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O depois da paixão

Hoje acordei cedo e decidi tomar café com a minha mãe. De vez em quando faço isso. Como tenho a cópia da chave, entro em sua casa, preparo o café e só depois vou até o quarto. Dou um beijo em sua testa, ela abre aquele sorriso tímido de quem ainda está acordando, e então nos sentamos para o nosso ritual de todas às vezes.


Dessa vez, porém, uma frase dela me acompanhou o dia inteiro: “Vocês não estão mais apaixonados como no começo.”


Ela se referia a mim e ao Daniel, meu companheiro de quase 3 anos. Na hora, eu tomava um gole de café que desceu mais amargo do que de costume. Precisei de alguns segundos para colocar a xícara de volta na mesa e levantar os meus olhos para aqueles grandes olhos amendoados, que esperavam uma resposta. Queria ter horas para pensar na resposta perfeita, mas só consegui dizer: 

“Acho que isso é normal em todo relacionamento, mãe.”


Seguimos conversando, mas confesso: aquela frase não saiu da minha cabeça o dia todo.


Afinal, quem não gostaria que a paixão avassaladora do começo durasse para sempre? O frio na barriga, a ansiedade por uma mensagem, o beijo que faz perder o chão... seria maravilhoso se fosse sempre assim, não seria? 


Depois da conversa de hoje, confesso que fiquei relembrando aqueles primeiros momentos... quando eu sorria sozinha pela rua ao ler uma mensagem, quando o coração disparava só de ouvir uma música, ou quando me deitava na cama à noite e ficava horas com o celular na mão - trocando mensagens que iam do riso tímido às conversas quentes que só os começos de namoro carregam.


Mas a vida real nos mostra outra coisa: a paixão, com o tempo, dá espaço para algo mais silencioso, mas não menos bonito. O amor. Esse que se constrói no dia a dia, no dividir tarefas, no respeitar silêncios, no rir das pequenas coisas, no dormir com os pés conectados, no reconhecer o que o outro está pensando apenas no olhar.


É diferente da chama inicial, mas é justamente o que sustenta o fogo para que não se apague. Pensando muito sobre isso, chego à conclusão que meu relacionamento está passando por essa transição, talvez deixando mesmo de ser paixão para se tornar amor. E abrigo.  Talvez seja isso que minha mãe ainda não saiba - ou talvez saiba mais do que eu. 


Mas se entendemos que é o amor que sustenta, por que temos a sensação de faltar algo? Será que no fundo preferimos o caos da paixão à calma do amor?


Ive Bueno para a coluna Universo Feminino

Encontre-a no Instagram: @euivebueno


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