Sempre que penso em avós, penso em você. Penso nos cabelos brancos, na cor platinada e nada envaidecida, que cobriam de forma espassada sua mente brilhante. Penso nas mãos calejadas, no cheiro de tempero caseiro que elas exalavam. Penso na sua boca com lábios finos, na forma arcaica com que as palavras saíam dela, na estrutura conservadora, na reepreensão dos atos impróprios contra meus pais e na absolvição dos pecados declarados da gula. Penso nas roupas sóbrias, nos tons modestos, nos brincos de pérola e no cordão com o dentinho do meu pai, adornando harmonicamente seu lindo pescoço. Penso no conjunto da obra que formava a sua imagem. Mas penso também nos sentimentos que você provocava em mim, sempre que eu chegava à tua casa. Não eram fortes emoções, pelo contrário, eram emoções bem amenas, tranquilas, suaves. Eu me sentia feliz ao seu lado, cuidada por você. E não precisava conversar horas, nem um segundo sequer, para saber que você estava entendendo tudo o que se passava no meu mundo. Eu tinha a confirmação de que você sabia, e também do que você me sugeria fazer, somente pelo seu olhar firme e forte. E o que eu deveria fazer? Seguir sempre meu coração, pois ele poderia trapacear algumas vezes, mas jamais me enganaria se eu o buscasse com verdade. E essa verdade, é a verdade que eu enxergo quando vejo sua imagem: a verdade sobre mim, com tudo o que você acreditou que eu tivesse… Algumas poucas fraquezas e todas as inquebráveis fortalezas que sustentam meu ser e me fazem crer que é possível existir sem você. Porque você vive em mim, na minha melhor parte… Fui! (agradecer meus avós, lá dentro de mim…)
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