top of page

Onde está o direito ao desejo?



Já faz uns dias que venho assistindo filmes e séries românticas, sabe? Não sei dizer o motivo que me levou a fazer isso, mas tenho buscado preencher meu tempo livre com essas histórias. Algumas são bem divertidas, com situações absurdas que no final sempre acabam bem. Outros já seguem uma linha dramática, nos envolvendo em suas tramas calientes e cheias de reviravoltas inesperadas.


Uma após a outra. É assim que tenho feito. Talvez seja um desejo reprimido, como se quisesse experienciar as cenas da tela. Ou até mesmo um resquício do patriarcado enchendo minha cabeça com suas narrativas românticas e normativas. Às vezes me pego pensando “será que estou carente?”, mas acho que todo mundo tem essas fases em algum momento da vida.


Pelo menos, espero que sim.


Não tive muitos relacionamentos, me envolvi com alguns caras, vivi situações complicadas. Romances estranhos e, alguns deles, distantes. Amei com todas as minhas forças, acreditei nos sentimentos dos outros, me entreguei em toda oportunidade que tive. Principalmente naquelas que envolviam sexo.


Sim, me permiti libertar minha libido. Não sou essa mulher sem vontade que a sociedade costuma imaginar. Minha deficiência me inspira a explorar meu corpo, buscar formas de prazer diferentes e bem mais excitantes. Uma troca de olhares, a espera por um beijo e o toque lento pode ser bem mais provocante do que muitos costumam pensar.


No imaginário popular a mulher com deficiência não tem direito ao afeto. Pensam que somos feitas para a calmaria, ao cuidado familiar ou ao carinho fraterno de uma boa amizade. Mas também somos erupção, podemos manter uma chama acesa até atingir o ápice de uma explosão.

Sempre fui uma pessoa muito sexual, antes de perder a virgindade costumava dar conselhos para minhas amigas apimentarem suas relações. Não conseguia ver tabu no sexo, pois via como algo natural. Até hoje conheço bem meu corpo, seus segredos e vontades.


Sinto falta desse fogo, porém alguma coisa mudou em mim. A busca por parceiros foi se tornando cansativa demais. Quando se encontra muitas recusas, você começa a duvidar de si. Não que minha chama esteja apagada, de forma alguma. Entretanto, como fazer quando não há ninguém para compartilhar esse desejo?


Claro que existem formas de se explorar sozinha, inclusive é importante ter esse gesto de autoamor. Mas tem dias… ah, aqueles dias em que a pele está pedindo algo mais. Um cheiro, uma pupila dilatada e a respiração em sintonia.

“Não sou essa mulher sem vontade que a sociedade costuma imaginar. Minha deficiência me inspira a explorar meu corpo, buscar formas de prazer diferentes e bem mais excitantes.”

É complicado lidar com essa pulsão toda sem ter uma forma de escape. É assim que algumas mulheres com deficiência se sentem, sabe? A gente olha para tela da televisão e não vê nenhum corpo parecido com o nosso. Nas histórias que vejo não há espaço para pessoas fora da norma, não tem tesão para alguém igual a mim. Ainda assim, cá estou deslizando pelo cardápio de títulos a procura da minha próxima parada. Dessa vez, vou tentar uma comédia porque, no final das contas, o riso também é uma boa fonte de prazer.


Fatine Oliveira para a coluna Corpos sem filtro

Encontre-a no Instagram @fatine.oliveira

bottom of page