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Onde passa uma pessoa cadeirante passa todo mundo


A rampa é muito mais que um acesso. É um sinal claro do que sua empresa, seus eventos, sua casa, entendem sobre inclusão. É a materialização da sua real intenção de incluir.

Participar de grandes eventos que vão dar luz às trajetórias profissionais é algo

que nos motiva a “arrancar” da nossa jornada um exemplo inspirador para

impactar a plateia. Assim, nos preparamos durante dias, treinando e buscando

essa história que queremos revelar. Mas, o fato é que, às vezes, a história está

no seu presente e não no seu passado.


A proposta de contar como me tornei uma pessoa com deficiência e como fiz

disso um empreendimento em que eu acredito e que já gerou mais de 9 mil

empregos a profissionais com deficiência, como eu, é uma história que venho

contanto há mais de uma década, sempre com o intuito de inspirar pessoas

com deficiência a perseguir uma jornada promissora e de sucesso profissional.


Sempre antes de dividir essa história com o público, outra história sempre

acontece. No meio do meu caminho tinha uma rampa! Uma rampa para

acessar o palco. Só quem é uma pessoa com deficiência de locomoção

entende o efeito dessa verdadeira “ponte” que nos inclui. Na maioria das vezes,

onde não há rampa é necessário a companhia de algum brigadista ou

bombeiro para carregar-me ao palco em segurança. É a lei, mas não é fácil

para alguém como eu, que vivo de estimular a autonomia das pessoas com

deficiência, ter que depender de alguém para me conduzir até logo ali acima.


Quando acessei a rampa para o palco, percebi a grande história que as

pessoas com deficiência vivenciam todos os dias. A rampa é o meio mais

democrático de inclusão, porque não é feita apenas para pessoas que se

locomovem por meio de cadeiras de rodas. Ela atende a pessoas com

mobilidade reduzida por diversas causas, com dificuldade de movimentar-se,

permanente ou temporariamente, gerando redução efetiva da mobilidade,

flexibilidade, coordenação motora etc., e que não se enquadram no conceito

de pessoa com deficiência.


Cerca de 15% da população mundial (1 bilhão de pessoas) tem alguma

deficiência. No Brasil, segundo dados do IBGE, somos cerca de 18,6 milhões

de pessoas com deficiência, correspondendo a 8,9% da população. Isso sem contar as pessoas com mobilidade reduzida. É muita gente tentando subir

degraus.


A rampa é muito mais que um acesso. É um sinal claro do que sua empresa,

seus eventos, sua casa, entendem sobre inclusão. É a materialização da sua

real intenção de incluir. Sua importância é a mesma do intérprete de libras

durante um evento. São ferramentas essenciais para aumentar seu público,

para multiplicar suas mensagens, para abraçar a inclusão de verdade.

As rampas - após a sensibilização de uma companhia aérea brasileira,

motivada por apontamentos que fiz sobre minha difícil rotina de entrar nos

aviões – substituíram as escadas que permitem hoje o acesso à aeronave com

mais agilidade, com mais dignidade, com mais respeito.


A acessibilidade é lei e é um direito humano. É uma parte importante da

construção de cultura de inclusão que vai além de preencher a cota. Parece

que, infelizmente, as pessoas com deficiência e demais marcadores sociais

estão sempre na dependência de acontecimentos tristes e trágicos para que as

leis e os direitos passem a existir e funcionar.


A rampa quando bem-feita, com conhecimento e participação de pessoas com

deficiência, nos iguala e quando o mundo entender isso, entenderá muito mais

sobre humanidade. Entenderá também, que planejar estruturas com

acessibilidade é mais barato que adaptá-la e que garantir esse acesso não é

favor. É obrigação e o justo a se fazer. As pessoas com deficiência já

enfrentam muitas barreiras e é nosso dever de cidadão reduzi-las. Afinal, onde

passa uma pessoa com deficiência passa todo mundo!


Carolina Ignarra para a coluna Corpos Sem Filtro

Carolina é CEO do Grupo Talento Incluir

Encontre-a no Instagram: @carolinaignarra


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