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Saber envelhecer

Este é o título de um livro escrito há mais de 2 mil anos, pelo filósofo romano Marco Túlio Cícero. Muitos pensadores da antiguidade se debruçaram sobre este tema: os chineses Lao-Tse e Confúcio, que até hoje influenciam a visão oriental de respeito aos idosos; Sócrates, que argumentava que a velhice saudável e tranquila dependia mais do caráter do indivíduo e como ele se prepara para ela desde a juventude, ideia que Aristóteles compartilhava, acrescentando ainda que a boa velhice era aquela sem enfermidades... sim, porque um pouco de sorte é necessário na vida (observação minha rs).


Cícero dedicou todo um livro ao tema da velhice, com conceitos que me chamaram muito a atenção, pois refletem o que penso sobre este processo que estamos vivendo, eu e vocês, leitoras 50+. Ele fazia parte do estoicismo, que é uma corrente de pensamento que ensina a viver em harmonia com a natureza e consigo mesmo. Portanto, ele defende que devemos “consentir pacificamente” com a velhice, já que é uma determinação da natureza. Como dizemos hoje em dia: a alternativa é pior. Mas este “consentir pacificamente” de Cícero não significa que devemos nos entregar aos males que a velhice traz, muito menos reclamar sobre o envelhecimento: “Todos os homens desejam alcançá-la, mas, ao ficarem velhos, lamentam-se.” Ele pega pesado nessa questão, dizendo que não é à velhice que devemos culpar, mas a nós mesmos, especialmente quando a lamentamos, já que “os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos suportam facilmente a velhice, ao passo que a acrimônia, o temperamento triste e a rabugice são deploráveis em qualquer idade.” Ui!


Mas é claro que a velhice traz problemas que não podemos ignorar. Cícero elencou as razões pelas quais poderíamos questionar esta visão positiva da velhice, e colocou seus argumentos. A mais evidente de todas, e maior motivo de queixas que escuto, é a gradual diminuição da vida ativa, até que a pessoa fique inerte, apagada para o mundo. Cícero argumenta que “não há assuntos públicos que, mesmo sem força física, os velhos não possam  perfeitamente conduzir graças à sua inteligência”, pois “não são nem a força, nem a agilidade física, nem a rapidez que autorizam as grandes façanhas”, mas sim “a sabedoria, a clarividência, o discernimento”, qualidades próprias da velhice, segundo ele. Relembrando Platão, que faleceu aos 80 anos ainda ativo intelectualmente, ele coloca que o estudo e o trabalho evitam “a aproximação sub-reptícia da velhice” e, “em vez de sermos brutalmente atacados pela idade, é aos poucos que nos extinguimos.”  Isso é o que defendo quando tentam nos colocar em uma posição passiva, ou invisível na sociedade; ou até mesmo quando amigas e seguidoras se deixam levar pelo desânimo. Estamos na fase da vida em que acumulamos mais sabedoria, temos o nosso valor, e devemos colocar em prática nossos saberes, nossos sonhos, nossos desejos, na medida do possível, sempre!


Temos uma inevitável deterioração do corpo que, mesmo que não seja paralisante, nos limita, e muito, nas tarefas mais corriqueiras. É a hora de usar a experiência adquirida com os anos para buscar alternativas para viver a vida o mais intensamente possível. O nosso melhor momento é agora, é o que temos! Achei reconfortante encontrar nas palavras de Cícero eco para meus argumentos. Segundo o filósofo,  “a vida segue um curso muito preciso e a natureza dota cada idade de qualidades próprias. Por isso a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas naturais que devemos apreciar cada uma em seu tempo.” A arte de envelhecer é encontrar o prazer que todas as idades proporcionam, pois todas têm as suas virtudes.


Dei só um aperitivo das teses que Cícero desenvolveu sobre o envelhecimento, recomendo muito que vocês busquem mais fontes e estudos sobre o tema. E finalizo com um pensamento do filósofo que já virou um mantra para mim:


“A velhice somente será honrada na medida em que resiste, afirma seu direito, não deixa ninguém roubar-lhe seu poder.”


Ana Lúcia Leitão para a coluna 50+

Encontre-a no Instagram: @aninhaleitao2


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