Estava relendo minhas colunas anteriores, e numa delas estava escrito “estou velha (no bom sentido)” Eita! Me bateu na hora como uma frase etarista, será que ainda caio nas armadilhas da cultura social, sendo que eu mesma sou vítima dela? Fato que é bem difícil a gente se livrar de vários comportamentos para os quais fomos moldados desde a infância.
Várias expressões racistas e machistas que eram absolutamente normais há alguns anos vem sendo questionadas, fazendo a gente pensar sobre o seu verdadeiro sentido e contexto. Muita gente diz que o mundo está chato, mas chato mesmo era repetir bordões que, inocentemente, reforçavam conceitos que desrespeitam as pessoas.
Sobre a velhice, o debate sobre o preconceito embutido nas entrelinhas do discurso social já começou, mas ainda engatinha. O termo ‘velho’, por exemplo, divide opiniões.
prefiro ser chamada de velha do que de idosa
Participo de um grupo de mulheres 40+ onde várias rejeitam a palavra, porque associam a ela algo antiquado, descartável. Já a maravilhosa antropóloga Mirian Goldenberg resgata a palavra para designar o grupo de pessoas mais velhas. Com seu bordão “Velho é lindo”, ela procura desestigmatizar não só o termo, como também nós próprios, que já passamos dos 50 anos.
Eu gosto desse movimento, prefiro ser chamada de velha do que de idosa, esta sim é uma palavra que acho feia, tem um peso nela que nos encurva ainda mais as costas, é como se viesse acompanhada de uma bengala... Há quem use o termo ‘maduro’ para nos designar. É politicamente correto, mas tão sem emoção!
E foi assim que a velha aqui se pegou pensando no porquê colocou um sentido, bom e mau, no termo ‘velha’. Talvez o mau sentido seja justamente este que tentamos combater, o de que ‘velho’ é aquilo que não serve mais, que pode ser jogado fora. Ou morrer, para não dar despesa para o seguro social. Mas este conceito não está na palavra em si, está na própria sociedade, que desrespeita a história, a memória e, por consequência, a faixa etária que representa a experiência acumulada, a vivência que pode ser fonte de aprendizado. Um ditado também velho dizia: respeitem a voz da experiência! Eu sei, os idiotas também envelhecem, mas no geral creio que todos aprendemos com os anos e com as tolices cometidas.
O que eu queria mesmo era que toda esta discussão não tivesse sentido, porque as pessoas estariam mais preocupadas em viver suas vidas do que ficar julgando os outros. Mas já que o etarismo é uma realidade, e sofremos as consequências na pele, vamos mudar o sentido desse caminho, mostrando com atitudes que, não importa por qual nome nos chamem, nós estamos jogando o jogo da vida com energia. Para ganhar, a cada dia, um novo fôlego para continuar.
Ana Lucia Leitão para a coluna 50+
Encontre-a no Instagram: @aninhaleitao2
Citado no texto:
* Antropóloga Mirian Goldenberg: @miriangoldenberg