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Desromantize o Dia da Mulher


Bom, nunca menti para vocês. Estou aqui para desconstruir muitas coisas e não farei diferente porque as pessoas acreditam que o dia da mulher é um dia de vitória. Para mim, em especial, o dia da mulher é o dia em que “me casei”, e está entre aspas porque teoricamente é o dia em que deixei a casa da minha mãe, onde sempre morei, e fui morar com o meu namorado. Pronto, isso já dura 16 anos. E para deixar a situação mais desromantizada possível, escolhemos essa data porque era feriado, seria mais fácil para os dois realizar uma mudança. 


Então, para mim, o dia das mulheres é o dia que completo mais um ano de casada. Entretanto, vamos ao que importa? O dia das mulheres. Tão lindo! Recebemos mensagens prontas e nossos companheiros, ou companheiras, nos enviam flores, dizem coisas legais, alguns enaltecem essa figura única que faz toda a dif


erença em sua vida. Quer uma verdade nua e crua? Então sente que vou desromantizar a idei


a de vez. 


Primeiro: vamos pensar há quanto tempo nós mulheres lutamos por direitos que, legalmente temos, mas que nunca nos foram dados? Temos direitos a salários iguais, igualdade na competição de vagas, temos direitos a respeito dentro do ambiente de trabalho e fora dele, e agora me digam, quando de fato nos deram isso? Nunca. 


E eu preciso estar aqui dizendo isso para vocês? Não. Basta cada um olhar para a própria vida e então no dia 08 de março as rosas recebidas despertarão a mesma raiva que sempre despertou em mim. Eu não quero rosas, eu quero respeito, equidade, chances, quero poder fazer escolhas, como ser mãe e não ter que me justificar com o mundo por causa disso, quero que o governo do meu país, olhe para mim, mulher, e me diga: você tem todo o suporte que precisa para tornar isso possível. 


Mas o que nós temos é uma sociedade machista que


nos diz que se você quer ser mãe não pode ser profissional, que os dois não cabem no mesmo mundo. Acreditem, minha babá engravidou e ela sonhava com isso, mas eu ouvi pessoas me dizerem que eu deveria demiti-la e escolher uma sem filhos, pois meu trabalho deveria ser mais importante do que a necessidade dela em criar os próprios filhos, isso, lógico, com elas, e digo elas porque ouvi isso de mulheres,  que sequer pensaram no tanto q


ue essa pessoa ao longo de seis anos, se sacrificou para criar os meus filhos enquanto eu trabalhava. 


Eu ouvi mulheres que me disseram que ela, minha babá, não poderia ter mais filhos, como se eu ou ela, a pessoa que falou, tivéssemos direito de interferir nessa decisão. Ouvi que se ela não consegue consulta aos sábados, que é quando ela não está cuidando do meu filho, que então faça um plano de saúde, sem levar em consideração que não existe como ganhar um salário-mínimo, ter casa, família, filhos e plano de saúde. A conta não fecha. 


Então, amores, não existe dia das mulheres. Não somos guerreiras enaltecidas neste dia. Nós somos  as sobreviventes. As que mesmo com todas as ondas vindo em nossa direção com força, remamos para não morrermos afogadas. Nem flores, nem palavras, nem abraços e declarações em redes sociais suprimem o que nos faz nos trancar em um banheiro e chorar, porque sabemos que como mulheres


, precisamos ser tudo e quando digo tudo, é tudo! Até mesmo o saco de pancadas que a sociedade não deixará de bater. 


Sabe quando conseguiremos, no Brasil, festejarmos esta data? Quando você souber que entrou em um ônibus lotado e ninguém tentou te passar a mão ou se aproveitar disso. Quando você chegar ao seu trabalho e souber que está tudo lindo, porque você e seu colega, homem, que tem o mesmo tanto de estudo que você, são valorizados pelos seus esforços e ganham a mesma coisa. Quando você souber que pode sair as oito da manhã e ser a profissional que sempre sonhou porque existe um suporte fantásticos, seja por creches do governo, incentivos do trabalho, espaços onde nossos filhos possam crescer lindos e seguros, enquanto salvamos a economia do país. 


Festejaremos esse dia quando no horário correto, chegarmos em casa, com as atividades divididas corretamente, sem sobrecarga, sem um terceiro turno, sem o peso da vida que já é imenso durante o dia. E principalmente, sem o medo que nos acompanha dos momento em que colocamos nossos pés na rua até a hora em que fechamos a porta de casa atrás de nós. 



Esse sim será o dia em que festejaremos. Por enquanto, já que é para quebrar todo o encanto, abrace seu filho, eduque da forma certa, mude de dentro para que um dia isso seja uma realidade. 


E as rosas? Bom, eu não as aceito se durante todos os outros dias do ano foram diferentes. 

Dia 08 de março para mim é dia de luta, porque ela não terminou quando em 1908,1500 mulheres nos EUA se reuniram para reivindicar a igualdade,  nem em 1909 quando as mulheres fecharam 500 fábricas com seus protestos. Definitivamente não acabou em 1910 com a oficialização da data para comemorar o direito da mulher e nem em  1911 com a morte de 130 operárias. E sequer acabou quando a ONU definiu a existência de necessidade de igualdade entre homens e mulheres. 


Então, amigas, não acabou. Lute como uma menina, porque somos mais. 


Tatiana Amaral para a coluna Empoderamento Feminino


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