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De volta ao colégio

Atualizado: 5 de set de 2022

Ontem tive um sonho estranho. O cenário não era familiar, mas sabia que estava de volta ao último ano do ensino fundamental. As mesas organizadas em fileiras, a mochila pesada por causa dos livros e os colegas conversando entre si enquanto aguardávamos a chegada da professora.

Eu estava apavorada. Queria entender como havia parado ali, naquela situação, após tantos anos. Tudo aquilo deveria permanecer no passado, já que em minha rotina não preciso me preocupar com as obrigações escolares, como fórmulas de matemática ou a entrega de trabalhos em grupo.

Iríamos fazer uma excursão, foi o que uma colega me disse. Enquanto cada um organizava suas coisas para entrar no ônibus, me sentia ansiosa em busca de respostas para tamanho retrocesso. Lembro de perguntar à professora se não havia algum engano, talvez uma troca de nomes que justificasse minha presença naquele lugar. Ela apenas sorria e dizia que estava tudo em ordem.

Muitas coisas aconteceram, não consigo lembrar de todos os detalhes. Sabe como é, sonhos costumam misturar memória com imaginação. Porém de uma coisa tenho certeza: do medo e frustração que senti quando percebi tamanho regresso.

Nos últimos meses estou com dificuldades de tomar algumas decisões, a maioria relacionada ao trabalho e vida pessoal. Todo mundo passa por esse tipo de coisa, porém a deficiência costuma tornar esse processo um pouco mais complicado. Bem sei que há momentos da vida em que uma parte de nós pede por mudança. Às vezes conseguimos identificá-los, em outros demoramos em nossas escolhas por medo de se arriscar.

“Há momentos da vida em que uma parte de nós pede por mudança. Às vezes conseguimos identificá-los, em outros demoramos em nossas escolhas por medo de se arriscar.”

Me ver novamente no ensino fundamental foi um grande choque para mim. Foram muitas barreiras vencidas para chegar aonde estou, situações difíceis e, por vezes, dolorosas demais. A felicidade também moldou esse caminho, pessoas incríveis e generosas que me auxiliaram quando mais precisei. Mas elas ainda não estavam no meu sonho.

Ali senti o gosto do fracasso. Amargo e difícil de esquecer. Me fez lembrar de uma Fatine que ainda desconhecia seu potencial, se escondendo para evitar aparecer e ser vista por todos. Medo de me arriscar.

Talvez tenha sido essa a semente do meu sonho. Essa sensação de estar presa a uma realidade estéril como a que estamos vivendo. É difícil manter a esperança quando as coisas ao redor parecem desmoronar. O corpo cansado, o trabalho sem motivação e a energia piscando em 10%. Um perfeito looping no cotidiano.

É fácil se levar por essa onda de desmotivação, se focarmos apenas no sucesso individual. Montamos um lugar ideal para alcançarmos… porém nem sempre será possível chegar lá. Ou quando chegamos, não sabemos mais para onde ir.

Nessas horas precisamos nos reinventar. Olhar para dentro, buscar o que não nos serve mais, abrindo espaço ao novo. É preciso coragem para recomeçar. Da próxima vez, pretendo me permitir explorar um pouco mais esse sonho. Tentar me reinventar.

E não é isso que todas nós fazemos?

Fatine Oliveira para a coluna Corpos sem filtro

Encontre-a no Instagram @fatine.oliveira

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