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Entre o sonho, a realidade e a culpa de não ser boa o suficiente

Diante do convite das editoras-chefes para integrar a coluna Empoderamento no site, me permiti ficar em perplexo estado de assombro. Se minha memória não me prega peça, eu pensei em recusar. Fiquei semanas tentando aceitar o fato de que, de alguma forma, eu havia me tornado boa naquilo que outrora achava que não era tão boa assim.


A incerteza partiu de um lugar. O veredicto veio de meu professor de Técnicas de Reportagem, que depois de me passar um trabalho ao qual eu fiz e entreguei sem revisar, com a certeza de que estava bom, me disse “Tati, você tem presença, fala bem, mas seu texto é uma merda”. Ele nem se alongou e saiu andando. Isso gerou uma ruptura sem precedentes, bloqueando toda e qualquer liberdade criativa que eu tinha até ali.


É irônico pensar que eu mesmo aterrorizada, vivendo sob o medo de escrever qualquer coisa enquanto estudante de jornalismo, obviamente, precisei continuar escrevendo. Eu carreguei o pesado fardo da incerteza que não me levou à lugar nenhum a não ser perder boas oportunidades de crescimento profissional. O ponto é justamente esse. Todas as dúvidas nascem do mesmo buraco. Um vão entre a confiança e a falta de autoconhecimento.


Quantas coisas deixamos de fazer por desconhecer nossos talentos, nossas potencialidades? Quanto tempo do nosso dia passamos sentindo sensação de angústia e ansiedade silenciosamente por não darmos ouvidos aos nossos próprios sonhos e desejos? Com que idade você parou de se imaginar nos espaços? Sabe, aquele sonho de criança que você se imagina ganhando um óscar ou coisa assim?


Particularmente, sou uma pessoa radical. Tendo à radicalidades, aos extremos. No sentido etimológico mesmo, de querer ter raiz e estar sempre no máximo. E o resultado foi que eu fui estudar mais português. Eu comprei livros de gramática, me matriculei em cursos de escrita, cheguei a fazer um período no curso de Letras – Literatura. Não era preciso nada daquilo, bastava somente ouvir meu eu interno. Eu sempre escrevi bem, eu só precisava mesmo de ajustes.

No fim, tudo pode ser resumir a suavidade de um pequeno ajuste. Ajustes inclusive no que deixamos ou não entrar na nossa mente.

Autopercepção é como uma mãe que nos dá colo quando arranjamos confusão na rua. No fim, tudo pode ser resumir a suavidade de um pequeno ajuste. Ajustes inclusive no que deixamos ou não entrar na nossa mente. Então, a regra número um dessa coluna que se chama Empoderamento é: este espaço deve servir para que possamos nos empoderar coletivamente.


Portanto, eu quero saber quem é você, antes de saber o que você faz. Certamente, as coisas que você faz devem ser interessantíssimas, mas você continuará sendo alguém aos meus olhos, ainda que esteja parada, sem nada a fazer e sentada à meio fio no paralelepípedo da sua rua. Empoderamento é a ferramenta da ousadia para as mulheres. Que tal começarmos por “qual é a sua cor favorita, ao invés de, com o que você trabalha?”.


Oi, eu sou a Tatiane Alves, minha cor favorita é o azul e vou estar regularmente por aqui a partir dessa publicação. Um agradecimento especial e um beijo doce nas editoras-chefes que viram potencial em mim, me permitiram acolher meu próprio medo que num fim dramático deu uma gargalhada de si mesma um dia desses e me disse “Tati, você não pode perder essa oportunidade, vai lá e escreve, ser feliz é não se levar a tão sério”. Pois é, meu medo é muito sábio. Um abraço em todas e até a próxima coluna.

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