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Dor na relação: quando o corpo diz o que a boca não consegue

Mulher, você lembra da primeira vez que percebeu que algo estava diferente? Talvez tenha sido num toque, num olhar, ou naquele instante em que o prazer virou receio. Você tentou disfarçar. Disse a si mesma que era normal, que passaria com o tempo. Mas o corpo, esse sábio mensageiro, começou a falar, e o que ele dizia era simples e profundo: tem algo em mim que precisa ser ouvido.

A dor na relação sexual é um grito silencioso. Ela mora entre as pernas, mas nasce muito antes, em cada momento em que você precisou se calar, se adaptar, se enrijecer. É o corpo tentando proteger o que a mente já não consegue nomear. Atendo diariamente mulheres que chegam com a mesma expressão: um misto de vergonha e esperança. 

Elas me dizem: “Dói, mas acho que é normal.” “Meu médico disse que é psicológico.” “Desde o parto, nunca mais foi igual.”

E quando eu as escuto, percebo que por trás de cada relato há uma história: de entrega, de culpa, de sobrevivência e, acima de tudo, de desconexão.


O corpo fala o que a boca cala


A pelve é um território de memórias. Ela guarda as dores, os toques invasivos, as pressas, as culpas, os “não quero” engolidos. Cada vez que uma mulher aperta o abdômen para caber em um padrão, segura o xixi porque está ocupada demais, ou finge prazer para evitar conflito, ela ensina seu corpo a se contrair. E esse corpo, treinado para se defender, depois não sabe mais se entregar.

A penetração, que deveria ser um encontro de presença e prazer, passa a ser percebida como uma ameaça. A dor aparece, não como inimiga, mas como um pedido de pausa. Um pedido para olhar para dentro e perguntar: o que em mim ainda precisa relaxar?


O prazer que adormeceu com o medo


A dor na relação (chamada dispareunia) e a dificuldade de permitir a penetração (vaginismo) têm causas que vão muito além do físico. Podem envolver traumas emocionais, tensão muscular crônica, desequilíbrios hormonais do pós-parto ou da menopausa, e até a forma como a mulher se relaciona com o próprio prazer.

Quando o corpo sente medo, ele contrai. Quando a mente associa o sexo à dor, o corpo obedece. E quando não há escuta, o prazer se apaga, não porque some, mas porque se protege.

É comum que essas mulheres sintam culpa, vergonha ou até a sensação de não serem mais as mesmas. Mas o prazer não morre. Ele apenas adormece. E com o cuidado certo, ele desperta de novo.


A fisioterapia pélvica como ponte para o reencontro


O tratamento não é apenas técnico, é humano. Na fisioterapia pélvica, trabalhamos com toques conscientes, exercícios de respiração, reeducação da musculatura e tecnologias como o biofeedback. Mas o que realmente transforma é o olhar.

É o espaço onde a mulher pode dizer “dói” e ser acolhida, não julgada. Onde ela reaprende a habitar o próprio corpo com curiosidade e não com medo.

A reabilitação do prazer começa quando ela entende que não é fraca, nem exagerada, nem difícil. Ela apenas carregou demais, e agora, o corpo pede leveza.


O despertar do prazer é o despertar de si


Curar a dor na relação é, no fundo, curar a relação consigo mesma. É reencontrar o toque sem culpa, a respiração sem pressa, a entrega sem medo. É olhar para o espelho e reconhecer que prazer não é luxo. É saúde, é conexão, é direito.

Quando uma mulher volta a sentir prazer, não é apenas o corpo que floresce, é a alma que se reconecta à própria força. Porque o prazer é isso: uma forma de voltar para casa.

E toda mulher merece voltar para si.


Mirella Bravo para a coluna Saúde Íntima

Encontre-a no Instagram: @mirellabravofisio


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