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Me descobri bissexual bem antes de muita coisa em minha vida vir à tona


Brincava com amigas de casamento, de namoro e para mim era normal. Gostei de mulheres antes de gostar de homens, e me masturbei pensando nelas primeiro. Meu primeiro “namoro” foi virtual, e foi com uma ex de uma amiga da escola (essa amiga da escola já tinha a visto pessoalmente, então eu sei que realmente era outra menina da minha idade), minha primeira paixão e minha primeira desilusão amorosa foram com alguém que nunca vi pessoalmente.


Ela era de São Paulo, uma cidade vizinha à qual os meus parentes paulistas moravam, orquestramos tudo de acordo com minha próxima ida para lá. Íamos ao cinema juntas na cidade dela e eu daria meu primeiro beijo (finalmente), mas, o quão devastador foi descobrir que minha mãe não me deixaria ir sozinha e que nenhum parente ia poder me levar. Chorei horrores, minha mãe sem entender nada, e eu sem poder dizer que chorava tanto porque a amiga, na verdade, era minha namorada. Porém, o tempo passou e eu superei, acabei me apaixonando de novo.


A próxima paixão estudava comigo e por causa desse amor fui obrigada a contar para minha mãe que era bi. Acontece que um cara que estava interessado em nós duas não ficou muito contente em descobrir que as duas meninas que tinham rejeitado ele, agora, estavam juntas. Meu desespero foi enorme. Minhas primas estudavam na mesma escola que eu. E se minha mãe descobrisse? Pior, e se meus avós descobrissem? O quão devastador seria para eles? Minha avó da igreja e meu avô super conservador. Eles ficariam arrasados. Minha solução? Contar para minha mãe já que ela sempre dizia que eu poderia contar tudo e ela seria minha amiga. Eu confiei, né? Fui lá e contei, falei tudo, e fui proibida de sair. Era da casa para a escola e da escola para a casa. "Você com certeza só está confusa, logo logo isso passa, só parar de ver fulana que tudo passa”, minha mãe dizia, só que não parei de ver fulana, e eventualmente terminamos. Ela achava que por eu ser bi, ela tinha mais chances de ser traída (ela me traiu no final das contas). Sim, eu ainda era monogâmica.


Acabei não deixando de me apaixonar por mulheres e meu medo de repressão foi embora assim que meus avós se foram. Eles eram as únicas pessoas pelas quais eu tinha temor, as quais eu não queria desapontar e não queria levar bronca. Sendo assim, eu, me abri pro mundo e decidi falar aos quatro ventos que era (sou) bissexual. E estando num relacionamento não mono, os questionamentos também vieram: "Você é bi mesmo? Ou só tá falando isso para vocês arranjarem alguém?" e “Nossa, que vontade que tenho de sair com duas mulheres” (essa última frase foi dita por um homem na nossa primeira troca de mensagens após um match num aplicativo de namoro).


Primeiro eu não podia expor quem eu era, agora que eu posso e faço, eu sou questionada pelo o que sou? É isso? Uma vida de questionamentos nunca podendo ter certeza de nada? É cansativo, sabe, mulheres que vêm até mim porque sou uma forma de chegar no meu parceiro, mulheres que vão até ele por ser um meio de chegar até mim. Eu quero uma conexão direta, sem questionamentos.


Gio para a coluna Não Monogamia

Encontre-a no instagram: @snaomono


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