Bahia
- flaviasantosalbuquerque
- há 4 dias
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Única, para ser muitas
Já desejei por uma vida livre a um relacionamento sério
Observava o ir e vir de minhas amigas numa real e concreta inveja,
Não sei se era meu casamento atual ou ainda os casamentos que tive antes, sempre me vi e me sujeitei a um lugar menor do que aquelas mulheres livres e até os homens que tive ao meu lado, a sensação que eu tinha era de não ser tão interessante quanto eles.
Há um ano me separei ou melhor, meu marido, tomou a decisão de ir embora
Entrou em uma ciranda de amor e sexo que não quis mais olhar pra trás, ficando apenas eu e meu filho pequeno, na minha desejada solteirice e todas as dores que eu jamais pude imaginar que existiam.
Nunca tive coragem em me separar, desde a adolescência foi assim, sempre terminavam comigo, sofria com a dor mesmo sabendo que eu também não queria mais estar ali.
Cresci assim, esperando ser desejada pelo desejo do outro.
Nunca fui óbvia, até porque, nunca fui linda e em minha família era um
pré-requisito de sucesso: a beleza! Então, fui em busca da minha.
Pouco importava se era inteligente, viajada, culta. Necessário era apenas ser bela e magra, sim magra também.
Mas não me enquadrei, busquei atrás de um cabelo desgrenhado longo, que por muitas vezes era para esconder o nariz grande que se tornou um charme, um olhar que atravessava o chão escondendo uma timidez e camuflando uma insegurança.
Mas sobrevivi, a mim e a eles... família, tempo, homens. E sigo sobrevivendo ao longo dos meus 43 anos.
Nascida em cidade pequena, daquelas onde todos se conhecem, um armazém e um ponto de jogo de bicho, lembro até hoje que desde que comecei a entender de números, ia ao seu João Oscar fazer uma fezinha, número 4 era meu número da sorte, cobra na cabeça dizia ele.
Nunca gostei de lá, chovia tanto que as paredes da casa de meu pai escorriam água, pareciam chorar por dentro de tristeza.
Gola alta, nariz vermelho, nossos corpos de meninas e meninos querendo descobrir a vida, mas eram cobertos por roupas que pareciam mais armaduras para cobrir nossos possíveis desejos.
Recordo de sentir meu corpo junto com a primavera, nos dias mais quentes da estação, primeira vez em que toquei meu peito com mais demora eles já estavam grandes, vastos com mamilo vivo feito uma flor desabrochada.
Mulheres nascidas no frio se descobrem mais tarde, se escondem por debaixo de seus panos, possivelmente uma descoberta diferente das mulheres nascidas regadas pelo sol, talvez elas tenham tido mais tempo de se demorar em suas carnes, meninas mulheres de terras quentes.
Sempre senti muito frio, devia ser pelo meu frio da alma.
Assim que pude, fugi pra Bahia, com meu filho embaixo do braço.
Na Bahia eu sinto tudo mas, a primeira coisa que fiz foi abandonar meu sutiã, não quero mais nada que me prenda, inclusive tecidos que me apertem.
Me apropriei da mulher que um dia desejei ser, agora na minha cama somente com tempo determinado para ir embora.
O sol me acendeu e aqui descobri que sou filha de santo e às sextas-feiras eu visto branco.
Aqui aprendi gostar do profano, das safadezas da pele, do que o diabo gosta.
Tomo cerveja e rio alto, me excito com mulheres e homens.
Dia desses tomando uma, encontrei Benedito, sujeito alto, magro, mas um tipo esnobe. Não me viu, mas eu quis ser vista. Levantei de minha mesa e esbarrei sem querer em sua mão. Me abri como um pavão macho ao querer cortejar uma fêmea. Abri meu rabo e ascendi meu fogo.
Na quinta quis passar de novo na feira onde ele estava, dei com os burros na água, gastei meu último toco de batom vermelho, ele não estava lá mas, fingi um graças a Deus.
Saí baixa, fazia tempo que queria um olhar que me pelasse inteira, peladinha mesmo, no pelo, os pubianos todos arrepiados e os bicos do peito em riste.
Desiste do tal Benedito, vai que é brocha mesmo com nome de santo, com certeza a mãe criou para ser coroinha e fazer carreira de padre.
Me refiz, aproveitei meu resto de batom e chamei umas amigas para dançar feito o diabo e já fui logo avisando que íamos beber até cair.
Um cisco no olho borrou minha maquiagem e acabei no banheiro do bar.
Barzinho moderno, sem essa de banheiro separado. Uma porta só para homens e mulheres.
Mexi no trinco nada, duas batinhas nada, aí que a porta se abriu.
A voz grave diz um “Oi” meio baixo, Bene... Benedito, naquela hora até gaga eu fiquei, os dois, olho no olho, um calor desses que diz a física que se dá no encontro de dois corpos, calorão do caralho que dá lá na buceta e só quem já sentiu entende. Daí que os olhos baixaram, tirei os meus dos dele e dei de cara direto com o pau, duro, teso.
Nem deu tempo que ele visse meu batom, foi logo metendo a língua dentro da minha boca, sem nem dizer uma palavra.
Aquilo ali já era antigo, tesão de alma, um reencontro.
A gente não disse, a gente sentiu. Sentiu nossos corpos se contorcendo feito um só dentro daquele banheirinho sujo e pequeno.
Caetano cantava, ele gemia no fundo “deixe que minha mão errante adentre. Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre...” minha alma sorriu pensando que o roteirista tinha escrito aquela cena com muito capricho.
Tomei um banho com seu suor, ele me cravava os dedos com leveza, parecia tocar uma pétala de flor sensível, e me disse: ‘’sente, você merece.’’
Estou sentindo! Com meus olhos abertos sem querer perder nenhum minuto daquele nosso palco, teu olhar intenso, me via nos olhos dele, no teu prazer eu vejo o meu – nós autorizamos aquela putaria toda.
Me fez gozar primeiro, queria que eu gozasse em seus dedos, para sentir meu gozo depois na sua boca, enquanto chupava dedo a dedo me olhando fundo. Aí sim, ele gozou, lembro daquele pau grande, duro, firme pingando porra entre minhas pernas e barriga.
Toquei seu rosto e disse: te quero de novo!
Sorri, com a segurança de quem estava escolhendo pela primeira vez em uma vida inteira. Não esperei por ele, escolhi por nós.
Seguimos nos vendo, por um tempo.
Até eu trocar Benedito por Amanda...
Gabriela Prux para a coluna Papo de Bordel
Encontre-a no Instagram: @gabiprux
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