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Nem lutar nem fugir, se unir!


Desde que o mundo é mundo, nós, seres humanos, reagimos às adversidades da vida lutando ou fugindo. Tem gente que é combativa, explosiva, e tem gente que corre, foge, se esconde. Antigamente, diante de um invasor ou um animal ameaçador demais, a gente corria mesmo, em busca de um lugar seguro. Hoje em dia, tirando os desafios de um maluco que queira nos atacar fisicamente, a gente foge mesmo é para dentro, se trancando debaixo de camadas e camadas de defesas psíquicas e subterfúgios conscientes e inconscientes.


Quem dera durante uma reunião de família, quando a gente se sente atacado, ofendido, não ouvido ou frustrado, a gente pudesse sair correndo para não arremessar a coxa do peru de Natal. Como correr dali vai fazer a gente parecer inadequado, e arremessar qualquer coisa também é impensável, a gente, para não brigar, costuma usar as poucas alternativas que parecem menos bizarras, mas nem por isso costumam ser eficientes, que são: fazer o jogo das palavras ácidas, ser sarcástico ou passivo-agressivo, ou nos calar, engolindo a raiva, a ofensa, com espinho e tudo, e fazendo de conta que não está doendo.


Nem preciso dizer que qualquer uma dessas alternativas vai trazer um efeito rebote imenso e intenso, seja ele a curto ou a longo prazo. O nosso normal é estruturalmente desajustado para a grande maioria dos eventos desafiadores na nossa geração. Sim, existem situações em que a nossa segurança física depende de lutarmos para nos defender ou fugirmos, mas, quando não há uma violência física iminente, poderíamos ser mais estratégicos nas escolhas das nossas reações em vez de nos deixarmos levar tanto pelo automático.


Quando pensei em escrever este texto, uma onda de esperança me invadiu. Talvez você me chame de Poliana, de ingênua, de maluca, mas e se, em vez de nos sentirmos tão solitárias diante dos nossos desafios e frustrações, a gente pudesse contar de verdade umas com as outras?


E se, em vez de lutar ou fugir, a gente pudesse se unir?


Como seria a nossa vida se não tivéssemos medo o tempo todo de não sermos boas o suficiente, de não darmos conta da vida, de nós mesmas e dos nossos filhos? Não, talvez você não perceba que esses medos nos habitam, ou talvez você se sinta numa areia movediça por causa deles; de qualquer forma, eles estão, sim, presentes, seja na superfície da consciência ou nas profundezas do inconsciente.


A sororidade nos acolhe de fora para dentro à primeira vista, mas de verdade ela nos acolhe também internamente, pois parte de um lugar muito especial de não julgamento.


"A sororidade nos acolhe de fora para dentro à primeira vista, mas de verdade ela nos acolhe também internamente, pois parte de um lugar muito especial de não julgamento."

E, verdadeiramente, só somos capazes de não julgar outra pessoa quando somos capazes de nos acolher nas nossas próprias falhas, nas nossas dores e nas nossas tantas culpas que nos são imputadas todos os dias nas nossas vidas.


Quando a dor bater à sua porta, quando a culpa te invadir, quando o medo se apresentar, respire amor, compaixão e perdão, e busque a união. Ninguém se cura sozinha, ninguém prospera sozinha, ninguém se ama de verdade sem também ser capaz de amar o próximo.


Desejo tanto, tanto que nosso DNA se ajuste um tiquinho que seja, a cada geração que vai e que chega, para que a gente possa contar não apenas com o fugir e o lutar, mas também com o UNIR e o CONTAR com alguém. No dia em que isso acontecer, certamente viveremos em uma sociedade muito mais justa, gentil e amorosa neste planeta.



Fabi Guntovitch para a Revista MS

Disponível nas colunas:

Universo feminino


Encontre-a no Instagram: @fabianaguntovitch

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