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“Pau que nasce torto, morre torto”



Certamente, todos já ouvimos essa frase. No meu caso, ela remete à minha própria infância, pois sempre fui uma criança cheia de medos e sentia vergonha de mim mesma. Tão pequena, então com dez anos, ainda no quarto ano do ensino fundamental, tinha consciência de que era diferente de meus amigos, que aprendiam em um piscar de olhos, enquanto eu não entendia o que era ensinado. E a cereja do bolo era a professora, que, por vezes, apontava seu dedo em minha direção, sempre destacando meus erros aos colegas e demais professores ao verbalizar: “Essa não tem jeito, pobrezinha. Nunca entende nada do que eu falo e não vai chegar a lugar algum”.


Só faltou o carimbo na testa: condenada!

Mesmo com pouca consciência, já naquela época eu questionava o porquê de ter nascido assim, com tanta dificuldade para aprender. Na hora de agradecer a Deus pelo dia, sempre pensava: se Ele criou todos iguais sob Sua forma e semelhança, por que o raio caiu bem na minha cabeça? Depois de tantos questionamentos e cobranças, as coisas foram mudando, e Deus colocou em meu caminho verdadeiros professores: aqueles que se entregam de corpo e alma e dedicam-se incansavelmente a ensinar quem está disposto a aprender, independentemente da dificuldade que apresentem. Assim, conseguiram tocar minha alma de menina.


Esses professores levaram em consideração as interações sociais e a qualidade de estimulações de que eu precisava, elaboraram com cuidado processos de aprendizagem, identificaram meus atrasos (mas também minhas potencialidades), e assim fui avançando. Os mestres levaram em conta minha capacidade e não focaram a dificuldade. Com isso, passados os anos, inspirada nesse exemplo, formei-me em Pedagogia e pude abrir portas para outras crianças na mesma situação, levando em conta suas personalidades, seus valores, seus hábitos, suas reações e suas histórias familiares.


O dito popular diz que não se pode esperar nada de quem nasceu “torto”. Não mudará de forma alguma, esse é seu destino e ponto. Em cada canto deste nosso país, histórias como essa compõem o corpo discente. Por isso, os educadores precisam aprender a identificar as aptidões de seus alunos e a desenvolver a aprendizagem, desde o primeiro contato do sujeito com o mundo e estendendo-se por toda a vida. Assim, pau que nasce torto tem conserto e precisa de uma boa dose de carinho, de um olhar mais apurado e de pessoas que intervenham carregadas na alma com a essência do que é verdadeiramente ensinar. Consulte sempre um verdadeiro educador para que não se condene o “torto”.


Ismênia Ribeiro para a coluna Universo feminino

Encontre-a no instagram: @direcionar.educa

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