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Matéria de Capa: Fabi Guntovitch


Por Cris Coelho

Fabi Guntovitch, quem é essa mulher extraordinária? Sim, extraordinária!

Fabiana se intitula psicanalista da alma feminina e é uma profissional extremamente competente, mas o que a faz única é o seu olhar empático para todas as mulheres que cruzam seu caminho.


Cuidadosa com suas palavras, Fabi, como gosta de ser chamada, está sempre atenta às mudanças sociais e busca entender como algumas situações impactam positivamente ou negativamente na vida das pessoas que buscam sua ajuda.


Ela está em constante aprendizado sobre as particularidades de cada universo feminino e consegue trazer com maestria, uma visão singular da construção de cada uma, de acordo com as emoções que estão por trás de cada palavra.


Conheci a Fabi por acaso (se é que podemos dizer que o acaso existe...) por meio de um grupo de mulheres que eu havia criado em São Paulo, na época em que morei lá.


Sempre generosa, Fabi logo se aproximou de mim com sugestões úteis sobre a melhor forma de colocar regras e se relacionar em um grupo tão múltiplo quanto este que frequentávamos. Logo nos tornamos próximas e ensaiamos fazer algo juntas, já que a nossa afinidade era incontestável. Mas a vida mudou e meu destino foi retornar ao Rio de Janeiro, onde passei a me dedicar ao projeto da revista Maria Scarlet.


Sempre tive a presença da Fabi muito clara no meu ideal de psicanalista, pois era ela, sem sombra de dúvidas, aquela que me inspirava quando o assunto era a análise positiva sobre o comportamento humano.


Queria uma pessoa que fosse uma autoridade no assunto da alma feminina, que conversasse com as questões emocionais de uma forma não-ortodoxa, que fosse fora da caixa, que quebrasse o padrão do psicanalista clássico que se orienta somente com base nas leituras necessárias dos antigos mestres da psicanálise. Queria ao meu lado uma mulher com o poder de se reinventar a cada instante com base nas observações que faz a cada instante sobre a vida e suas várias vertentes.


Queria alguém como ela: uma mulher que desmistifica o conceito do impossível tornando fácil a vida quando a analisamos sob o olhar empático de uma estudiosa do comportamento humano.


Ao lado da Fabi sinto-me acolhida em todos os momentos e construo uma relação cada vez mais próxima da minha colunista, aquela que hoje chamo de amiga e que quero levar para sempre na minha caminhada.


Senhoras e senhores, com vocês, a nossa estrela:

Fabi Guntovitch.


MS: Quem é a Fabi que suas leitoras da Maria Scarlet ainda não conhecem?


A Fabi que as leitoras não conhecem é uma Fabi curiosa, que transborda além da psicanálise. Todas nós temos e precisamos nos permitir viver nossas múltiplas facetas, temos muitos lados, a, b, c. d, e, f... z! Eu pelo menos tenho e me permito viver todos eles, mesmo que alguns se mantenham na privacidade do meu círculo mais íntimo. Por muitos anos da minha vida eu me apertei para caber em caixinhas, me reduzi a ser a filha dos meus pais, a esposa do Fernando, a mãe de três crianças, e me perdi nessa redução de singularidade. Hoje eu não me reduzo mais à nada, me recuso a me encolher, resisto e fujo de qualquer lugar que me aperte, que me rotule, que invalide a minha singularidade e subjetividade. E essa é uma resistência e tanto.


O mundo está sempre tentando nos resumir, nos reduzir, nos rotular, e cabe à cada uma de nós resistir e nos rebelar. Acho que minha alma se tornou claustrofóbica, e está tudo bem, para nos expandir, é mesmo necessário espaço para existir e respirar. É essa pluralidade, na minha opinião é o que faz as pessoas mais interessantes.


MS: O que você gosta de fazer quando não está trabalhando?


Amo minha casinha, talvez porque passe a maior parte do meu dia ouvindo e conversando com pessoas no consultório, gosto de vir para a minha paz, meu silencio, meu sossego com meu marido, filhos e cachorros. Mas sou uma mulher de muitas paixões, música, dança, sol, mar, gargalhadas, natureza, abraço, contato, quietude, colo... Sou apaixonada pela vida e acredito na essência do ser humano. São as paixões que me movem, sem elas, a vida fica morna, perde a cor.


Uma curiosidade sobre mim é a dança, fiz muito ballet quando jovem, e hoje me jogo na dança de salão, até para congresso de tango em Buenos Aires já fui algumas vezes... rsrsrs.

MS: O que significa ser psicanalista da alma feminina? De que forma você atua na vida dessas mulheres?


Atuo em busca de uma reconexão com um feminino saudável, forte, pleno, singular, seguro e poderoso. A sororidade é um caminho especialmente importante nesta busca, e a partir de um lugar de conexão com as dores do feminino adoecido, juntas somos capazes de nos fortalecer e de construir um lugar mais harmônico e mais poderoso para todas nós.


MS: Em seu texto “juntas somos mais fortes” para a sua coluna da revista MS eu descobri que antes de se tornar psicanalista, você fez faculdade de administração com ênfase em comércio exterior.


Eu entrei na minha primeira faculdade aos 17 anos, e romantizei o comercio exterior, achando que seria como uma carreira diplomática. Logo percebi que não tenho o menor perfil para a vida corporativa e burocrática, mas fui até o fim. Hoje percebo o quanto para mim “não desistir” sempre foi um valor importante, talvez a maturidade tenha trazido a percepção do que vale a pena insistir e do que vale a pena deixar ir. Hoje sei o quanto o tempo é valioso ( e escasso), mas naquela época, tinha a sensação de ter todo o tempo do mundo... delicia neh?


MS: Mas em que momento você percebeu que esse não era o seu real propósito e como foi esse processo de autodescoberta?


Essa é uma pergunta interessante que eu demorei muito tempo para encontrar a resposta.


Eu não tinha a menor ideia de como viver meu propósito.Eu sabia que eu tinha o dom de saber ouvir, do bom senso, do não julgamento, sabia que tinha uma super intuição, e que realmente me importava com o bem estar das outras pessoas. Eu vinha há anos informalmente ajudando pessoas a lidarem com suas questões mais profundas, a amadurecerem seus relacionamentos, mas sem qualquer método ou respaldo.


A pergunta que me atormentava era: como unir essas características e colocar à serviço do outro? Como se “vende” bom senso e intuição?


De verdade, essa busca foi uma saga. Comecei a fazer vários cursos, a princípio busquei pelo caminho da intuição e fui aprender a ler tarot. Achei muito legal, mas ainda não era bem isso que eu queria fazer, pois apesar do oráculo trazer à consciência algumas informações, não seria transformador. Passei para o outro lado, fiz cursos de coaching dentro e fora do Brasil, inclusive um de Relationship Coaching na Inglaterra que foi muito legal, mas não achei que fossem ainda suficientes. Fiz uma formação de terapia sistêmica de casais que foi chegando mais perto um pouquinho, até que eu entendi que ainda precisava abarcar o inconsciente de outra maneira, e foi aí que eu fui buscar a psicanálise, e por fim a pós-graduação em neurociência e comportamento. Ou seja, a pluralidade que me habita, ela também se apresenta no meu trabalho. Eu não acredito que eu seria capaz de caber em uma única caixinha, assim como também não acredito que ninguém caberia.


O processo de autoconhecimento na minha opi///nião é perene, não apenas porque sempre haverá algo para observarmos em nós mesmos que ainda não vimos, mas porque somos como o tempo, seres em movimento, e a cada dia somos de alguma forma uma nova possibilidade de nós mesmos, prestes a ser desbravada, e isso ao mesmo tempo que pode parecer assustador para algumas pessoas, pode ser lindo e estimulante para quem tiver vontade – e coragem – para se aventurar a mergulhar em si mesmo.


MS: Para você, o que é ser uma mulher evoluída espiritualmente? Você acredita que já tenha chegado nesse nível de evolução?


Evolução espiritual não é uma reta de chegada, é um processo, um caminho a ser trilhado, com avanços, pausas, e até mesmo momentos de retrocessos. Entendo este caminho como um movimento onde idealmente, conseguimos nos aproximar mais do amor e nos afastar mais do medo. Amor e medo são conceitos importantes na busca da evolução espiritual, assim como é a compreensão de um Universo que nos apoia, e na relação direta, sem intermediários com uma força maior. Fé em uma força maior é essencial, inclusive para a saúde mental.


MS: Em uma era de cancelamento, o que você pensa sobre isso tudo?


Cancelamento é uma forma de cyber bullying coletivo, é assustador e pode tomar proporções impensáveis. Não acredito em julgamentos, linchamentos e punições a partir de percepções rasas e virtuais. O ser humano é falho por natureza e o cancelamento por si só impede a pessoa de fazer uma curva de aprendizado e de refletir e se for o caso, de se redimir com o mesmo alcance.


Ao mesmo tempo, também não acredito em dar palco e microfone para discursos de ódio. Somos todos livres para escolher a quem seguir/acompanhar. O cuidado que temos que ter é com o efeito manada, com a tendência de tomarmos partidos sem nos aprofundarmos um pouquinho na subjetividade da questão em si.


MS: Como você lida com momentos delicados?


Eu tento respirar e me conectar com a situação por diferentes ângulos. É muito fácil nos deixarmos levar pela reação inicial e nos perdermos, sermos engolidos numa bola de neve. Eu realmente acredito que todo problema ou desafio é uma oportunidade de aprendizado e evolução, uma benção disfarçada. Quando a gente consegue olhar além da barreira do ego, fica menos pesado lidar com situações desafiadoras.


É importante lembrar que nenhuma vida é um projeto fácil. Muitas vezes olhamos para o instagram e imaginamos como outras pessoas tem mais sorte, ou parecem ser mais abençoadas que a gente, no entanto o que vemos ali, e o que vocês vem aqui é um recorte, uma foto dos melhores momentos. A vida de todos nós é lotada de altos e baixos, assim como num parque de diversões tem a montanha russa, o carrossel, e também o trem fantasma! O importante é nos lembrar-mos que primeiro: tudo faz parte, e segundo: tudo passa.


MS: As pessoas acham que você tem que saber de tudo por ser psicanalista e pós-graduada em neurociência e comportamento?


Sim, e pior, as vezes eu mesma me percebo me cobrando por isso. Não é legal. Sou humana como qualquer outra pessoa, e também preciso de calma, de colo, de apoio e de suporte. Também me sinto fragilizada, e tenho meus gatilhos.


Muitas pessoas, inclusive na minha família, olham para mim e confundem a minha leveza em lidar com a vida, o meu sorriso no rosto, o meu abraço sempre pronto com uma vida sem preocupações. Não é verdade, infelizmente. Talvez eu evolua um dia o suficiente para não mais me preocupar, não mais tentar controlar nada (minha utopia preferida), mas por enquanto, eu na minha humanidade, também tenho minhas dores e momentos desafiadores, talvez a grande diferença é que eu tento conviver com eles de uma maneira mais leve e com um olhar o mais positivo e esperançoso possível.


Faz parte de ser humana, e está tudo bem! Já fiz as pazes com minha humanidade, mas reconheço que foi um processo, e que se eu não ficar atenta, corro o risco de cair de volta na armadilha da mulher maravilha.


MS: Estamos próximas do final do ano e esse é um período em que as pessoas refletem sobre o que fizeram até aqui e algumas até se frustram por não terem conseguido atingir seus objetivos. Como se livrar dessa sensação de culpa por não ter “feito o suficiente”?


Precisamos nos lembrar que “fazer o suficiente” é uma questão absolutamente subjetiva! Suficiente em relação à quem ou à que? Às suas expectativas? Às expectativas da sociedade? Ao caminho de outras pessoas? Precisamos ativar nosso poder interno de amor próprio incondicional urgente! Cada uma de nós faz o que da conta no tempo que da conta, de acordo com nossa subjetividade e com o que se apresenta diante de nós num dado momento. Se cobrar é se julgar, e se julgar é se machucar. Ninguém machucado chegará tão longe qto chegaria se estivesse saudável, se cuidando, não é mesmo?!


MS: Qual foi a maior transformação que esse ano te trouxe até aqui?


O aprendizado de que controle é uma ilusão vem sendo aplicado insistentemente à minha existência faz alguns anos, talvez eu esteja fazendo mais as pazes com esta realidade este ano, acho que estou mais em paz com isso. Para mim este é um processo e tanto, mas que quanto mais eu vivencio essa verdade em paz, sem lutar contra, maior a minha paz interior e a repercussão dela na minha vida e ao meu redor.


MS: O que você gostaria de dizer para as leitoras da Maria Scarlet para que elas levem para o próximo ano e todos os outros?


Confiem! Confiem em vocês, na vida, num Universo amoroso e generoso! A vida é um processo de infinitas possibilidades e tudo acontece para o melhor. Mesmo que a gente não alcance ou possa entender como algo que dói tanto possa ser para melhor, eu realmente acredito que exista um propósito pessoal ou coletivo para o bem maior sempre. A paz interior, o desejo de que o melhor aconteça sempre para todos os envolvidos, a disposição em contribuir amorosamente em todas as situações se despindo de julgamentos da melhor maneira possível é uma forma de viver a ser conquistada, e que eu observo trazer imensos benefícios para todos aqueles que se dedicam a experimenta-la!

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