões da Universal e logo eu perguntei: “mas eu poderia ir ao brinquedo?” Ela não entendeu o meu questionamento, então expliquei: “não tive uma experiência boa nos parques da Universal, a maioria dos brinquedos tinha uma trava de segurança que não fechava em mim.”


E de repente foi como se um mundo completamente novo se abrisse diante dos olhos dela. Ela nunca havia parado para pensar no simples fato de ter que se preocupar com caber ou não em um brinquedo, muito menos todas as outras complexidades envolvidas.


Ser uma pessoa gorda que gosta de viajar traz suas próprias questões e ansiedades. Na hora de comprar passagem, por exemplo, nem sempre eu posso comprar a mais barata. As poltronas dos aviões estão cada vez menores e dependendo da duração do voo, eu preciso me certificar de que vou caber no assento sem passar por grandes sufocos. Ficar confortável na classe econômica é impossível para mim, mas em algumas companhias aéreas eu consigo ter uma experiência menos pior. Chegando no avião, preciso me dirigir à aeromoça e pedir um extensor de cinto, pois a grande maioria não cabe em mim (inclusive, não tenha medo ou vergonha de pedir um extensor de cinto caso precise; é seu direito e as companhias são obrigadas a ter! Viajar com segurança é direito de todes.)


Outra preocupação que me acompanha é em relação ao transporte público. Na minha cidade (Niterói - RJ), por exemplo, eu quase nunca pego ônibus. As catracas são apertadas e depois de ficar presa em uma, a simples ideia de ter que pegar um ônibus me deixa em pânico. Essa experiência não acontece nos ônibus de Buenos Aires, por exemplo. Por lá, os ônibus não têm catraca. Você entra pela porta da frente, informa o seu destino para o motorista, faz o pagamento da passagem e escolhe seu assento em seguida.


Buenos Aires é uma das minhas cidades favoritas no mundo e andar de ônibus pela cidade pode parecer algo simples e bobo, mas eu simplesmente amo! Poder passear pela cidade de um canto a outro gastando pouco é, ao meu ver, um privilégio do qual eu não consigo desfrutar no meu próprio estado.


Outras experiências comuns em viagens como montanha russa e esportes radicais também costumam ter limite de peso! Quando visitei o parque aquático (também da Universal) em Orlando, fui barrada pouco antes de descer um tobogã (depois de ficar mais de uma hora na fila!) por exceder o limite máximo de 90KG por pessoa. Isso se repetiu também quando tentei montar um touro mecânico em outra ocasião.


Ir e vir é um direito garantido pela constituição, mas se você é uma pessoa fora do padrão (seja por ser gorda ou ser pcd) vai encontrar diversas barreiras e dificuldades que muita gente nem sabe que existe.


Thati Machado para a coluna Gorda, sim!

Encontre-a no instagram: @machadothati

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