Intensa: é a palavra que melhor me define. Se me irrita, eu brigo. Se brigo, me arrependo. Se me arrependo, repenso. Se repenso, mudo de ideia. E aí, brigo de novo… Sou intensa desde que me conheço, desde que conseguia distinguir “manha” de “fofura”. Eu era manhosa, mas fingia ser fofa para conseguir o que queria. Sim, também tinha minha dose de interesseira… até descobrir que o mundo é muito mais cruel que os meus simples descompassos.
E foi com essa mesma intensidade que briguei, quando entendi que não ia conseguir aquele prêmio, que o meu namorado jamais seria meu mais do que era “delas”, quando vi que de nada adiantava fazer tanta dieta, se a cada hora, a imagem daquele doce vinha me seduzir e acabava me levando para a mesa farta que eu vivia fugindo…
Não adiantava tentar parecer melhor do que eu era, se a minha melhor versão jamais agradaria aos que eu achava que me importavam. Não adiantava ser eu, em um modo mais meloso, se era a pessoa insensível que todos esperavam ver do outro lado da mesa. Não adiantava, realmente, mudar para melhor, se para melhor era um lugar que eu não tinha o endereço. Então fiquei no lugar “pior”. E briguei, ah… claro! Briguei com toda a intensidade que pude.
Só parei de brigar quando descobri que o sinal estava vermelho, que as luzes haviam se apagado e que era hora de ir embora. Mas a emoção que eu mal conseguia conter dentro do meu peito apertado era tanta, tanta, que não pude evitar uma última olhada pelo retrovisor, aquela que me mostrou o quanto meu discurso ácido espantou o mal olhado dos que invejavam a minha aura cinzenta, mesmo sendo cinza! E o quanto minha rispidez encorajou os que caíam ao lado dos meus pés já calejados de tanto correr…
Esse reflexo me revelou, enfim, que a capa de cimento que eu havia construído ao meu redor era, apenas, mais uma das minhas fofuras, uma brincadeira da época em que eu ainda ria de mim, fingindo que esse era o meu castelo e que somente os corajosos que conseguissem quebrar a barreira imposta pela minha inimaginável manha, iriam ter o privilégio de conhecer a intensidade que habitava esse corpo bonito com rosto bravo…
Fui! (Parar de brigar…)